BRASIL, UM PAÍS EM RESCALDO
A quem de direito, em sincera homenagem lúcida às nossas tantas tragédias insolúveis: HOJE, somos todos MARIANA.
Faz tempo que tal sentimento de cidadania , o da minha epígrafe, me permeia insistentemente: somos um país em rescaldo crescente.
Tal é mais que evidente, basta querer olhar e conseguir enxergar.
Tento fechar meus olhos de gente, e apertar meu coração de “poeta”, como se filosoficamente dissesse a mim mesma :
”só sei que nada posso e nada sei”- mas os cenários se descortinam a nos denunciar o todo a todos, menos aos que por aí dizem de nada saber.
Mas esses que não sabem também não enxergam?
Alguns poderiam aqui me sentir desanimada ou desesperançada, não, em absoluto: sinto-me animadamente duma lucidez...lucidez angustiante, é verdade.
Ao olhar o Brasil de hoje de certa forma se faz mister olhar para o mundo no qual nos inserimos, já que nenhum mundo existe sozinho, todavia, tal movimento de olhar e enxergar, ao mesmo tempo que nos assusta, nos faz acalentar as visões surreais a medida que percebemos claramente que cada mundo sofre o exato resultado buscado pela sua própria mão.
Cada mundo com a sua cruz, de fato.
Eu poderia ter começado com a lei bíblica da “semeadura”, mas meu texto não é poesia teológica: meu texto é realidade analógica, o impacto da política no RESCALDO social.
Dizer nos PALANQUES -“aos quatro ventos das inconsciências”- que o mundo todo está geopoliticamente conturbado e que tal também explica nosso RESCAlDO SOCIAL ASSUSTADOR é chover no molhado das evidências notórias não gerenciadas a contento há tempos; mas o que me intriga e me indigna é se tentar explicar inverídica, resignada e inercialmente que nossas dramáticas conseqüências sociais, as advindas do perene status equivocado das políticas internas-frutificando hoje tão tristemente o cenário que encenamos -é resultado ancorado nas desgraças alheias do planeta também caótico.
Inverdade contraditória: cada povo colhe a desgraça que plantou, desgraça turbinada de acordo com o campo infértil não adubado de compromisso político com o social, o que também degenera o mundo atual de lá de fora.
Não, aqui também somos um RESCALDO CRESCENTE das nossas próprias desgraças plantadas em campos minados de descompromissos e ineficiências políticas e cada vez que tentamos empurrar nossos absurdos para debaixo do tapete do “nada acontece de mal por aqui, tudo está sob controle”, alguma tragédia nova nos traz à consciência dos olhos , via dor no coração, revelando ao mundo o todo que não se faz e o tudo que não se fez do que deveria ter sido feito por obrigação de gestões diplomadas.
Rescaldo de tragédias sucessivas pré-anunciadas, é o que hoje somos todos os brasileiros, infelizmente.
Argumentam os mais poéticos que somos tudo de melhor do bom do mundo: um país sem desastres naturais, um país continental, celeiro do mundo, povo trabalhador e hospitaleiro, de braços e abraços ao planeta mais sofrido e negligenciado pelas injustiças sociais, um país aonde os cidadãos do mundo se encontram e se respeitam na mesma identificação do sofrimento social, aonde seguimos todos de mãos dadas, país dum sincretismo cultural vasto, de beleza inenarrável, enfim...somos tudo isso mesmo. Um mega mundo bem sofrido de todas as partes do mundo.
Porque também... já somos o país do ex- futebol, do perene carnaval, da “street dance” onde pelas esquinas das ruas mais calmas todos dançamos juntos nossas trágicas danças sociais, em poéticos versos funks em gritos sem solução, a morrer inesperadamente de morte morrida pela “causa mortis” das balas perdidas de esperança de vida vingada dum milagre;também somos as praias mais belas e descuidadas do mundo, praias de lixos expostos aos mosquitos que matam, aonde o esquecido prioritário fica à negligência das moscas; somos o país da cantada cidade maravilhosa onde se morre pelas ruas e morros mais que em guerras, apesar dos braços abertos do Redentor, o Cristo cantado lá do avião do Tom Jobim, que sobrevoava a remota era dos bons tons de vida poetados em bossa nova, aquela coisa linda e só nossa, época saudosa de tempos críveis, país da OLÍMPICA Baía da Guanabara que conta ao mundo do nosso saneamento básico inexistente a condenar inclusive a natureza e as demais vidas invisíveis que boiam mortas nas águas fétidas ;país que somos ainda todos juntos, duma Sampa locomotiva econômica que resfolega descarrilada no caos urbano, dentre cortinas cinzas das fumaças incontroláveis, país somos das belíssimas Amazônia e Mata Atlântica sôfregas, que cronicamente já tossem obstruídas, enfisematosas de bom ares, país da maior rede de bacias hidrográficas do mundo a permear as perenes secas de águas contaminadas e poluídas pelo descaso de quem não sabe cuidar simplesmente porque desconhece pérolas naturais e não prima pela educação tampouco pelo conhecimento que as preservam em vida; país de imensa rede de rios urbanos assoreados, “desciliados” de cinética vital; terra de violência social e holística exponencial porque não se cuida dos ventres que carregam o futuro , tampouco da tenra infância, muito menos do planejamento familiar para se conter a explosão demográfica da qual já não damos conta social há muito tempo, e cuja finalidade é comparecimento futuro às urnas que mantém o surreal “status quo” do retrocesso humano refém de si mesmo...sem saída visível da morte em vida, a mesma morte Severina de João cabral de Melo Neto que continua a nos assombrar pelo tempo.
País sem infra-estrutura, sem saúde, sem terra cuidada, sem teto, sem respeito aos direitos humanos, sem respeito às leis, sem respeito à justiça, muito menos à justiça social, sem respeito à ciência, sem emprego, sem economia, sem crescimento sustentável, sem projetos, sem norte, sem respeito por si mesmo, páis das falcatruas oficializadas, enxovalhado por corruptos “enlamaçados” que primam por projetos “umbelicóides” e que se valem do poder manipulado via fome holística para manter um estado de terror social inconsciente.
Somos um país de todos em terra de niguém. Somos órfãos políticos num imenso orfanato social. Sinto assim.
Conto que as Minas Gerais hoje acordam em luto.
É também por elas que escrevo.
Rompeu-se mais uma barragem de lama sobre nós.
O Brasil hoje desperta em luto e chora por seus mortos de Mariana.
Aliás, vivemos a contar nosso mortos sociais, os visíveis e os tantos invisíveis.
Coincidência em oração e pensamentos textuais ou simples fatalidade dum tempo?
Responda quem souber.
Opino que em tragédias anunciadas pelo descaso, nada é coincidência, tudo é antítese do feito em eco pelo não feito.
É grito do abandono.
É ação da politicagem no social ao invés da ação da legitimidade plural da política exercida com competência científica, respeito e compromisso social COM TODOS.
Política de sincera pluralidade, pelo bem comum.Longe estamos disso.
Figurativamente, hoje, junto à bela Mariana, sucumbimos todos, como se atropelados pela lama da corrupção que democraticamente nos soterra a olhos vistos.
Somos todos Mariana.
Em oração eu pergunto e rogo:
“Deus, até quando esperaremos que Suas mãos acolha o nosso Brasil em tão sofrido rescaldo humanitário?
Porque sinto que aos homens cidadãos já não nos resta soluções:apenas o necessário e mais que urgente socorro Providencial.
E que assim seja, frente ao tudo do rescaldo sofrido por todos nós.
Nota:Que Deus me tenha permitido escrever claramente “do e no” âmago do todo que sinto.