A desconstrução do conhecimento (4)
O capitão de um navio é a autoridade máxima dentro da embarcação. Têm oficiais e praças, marinheiros e mecânicos, cozinheiros e taifeiros, todos ao seu comando. Uma equipe proporcionando reparos e serviços. Cumprindo ordens e tarefas, da popa à proa, do porão ao convés, da casa de máquinas à ponte. Comanda um piloto e um timoneiro para que o navio siga um curso traçado. Para chegar ao destino desejado, em tempo hábil, com economia e segurança, cumprindo normas e procedimentos para uma boa navegabilidade, a qualidade da navegação.
O comandante do navio tem uma autoridade respaldada pelo armador e/ou afretador da embarcação. Autoridade reforçada pelas leis do país, da bandeira que representa. As leis do país são válidas dentro da embarcação. Uma embarcação é uma extensão territorial de seu país, um território flutuante. Só uma autoridade federal em portos e águas territoriais pode questionar seus cursos e comandos.
Um professor em de sala de aula é a lei, tal como um comandante embarcado E um professor em ambientes escolares, é um capitão embarcado, respaldado pela bandeira da instituição, que o nomeou e representa. Cumpri normas e regulamentos, estatutos e regras. Tem a seu dispor funcionários e permissionários, trabalhadores e colaboradores. Tem autoridade para dizer quem estava presente ou ausente à aula, quem aprendeu o conteúdo ou não; embarcar ou desembarcar um aluno. O diário de classe é seu diário de bordo. A posição de sua mesa na classe permite uma visão completa da tripulação, com corredores livres pode circular à vontade, tal como um comandante fazendo inspeção da marinharia formada no convés.
As leis internas com estatutos e regulamentos, as leis de bordo, existem para combater um motim, em defesa da instituição que direciona os cursos e as metas. Um dia marinheiros já foram controlados com a chibata, e alunos com a palmatória, hoje são controlados com os registros da caneta na caderneta, e anotações digitalizadas, correndo o mundo em rotas virtuais.
Um capitão não admite clandestinos. Tanto as tripulações de navios, quanto turmas de alunos, capitaneados ou professorados respeitam o curso do conhecimento, e o rumo das ideias indicados pelo comando. Partem do princípio que o comandante conhece os portos e as escalas ao longo do curso. E nos portos marítimos, o navio é controlado por terceiros como: agentes marítimos, entidade estivadora e praticagem.
Todo controle acontece com um consentimento por parte do controlado. Um domínio simbólico conhecido e reconhecido pelo dominante e pelo dominado (Bourdieu), por um emblema ou distintivo, um estigma (idem). O aluno deve professar o que o mestre professa. A tripulação deve conduzir o navio para onde o comandante aponta. Professor e capitão definem o azimute e o rumo. Qualquer aluno ou marinheiro que tenha outras, direções, outras soluções, ou outras opiniões diferenciada do professor ou comandante poderá ser desembarcado no próximo porto ou semestre. Desembarcando deverá tomar outro rumo ou outra embarcação, com anotações na caderneta.
Discordar do orientador já é suficiente para não fazer um bom TCC ou defender uma tese. O orientando deve buscar um orientador com norteamento semelhante ao seu. A partir da escolha recíproca entre orientando e orientador, azimutes ajustados e direções determinadas, o leme e a bussola ficam sob o controle do orientador, podendo fazer correções durante a rota.
Daí a necessidade do orientador dividir simbolicamente a autoria intelectual com o orientando. E juntos caminharem sobre um tema (a rota) e escolherem a formação da banca de avaliação (o porto terceirizado). Caso contrário os dois estarão reprovados diante uma banca examinadora. E terão que arribar para outro porto, evitando um naufrágio.
Entre Natal e Parnamirim/RN ─ 08/06/2014