INGLATERRA: Menina cega é proibida de usar bengala na escola

"Eles devem estar loucos", diz a mãe.

(jornal Bristol Post)

Por Michael Yong  |  17/11/2015

Lily-Grace Hooper foi proibida de usar o acessório na escola primária de Hambrook, na cidade de Bristol, Inglaterra. O pedido foi feito à família por razões de segurança.

A aluna, de sete anos, sofreu derrame quando tinha quatro dias de vida. Ela perdeu totalmente a visão do olho direito. Com o esquerdo, vê luzes e cores.

Na escola, recebeu a notícia de que não poderia mais usar a bengala por causa do risco dos professores e colegas de classe nela tropeçarem. Gary Learmonth, funcionário da Sensory Support Service (tradução livre: Serviço de Suporte Sensorial. Entidade que auxilia pessoas com deficiências, tais como visuais e auditivas), realizou pesquisa e concluiu que a bengala colocava em risco pessoas próximas de Lily-Grace e que ela, ao invés de usar o acessório, deveria estar acompanhada de um adulto durante as atividades escolares.

Indignada, a mãe da garota acredita que a filha teria sua autonomia prejudicada e que a presença de um auxiliar a distanciaria dos outros alunos. Pouco antes do Natal do ano passado, ela passou a se orientar por meio de papéis enrolados espalhados pela casa, o que a fez deixar de tropeçar e esbarrar nos móveis.

Lily-Grace usando a bengala pela primeira vez.

Logo depois, ela pediu à mãe uma bengala de presente de Natal. Ganhou uma grande, no início do ano, feita de fibra de vidro, doada por uma entidade para crianças cegas. Lily-Grace começou a usá-la na escola em abril. Kristy, a mãe, contou que o acessório se tornou "uma extensão do braço da filha" e que seu uso é de vital importância. E acrescentou: "minha filha não enxerga, mas tenho lutado para fazê-la acreditar que pode se tornar independente. Quando a escola informou que ela não podia mais levar a bengala, minha única conclusão foi de que eles estão loucos". A mãe afirma que a filha não causou problemas para nenhum colega de classe e nenhum dos pais fez qualquer reclamação. Mãe e filha tem recebido apoio das famílias dos colegas de classe. "Não entendo onde a escola quer chegar. Minha filha se acostumou à bengala em pouco tempo. Precisa dela para ir para a escola, para usar na sala de aula e até para brincar no parquinho. Não tenho qualquer dúvida quanto a estas necessidades. Estão preocupados com a segurança. Mas e na segurança da minha filha, não pensaram?. Gosto da escola, considero-a de boa qualidade, mas esta foi uma medida infeliz. É ridículo. Se você tira a bengala de um adulto cego, isso é considerado discriminação. Com uma criança é a mesma coisa".

Lily-Grace agora usa a bengala fora do horário de aula. Ela também é uma bailarina dedicada. Pertence ao grupo "Flamingo Chicks". A mãe não quer transferi-la, porque a menina gosta muito da escola.

Sarah Murray, fundadora da entidade filantrópica para deficientes visuais Common Sense Canes ensinou Lucas, o filho de 13 anos, a usar bengala quando era bem pequeno. Ele utiliza-se dela as para atividades do dia-a-dia e também para ir para a escola. Ela comentou: "dou todo apoio à Kristy. Esta situação é um absurdo. Uma criança tem que aprender a ser independente, e isso precisa ser ensinado desde muito cedo. Fiquei sabendo que a escola alega motivos de segurança, mas honestamente não consegui entender por que proibiram uma criança tão nova de usar sua bengala". Sarah explicou que a bengala cedida à menina é maior do que recomendada e também mais leve, para que uma criança tenha condições de usá-la. 

Geoff Cox, especialista em segurança, informou: "não há nada no regulamento que proíba uma criança de usar bengala na escola, nem qualquer proibição semelhante. Em casos como estes, é necessário que as pessoas envolvidas conversem para chegar a uma solução que funcione de fato na prática. Espero que o bom senso prevaleça neste caso".

Representantes da Instituição "Blind Children UK" (crianças cegas do Reino Unido) reafirmaram a importância de uma criança com deficiência visual aprender a tornar-se independente ainda com pouca idade. "O uso da bengala faz com que a criança se sinta segura e esta torna-se menos dependente de outras pessoas". Explicaram também que esta intervenção desde bem cedo é vital para que uma criança com deficiência visual possa se locomover com mais confiança e tornar-se um adulto com autonomia. "As bengalas nem sempre são adequadas às crianças e jovens cegos. Mas para aqueles que as utilizam, se forem bem orientados por um especialista, de um modo geral não terão problemas e farão uso seguro delas na escola.

O setor escolar de segurança alegou que a menina deve ser acompanhada por um adulto o dia todo, e se locomover através de corrimões. Ela também foi aconselhada a caminhar com cautela em todos os tipos de superfície, mas especialmente os de pedra e piso úmido - mas sem usar a bengala que possui. O departamento solicitou que ela use uma de cano mais curto, algo que os pais da menina dizem não ser possível, já que ela se acostumou com a bengala mais longa.

Jo Dent, a diretora da escola, informou que o caso será analisado junto com a mãe da aluna. "O funcionário do setor de mobilidade da escola comunicou os riscos de segurança causados pelo uso da bengala apontados pelo levantamento feito pela equipe de segurança. Temos que pensar em todos os alunos, por isso é importante discutirmos a situação antes de tomarmos decisões". A diretora acrescentou que a equipe escolar tem pleno interesse em resolver o problema o mais rápido possível, para chegar a uma resolução junto aos pais de Lily-Grace. "A aluna não foi proibida de trazer a bengala, nós apenas pedimos para que ela não use temporariamente durante as aulas até que possamos chegar a uma conclusão, algo que acreditamos que vai se resolver em poucos dias.

A Blind Children UK, uma das maiores instituições para deficientes visuais do país, ajuda jovens a adquirir locomoção segura e independente. Estes aprendem também a manusear dinheiro e preparar refeições. Podem ser incluídos no programa lições para mobilidade com cadeira de rodas e uso otimizado da baixa visão. O objetivo é dar mais autonomia a crianças e jovens.

 Link para texto original:

http://www.bristolpost.co.uk/Health-safety-gone-mad-Blind-Bristol-girl-banned/story-28185529-detail/story.html

[tradução por Gabriel L. Trizoglio]