Secas e cercas, em uma geocritica.
Semiárido, serrado, sertão e caatinga, são modelos e sistemas de classificação de determinadas áreas geográficas com características próprias, espaços distinguidos e definidos por uma determinada ciência. Assim como se enumera as paginas de um livro, criam-se capítulos e tópicos, e por fim um índice para chegar a um assunto desejado. Daí criou-se critérios de divisões do espaço geográfico em diversas modalidades. A necessidade de o homem estudar por partes, isolar problemas e conhecimentos. O modelo cartesiano, modelo que divide em partes. Destaca e marca pontos em planos de gráficos, divididos em quadrantes. As palavras de Yves Lacoste perpetuadas, “A geografia serve antes da mais nada para fazer a guerra”. Não importa a guerra, seja ela bélica, política, econômica, ou comercial.
E aqui um fato curioso, que acontecia a uns cinquenta anos passados. A carne de gado, a carne denominada como carne verde, em diferenciação à carne salgada (carne seca, carne de sol e charque), nas pequenas cidades era vendida por valores iguais, independente da parte do gado de corte, morto e esquartejado. Enquanto nas cidades maiores e principais do território brasileiro era vendida por valores diferentes para partes diferentes, denominadas como cortes, e alguns cortes especiais. A visão do modelo cartesiano esquadrinhado sobre o bovino. Hoje a ideia cartesiana esta mais difundida, nas cidades maiores ou menores, a começar pelas especializações e modalidades medicas, que vai do clinico geral, ao medico especializado em dedos mindinhos da mão esquerda, com especializações mais profundas e criteriosas em falanges, falanginhas ou falangetas.
Modelos geográficos podem satisfazer e atender aqueles que vivem naquele espaço geográfico sem a oportunidade de conhecer outros espaços. Satisfazem principalmente a quem os criou, e estabeleceu como um espaço delimitado. Daí surge uma geocrítica a um poder dominador de critérios geográficos e suas classificações, com denominações dos espaços. Critérios que os identificam e os discriminam, aqueles que habitam um lugar, criando estratégias de convencimento de que seu espaço é assim por determinadas questões e razões, esclarecidas e justificadas, provadas pela ciência; reforçadas pelos argumentos da política reinante e estabelecida.
Modelos de classificação dos espaços são estudados na escola, distinguidos e demarcados em mapas de rios, solos e climas. Um mapa para hidrologia, um para geologia, e outro para climatologia. Cada especialista distingue e define suas áreas de estudo. Cada um estabelece uma cerca de conhecimento para não ser invadida por outros cartesianistas. Usam da geografia política para descrever suas áreas geopolíticas, de um discurso geocientifico: de ideias e conhecimentos geoclimáticos e geohidrológicos, com geoparticularidades. Suas pesquisas e classificações invadem limites políticos, e administrativos dos estados.
Não há como um estado ou uma cidade gerar recursos e ideias de combate ou convivência com a seca, sem a participação do estado vizinho que sofre as mesmas consequências, e ainda pode ter um rio que corre vindo de outro estado, com destinos a percorrer em outros estados. Como o caso do Velho Chico que já foi conhecido e reconhecido como o rio da interação nacional. A própria Igreja reconheceu a importância do rio integracional e instalou uma diocese na cidade de Barra-BA, cidade localizada na esquina do Rio Grande com o Rio São Francisco. A residência de um Bispo que já fez discursos e greve de fome, por ser contra a proposição de transposição do Rio São Francisco.
A atual governante brasileira viaja o mundo com um talão de cheques em branco assinado pelo povo brasileiro, Com voos aéreos de primeira classe, na modalidade 0800, a seu bel-prazer, com vontades e vaidades distribui divisas monetárias nacionais a diversos povos e nações do planeta, necessitados não de água e comida, mas de portos e aeroportos. Participa de uma globalizaçao que o Brasil nunca fez parte, sempre ficou no cercadinho dos países subdesenvolvidos, ou dos países em desenvolvimento. Países que também já foram chamados de Terceiro Mundo, para que percebessem e entendessem que estariam bem distantes, da sua almejada chegada de ser um participante do Primeiro Mundo. Seria necessário participar do Segundo, para desejar ser do Primeiro.
Há sim uma necessidade atual, de minimamente ter uma visão governamental, com conhecimentos legais e gerais, a fim de resistir secas nacionais, em uma tentativa de garantir a existências de um povo sem a discriminação de viver em outro estado ou região. Sem esta garantia do espaço nacional, corre-se o risco de invasões ideológicas e financeiras, com interesses de modificar o espaço geográfico, com mudanças de cursos de rios para beneficiar seus investimentos futuros. O risco de gestões externas, embasadas em argumentos e conhecimentos anteriores, justificadas pelas suas maioridades de países mais velhos e experientes, detentores de saberes e conhecimentos.
Uma cerca não demarca um conhecimento, tal como uma linha em um mapa não delimita uma região de climas homogêneos, comportamentos pluviométricos, linhas isóbaras e isotérmicas. As condições climáticas deste momento não são garantidas para as próximas horas, tal como os registros meteorológicos e climatológicos de décadas passadas não podem ser esperados que se repitam nas próximas décadas. A superfície do globo terrestre foi modificada pelo homem, independente de outras forças locais, regionais ou planetárias, muitas ainda não estudadas.
Nunca o Brasil precisou tanto ser uma nação. Um país unido e reunido, para ser uma unidade. Para que não se repitam os fatos passados na implantação e inculpação, com culpas e desculpas, a implantação da esperança de ser um dia um país, desenvolvido e civilizado. Começou com indígenas que não eram civilizados e não eram catequizados. Já fomos considerados como participantes do terceiro
mundo, e pertencentes ao grupo de países subdesenvolvidos. Chegando apenas no máximo, um país em desenvolvimento.
O mundo discute o problema da água, e já tenta estabelecer cercas no território nacional para que seus investimentos não sofram com a seca. A construção do canal de transposição do Rio São Francisco vem sendo protelada, estendida, e superfaturada. A obra é paga com dinheiro público, o dinheiro arrecadado do povo que trabalha e paga impostos sobre suas necessidades. Já há indícios que depois de ser construída, devera ser inaugurada com pompas governamentais. E depois de suores e sacrifícios, fogos de artifícios para ser privatizada. E os administradores do canal poderão então cuidar de um canal, utilizar à vontade a água passageira. Paralelamente surge uma tecnologia de usos e reusos de água. Alguém vai sobreviver de sobras de águas usadas.
Portos e aeroportos estão sendo construídos pelo mundo para receber mercadorias agrícolas produzidas e exportadas. E administradores de cursos d’água terão direitos de cobrar o uso de uma água canalizada vendida, no grosso ou atacado, outras já a comercializam, no varejo ou no picado. A velha frase eternizada. “Brasil, o celeiro do mundo”. E sempre foi celeiro, de celas e selas, com bocas e lombos selados, uma escravidão atualizada e estilizada. Caminhos livres para cocheiros, os profissionais de Coach, com conhecimentos importados. E como sempre haverá inúmeros implorando por um copo d’água para sanar uma sede de necessidades fisiológicas e intelectuais.
RN 10/05/15
Roberto Cardoso
Desenvolvedor de Komunicologia Jornalista Cientifico – UFRN-FAPERN-CNPq IHGRN - Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte INRG – Instituto Norte-rio-grandense de Genealogia
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