Belle Époque
 

                Lembro-me quando jovem, bem jovem mesmo, vivia num lugar muito carente, cheio de problemas, mas confesso, era muito feliz e tinha vários motivos para assim me sentir e um deles, era que estava junto aos meus melhores amigos, que são até hoje. E mais ainda, vivíamos em perfeita liberdade, no verdadeiro sentido da expressão e no seu exercício máximo de uma boa amizade, mas não quero com este artigo fazer qualquer apologia ao que chamamos de “Bullying”, mas simplesmente nos reportarmos a uma “belle époque”, onde amigos faziam juntos o que mais gostavam; se divertiam, e um destes divertimentos, era sem dúvida, através dos apelidos, isso mesmo, apelidos, que carinhosamente nos tratávamos. Éramos uma turma, e nessa turma, vivíamos entre gordos, magros, brancos, negros, altos, baixos, feios, bonitos, fortes, fracos, chatos, gays, inteligentes e outros nem tanto, e todos eram apelidados, conforme suas próprias características. Às vezes saíamos na porrada, mas no dia seguinte, o futebol e as brincadeiras comuns nos juntavam outra vez. Enfim, éramos nós mesmos, sem frescura e sem babaquice, brincando e vivendo conforme o nosso tão especial e intocável grau de intimidade. Crescemos, e óbvio, não mais nos tratamos por apelidos, mas creio que ninguém ficou traumatizado, se tornou vítima ou adquiriu qualquer patologia que fosse capaz de influenciar em sua vida, seja profissional ou emocional. Não conheço nenhum que alega o seu, digamos, suposto fracasso às investidas de bullying sofridas no passado, ou mesmo tenha se tornado um depressivo crônico ou bipolar convicto em suas atitudes. Infelizmente, em prol de um modernismo hipócrita, camuflado sob a bandeira dos direitos humanos e num políticamente correto sem precedente, as amizades de hoje, creio que perdem muito no tocante à liberdade e intimidade, não que tenhamos necessariamente que nos tratar por apelidos, não; mas que não percamos a inocência de uma ”belle époque” que vivemos e vivemos felizes. Que não nos blindemos do mais puro, conturbado e difícil, mas que é a base de qualquer relacionamento, a amizade, que deve ser livre, sincera e espontânea, permitindo assim, que a geração atual, também desfrute de sua própria ”belle époque” e continue disseminando o que uma verdadeira amizade requer: simplicidade, intimidade e respeito.
Aos amigos de minha adorável infância, deixo-vos estas linhas como eco de agradecimento, pelos belos e inesquecíveis momentos que juntos vivemos em nossa “Belle Époque”.