O MUNDO TÁ DE PONTA-CABEÇA? (Editado)
Não tem sido fácil a luta que boa parte da humanidade tem travado nos últimos tempos, para sustentar virtudes e instituições ameaçadas de extinção. Os Jornais parecem ser impressos com sangue em vez de tinta. Os noticiários da TV ganharam status de filmes de terror, produzidos em todo o mundo, o nosso mundo. A Terra, criada com o sublime objetivo de abrigar seres humanos em suas provas e expiações, sofre com a degradação constante da natureza, que aqui nos recebeu de braços abertos, disponibilizando alimento, beleza, bem-estar, saúde, paz e mais uma infinidade de benesses.
Corremos atrás do progresso. Não nos bastou a alimentação natural que nos foi concedida. Aprendemos com os irracionais, a matar para comer e decidimos que eles fariam parte da nossa cadeia alimentar. Usamos a clava para machucar e tirar a vida do semelhante.
Veio a necessidade do fogo. Prometeus o roubou de Zeus, nos ensinou a usá-lo e sem demora passamos a utilizá-lo na produção de armas. Queríamos crescer, à custa de invasões, barbáries, genocídios, escravidão, ganância, ausência total de moralidade inclusive nos meios, ditos, religiosos, mas, apesar de todo esse mal, conseguimos chegar a um patamar conhecido como civilização. Uns mais próximos outros nem tanto.
Da clava, passamos pela espada, pelos canhões e chegamos à bomba atômica, ao míssil. Quanta civilidade! Fazemos guerras, matamos inocentes, criamos campos de concentração, armas químicas, mas... Somos civilizados! Continuamos em busca do progresso, em busca da paz, mas fazendo guerras. Ou será que buscamos mesmo é o poder? O mais triste é que em decorrência de todo esse caos acabamos nos afastando do grande objetivo que nos trouxe a este orbe, trabalhar para merecer a terra quando ela se transformar em um planeta de regeneração. Poucos estão sabendo aproveitar essa chance.
A loucura e a descrença parecem reinar sobre a humanidade. Parece que Pandora ainda não se arrependeu de ter mantido a esperança presa em sua caixa.
Será que o mundo está de ponta cabeça?
Essa frenética e incessante corrida em busca do poder acabou levando a humanidade a um desgaste moral, social e ecológico sem precedentes. Observando antigas civilizações, podemos constatar que essa busca tem resultado em consequências extremamente ambíguas. Se por um lado, a ciência tem realizado grandes descobertas, curas, prevenções e a tecnologia tem facilitado a vida das pessoas que detém o privilégio do acesso, por outro, a corrida desenfreada pelo progresso tem causado uma desordem irreparável, com prejuízos incalculáveis.
O ser humano está perdido por aí, em alguma prateleira empoeirada, preso em qualquer envelope que ele mesmo não conseguiu endereçar. Perdeu a identidade. Vive a esmo seguindo a correnteza e em meio a toda essa turbulência, não se encontra mais. A violência, a corrupção e a desonestidade imperam de tal maneira, que as pessoas até sentem-se constrangidas em exercer a honestidade e a cidadania. O homem honesto é mais um ser em extinção. A inversão de valores assumiu proporções homéricas, onde o erro é premiado e a virtude condenada. Onde foi parar o homem de bem que tinha honra na palavra? Teria razão Exupéry ao afirmar que “os homens passaram?”
Não satisfeita em se autodegradar, a humanidade resolveu também devastar o planeta, depredar seu habitat natural. No afã de lucrar sempre, poder mais, de TER e não de SER, entrega-se às vaidades e ambições e destrói como um conquistador impiedoso, tudo que se lhe configura obstáculo aos seus propósitos de dominar, de possuir.
Assim caminha a humanidade por vias tortuosas, perigosas, sem perspectivas de chegar a lugar algum, andando em círculos. Não consegue avançar, está retornando às suas origens primitivas, às barbáries, onde o instinto e não o intelecto ditava seus atos. A clava e a espada foram substituídas por armas mais modernas, mais sofisticadas, além de mais devastadoras.
O mundo mudou, progrediu materialmente, mas o ser humano ávido por fama, poder, sucesso e outras facilidades, esqueceu-se de quem o criou e para que foi criado, então perdeu-se no labirinto que construiu dentro de si e segue procurando sua essência, em lugares que jamais encontrará.
Há uma explicação lógica para isso? Sim, há, mas nada que justifique tamanha decadência. Se Ló por aqui estivesse, por certo estaria vivendo um déjà vu.
Como somos civilizados!
Fátima Almeida
Editado em 26/11/2015
Notas:
A Mitologia grega conta que o Gigante Prometeus (o que pensa antes) obteve licença de Zeus para ensinar aos humanos todos os segredos da agricultura, da pesca, do comércio, da profecia, da astronomia e de tudo o que era necessário ao desenvolvimento da humanidade. Mas ainda lhes faltava o dom do fogo, que Zeus tinha negado aos homens. Então, Prometeus apanhou um ramo e aproximando-o do sol incendiou-o e trouxe o fogo à terra. Contrariado Zeus mandou que Hefesto e os seus servos Crato ("o poder") e Bia ("a violência") acorrentar o gigante a um despenhadeiro do Monte Cáucaso. Mandou depois uma águia devorar-lhe o fígado, que, por ser imortal, se regenerava continuamente, causando-lhe um grande sofrimento. O seu tormento prolongou-se por centenas de anos até que Hércules, com o consentimento de Zeus, matou a águia com uma pedra e libertou Prometeu das correntes.
Fonte: Infopédia
Essa história foi contada pelo poeta grego Hesíodo, que viveu no século VIII a.C. De acordo com a obra, o titã Prometeu presenteou os homens com o fogo para que dominassem a natureza. Zeus, o chefe dos deuses do Olimpo, que havia proibido a entrega desse dom à humanidade, arquitetou sua vingança criando Pandora, a primeira mulher. Antes de enviá-la à Terra, entregou-lhe uma caixa, recomendando que ela jamais fosse aberta pois dentro dela os deuses haviam colocado um arsenal de desgraças para o homem, como a discórdia, a guerra e todas as doenças do corpo e da mente mais um único dom: a esperança.
Vencida pela curiosidade, Pandora acabou abrindo a caixa liberando todos os males no mundo, mas a fechou antes que a esperança pudesse sair.
Fonte: Significados
Ló – uma referência à destruição de Sodoma e Gomorra.