O humor é melhor quando limpo

O HUMOR É MELHOR QUANDO LIMPO
Miguel Carqueija


P
ouca coisa existe mais constrangedora que o humor hoje praticado na televisão brasileira. O mínimo que dele se pode dizer é que é machista, tal a super-exposição de micro-saias num mundo onde, afinal, predominam as mulheres de calças compridas. Por outro lado as piadas são chulas, para não dizer sujas, sempre derivando para o sexo vulgar, abjeto.
E no entanto o humor grosso não é engraçado, muito pelo contrário. Normalmente não tem nenhuma graça, só causa repulsa a pessoas sensíveis; o problema é que grande parte do público perdeu a sensibilidade, a noção do que é nobre, e acha graça em coisas reles que nem inteligência possuem. É o mau gosto, o gosto pela vulgaridade.
Mesmo a contragosto vou exemplificar. Uma anedota que ouvi contarem diversas vezes, mas que em si não tem nem originalidade e nem graça, é uma que se refere a dois municípios brasileiros, o de Ponta Grossa e o de Curralinho (curral pequeno). Ora, utilizando o recurso do duplo sentido, a anedota em questão diz apenas que “os rapazes de Ponta Grossa não gostam das garotas de Curralinho”.
Ora me digam se essa idiotice porca apresenta alguma graça que se apresente!
Por outro lado lembro-me quase como se fosse hoje dos bons tempos em que a tv brasileira era razoavelmente limpa e assim também os humorísticos. Uma vez – já não recordo a emissora, o programa e os comediantes – assisti um quadro que até hoje me faz rir quando recordo. Um empresário era procurado em seu escritório pelo dono de um circo em busca de patrocínio. Eles começam a conversar e o capitalista demonstra interesse em conhecer as atrações que o outro tinha para oferecer. O dono do circo chama então o anão.
Entra um sujeito bastante alto.
O empresário, espantado, fala algo assim:
— Esse é o anão? Desse tamanho? Então como deve ser o gigante? O seu circo tem gigante?
— Temos gigante, sim senhor.
— Então eu quero ver esse gigante. Quero ver que tamanho ele tem...
— Que entre o gigante!
E aí entra... um tampinha.
O empresário fica totalmente desconsertado.
— Que negócio é esse? O anão é maior do que o gigante?
— Eu vou explicar, chefe. Esse aqui (apontou para o anão) é o maior anão do mundo. E esse aqui (apontou para o gigante) é o menor gigante do mundo!
Isso é o que se chama uma anedota baseada em falha da lógica (como existem medidas estabelecidas, o maior anão do mundo nunca poderia ser maior que o menor dos gigantes). Mas o fato é que isso me fez rir até hoje.
Não existe necessidade de fazer humor sujo.

Rio de Janeiro, 18 de novembro de 2015.