O discurso
Sem dúvida as causas básicas da criminalidade, da violência e do tráfico de drogas são devidas ao profundo desnível social entre as camadas populacionais. No entanto, não se pode considerar como desprezível, em termos da conduta dos indivíduos, o surto corruptivo que tem assolado o país nos últimos tempos. E que, devemos reconhecer, de uma forma ou de outra tem sido divulgado e merecido certa apuração, apesar das contrariedades eclodidas nos meios governista e oposicionista.
Se pensarmos bem, não se fala mais agora em desvios de recursos públicos da ordem de 500 mil ou no máximo 1 milhão de reais. Fala-se comumente em milhões, e às vezes até bilhões... de dólares. É uma avidez sem limites.
Uma pessoa com R$ 300 mil no banco vive razoavelmente bem, se continuar vivendo como conseguia sem os 300 mil que conseguiu acertar na loteria, por exemplo. Então 1 milhão de reais é muito dinheiro, não é preciso ter mais.
Esses casos de corrupção são desastrosos porque sugerem às pessoas que o roubo ou a malversação do dinheiro do povo é a maneira correta de se proceder. Dessa forma, o crime tende a se disseminar a partir dos ilícitos cometidos pelas pessoas de colarinho branco, paletó e gravata. Os maus exemplos, infelizmente, existem também para serem imitados.
Por isso a impunidade é um mal de alta corrosão. Pois favorece a destruição paulatina dos valores éticos e morais cuja observação por todos representa o equilíbrio social harmonioso necessário ao engrandecimento pessoal e da nação.
Seria imprescindível que esses rumorosos casos de corrução, que se repetem de forma despudorada a cada dia, fossem todos apurados, independentemente da importância das pessoas envolvidas, e que seus responsáveis fossem devidamente punidos. Para que esse tipo de atitude não servisse de estímulo a práticas semelhantes por parte dos diferentes segmentos que compõem o extrato social.
Reportemo-nos de novo à Indonésia. Depois da condenação à morte dos dois brasileiros que tentaram entrar nesse país com certa quantidade de drogas, é possível que nenhum outro brasileiro tenha, pelo menos por enquanto, a mesma iniciativa. Os casos de corrupção não precisariam ter a pena de morte como punição máxima. Mas seria recomendável algo que se aproximasse disso no objetivo de conter um pouco a propagação desse vírus.
Essa falação, ouvida pouco depois da hora da Ave-Maria – que hoje já não existe –, teria a mesma importância de um discurso feito à beira do túmulo de alguém à hora do seu enterro ou do discurso feito por qualquer paraninfo diante de uma turma de formandos na cerimônia de colação de grau.
Rio, 11/01/2016