Cinquenta tons de cinza e a sexualidade da mulher brasileira

O que explica o fenômeno do sucesso de bilheteria de filmes como "Cinquenta tons de cinza"?

Quando vi nas fotos das filas dos cinemas Brasil afora garotas de dezoito, dezenove anos, pensei esta ser uma boa maneira delas descobrirem novas formas de prazer e experimentá-las. Mas quando notei nas mesmas filas presença de mulheres de trinta, quarenta anos, logo pensei que havia algo de muito sério acontecendo. Qual o interesse destas mulheres mais maduras?

Quantas não foram as mulheres, mesmo aquelas que não tem o hábito da leitura, que compraram o livro somente para provocar ciúme no marido? Quantas não contaram, com certo orgulho até, que o parceiro as proibiu a leitura. Sim, dizer com orgulho. Que as proibiu. Proibição. A proibição, a imposição, o autoritarismo causando orgulho nas mulheres, que pensam que a proibição aconteceu por causa do ciúme, ou seja, porque os maridos as amam. Santa ilusão.

Sugiro um teste: mostre o livro ou faça assistir ao filme uma mulher sexualmente resolvida. Mas resolvida mesmo, com todas as letras. Aquela que transa com quem quiser, em que posições quiser, com quantos quiser, com que gênero quiser, com quais brinquedos quiser. Imagine alguém assim em frente do "Cinquenta tons". O que ela vai fazer? Fechar o livro. Desligar a TV. Ir embora do cinema antes de vinte minutos de filme, achando tudo muito comum e não entendendo o motivo deste ter se tornado uma febre. Portanto, quem são as pessoas que ficam alucinadas com tal conteúdo? As que nunca viveram algo parecido com aquilo.

Amigas minhas que viram o filme disseram que na vez quando foram assistir, o público era formado somente por mulheres, que saíram da sala de cinema indignadas dizendo coisas como "meu marido / namorado me paga! Ele não faz direito! Tem que aprender umas coisas!".

No final do filme, aquele desfecho que é o mesmo até nos que querem soar ousados: os personagens se casam. Eles se casam! É o "the american way of life" ainda com seu olhar conservador dizendo que mais dia menos dia, as pessoas tem que se casar, criar filhos, trabalhar para sustentar a casa. E a vida sexual apimentada que vá para o diabo. Triste.

Passada a moda, pergunto: o que esta euforia toda gerou de positivo? As mulheres estão tendo agora o direito de transar com mais parceiros? Estão tendo ao menos vida sexual de melhor qualidade mesmo que com o marido? Não creio. Observo as mulheres por onde passo. Escuto as conversas no trabalho, na sorveteria, no ponto de ônibus, na fila do pão. E o que percebo: independente de "Cinquenta tons de cinza", as mulheres continuam infelizes.

José Antônio Dias
Enviado por José Antônio Dias em 01/02/2016
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