VIVA O NOSSO ACERVO PARA O” MUSEU DO AMANHÔ!

“Num pequeno ensaio do meio, porque nenhum “museu” de hoje me inspiraria mais na minha escrita...

Hoje, logo cedo, a imprensa nos informava da inauguração do belíssimo MUSEU DO AMANHÃ, uma obra de vanguarda arquitetônica construída no Rio de Janeiro, ali na cidade maravilhosa sob os braços do Redentor.

O Objetivo: revitalizar às famílias a zona portuária do Rio.

De fato, algo para encher os olhos de emoção, claro, frente à beleza da arte de arquitetar projetos de sonhos, e , como não poderia deixar de ser, nossos representantes máximos, talvez os representantes mais fidedignos do nosso sofrimento social crescente e insustentável, estavam ali, todos pomposos, quebrando faixas protocolares de Homens grandes que fazem e acontecem, e confesso com sensibilidade cidadã, senti ali uma aura meio... “saia justa”.

Algo que nascia tão alegre ...em meio a algumas fácies "de velório".

Bobagem.

Não seria necessário um certo constrangimento subliminar “facial” porque quem governa sabe muito bem, povo mesmo, gostamos é do luxo!

O resto não tem pressa, digo, o resto fundamental.

O prioritário que não aparece assim, tão "aparecidamente!" aos flashs da imprensa, pode (e deve!) ficar para todo o sempre do amanhã que nunca nos chega.

Mesmo que o fundamental seja a vida.

Fundamento meu pensamento: Paralelamente às informações do MUSEU DO AMANHÃ , desde o dia anterior, a imprensa nos mostrava o INACREDITÁVEL caos na Saúde do Rio de Janeiro, que de certa forma é apenas um tomo do caos na saúde do BRASIL.

Ninguém escapa dele. Existem cenas bem piores que nem sempre são mostradas...

Todavia o que ali me chamou a atenção, até como profissional da saúde, sequer foi o fato chato e corriqueiro que continua a pontuar a saúde brasileira, EXATAMENTE como naquele MUSEU DAS GRANDES NOVIDADES DO CAZUZA, as grandes novidades que envelhecem DOENTES sem nunca acontecer: as de que pessoas morrem ao léu das suas sortes, sem atendimento (apesar da avalanche de liminares judiciais impossíveis de se cumprir!), sem leitos de UTI, sem atenção básica muito menos terciária, sem medicamentos que dizimem a vida microscópica que nos mata A CÉU ABERTO, inclusive aquelas que habitam o vetor Aedes Aegipty, o mosquito hoje responsável por uma dengosa geração dolorida de Chikungunya e legada de microcefalia; enfim, não foi nada disso que me chamou a atenção porque tal não é mais novidade alguma.Pertence ao museu do presente passado...com tendência social ao passado sempre presente.

O que me espantou foi assistir, ali na tela, a inépcia dos próprios pacientes e funcionários dum hospital para matarem os ratos e as baratas que brotavam dos ralos, ali mesmo, em meio ao atendimento da instituição. Um sufoco realmente. Matar rato e barata é bem mais trabalhoso que matar mosquitos, senti que sim.

Eu, como mulher fóbica a baratas, quero o exército para matar a mínima baratinha para mim. Afinal, pago impostos...

Hoje em dia, para quem é mais atento às mensagens holísticas que dialogam com a humanidade, é só observar, acreditem, elas aqui nos chegam ao presente em várias metáforas: em lamas, ratos, em cáusticas "biópsias socias", as do abortamento biológico da anatomia do pensamento, em meio a uma infinidade de pífios discursos microcefálicos ineficientes e ineficazes e por aí vai...

Mas quero falar do MUSEU DO AMANHÃ.

Muito bem, o que deixaremos para o tal museu?

Tá difícil saber...ou, talvez nem tanto...

Vejamos: Se partirmos da premissa de que não existe futuro sem presente, ah, daí o museu estará mesmo fadado ao insucesso, mais uma bela obra da arquitetura futurística perdida...à coleção dos nossos museus “elefantes brancos”...de vanguardíssima!

Mas quem disse que não temos presente? Claro que temos!

Para o MUSEU DO AMANHÃ eu enumeraria apenas os principais atos, fatos, fotos e relatos de vida presente, do tudo que poderíamos embalsamar como legados e seqüelas permanentes tatuadas no corpo e na alma de gerações perdidas pelo descaso humanístico dos pseudos cuidadores das gentes: os projéteis perdidos que matam inocentes mais que guerras, a baía da Guanabara repleta de lixo e coliformes fecais a recepcionar as Olimpíadas que decerto elevarão o nosso IDH olímpico, já abaixo do Siri Lanka, a drogadição que habita o infernos das ruas, nosso analfabetismo agigantado, nossa cegueira política, nossas sinapses neuronais Zykadas para sempre, nosso Petróleo estancado do próprio chão, uma bela tapioca da mandioca da terra recheada com "brioches ao povo", nossos mosquitos em crescente pateticamente mobilizando nosso Exército de fronteiras abertas, nosso desmatamentos e nossas queimadas perenes e crescentes , a inacreditável tragédia de Mariana, e claro, para o museu do AMANHÃ, um compêndio fotográfico da tatuagem social dolorosa estampada no tudo que nos foi furtado sorrateiramente pela corrupção sem “fio da meada”,a que canceriza o Brasil, a que nos come vivos! Convenhamos... é pouco não...para o museu do amanhã.

Cazuza então, numa ressuscitação poética, obrigatória e urgente, voltaria reinventado, numa nova versão, ali do seu presente habitat celestial de volta ao inferno do seu ultrapassado MUSEU DAS GRANDES NOVIDADES, este terreno, aquele que ele aqui deixou em seu versejado legado.

E sequer ele acreditaria que o seu verso em EPITÁFIO ao hoje já seria bem outro:

“DO PASSADO MUSEU DAS GRANDES NOVIDADES, para o FUTURO MUSEU DAS NOVIDADES NENHUMA!

Ou, para ser mais eufemística: ao MUSEU DO FUTURO DAS TRISTES SURREALIDADES...

Assim comprovo: Já temos um acervo para lá de surrealista para o nosso MUSEU DO AMANHÃ. Preparemos a exposição com todas as pompas.

Colocaremos nas suas prateleiras o tudo conseqüente do nosso atual tempo verbal:

“AO MUSEU DO FUTURO DO PRETÉRITO”.

Moral do MUSEU DO AMANHÃ?

Não existe futuro algum para ser mostrado...quando não se cuida da vida presente.

Mesmo com toda a patética pompa dos enormes...salvadores da Pátria.

Que o Redentor (que lindo!) jamais FECHE SEUS BRAÇOS aos museus das nossas perenes incongruências....humanas?

Lançado, aqui está o meu pensamento de cidadã brasileira: dentre um minguado acervo de dilapidada cidadania.