Esclarecimento (Aufklärung)

Estamos numa época privilegiada: temos o que nossos antepassados remotos nunca imaginaram que algum dia a humanidade poderia ter. A sociedade conquistou a televisão, o rádio, a internet, o telefone, construiu o avião, a medicina avançou, a tecnologia evoluiu. No entanto, os seres humanos não sabem usar o que têm. A humanidade parece estar regredindo: guerras, fome, ódio, fofoca, manipulação das consciências, drogas, pessoas tendo que fugir de seus países.

No século XVIII, o filósofo alemão Immanuel Kant responde a esta pergunta: “O que é esclarecimento?” Eis a resposta: “Esclarecimento (Aufklärung) é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade, se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem”. Qual será a causa disso? O filósofo responde: “A preguiça e a covardia” fazem com que muitos permaneçam “de bom grado menores durante toda a vida”. Pois “é tão confortável ser menor! Tenho à disposição um livro que pensa por mim, um diretor espiritual ou um pastor que tem consciência por mim... Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar; outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis”.

Muitas pessoas ainda não aprenderam a usar a razão que Deus lhes deu. São marionetes nas mãos dos políticos; fazem, pensam e dizem o que os políticos querem; o que os pastores querem; o que os padres querem; o que outras pessoas querem. Recusam a razão e aceitam os interesses de outrem. Sabe-se que “é difícil, portanto, para um homem em particular desvencilhar-se da menoridade que para ele se tornou quase uma natureza”.

Concordo com Kant: “Falta ainda muito para que os homens, nas condições atuais, tomados em conjunto, estejam já numa situação, ou possam ser colocados nela, na qual, em matéria religiosa, sejam capazes de fazer uso seguro e bom de seu próprio entendimento sem serem dirigidos por outrem”. Esse pensamento se encaixa na definição de livre-pensador: aquele que, em matéria religiosa, só aceita o que se encontra de acordo com a razão.

Os seres humanos podem sair da menoridade; conquistar o esclarecimento. É possível viver de acordo com a vontade de um Deus bom e justo, tendo uma relação com Ele, sem se deixar conduzir pelas imposições de uma igreja ou religião. É possível viver sem bajular os políticos; os bons políticos não gostam de bajuladores. Onde há um bom político? É possível conquistar o esclarecimento, sair da menoridade autoimposta. É possível pensar por si mesmo, e não deixar que outros pensem por todos ou por nós. Segundo Descartes, filósofo francês, o bom senso (a razão) é a coisa mais bem distribuída no mundo: “O poder de julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso, que é justamente o que é denominado bom senso ou razão, é igual em todos os homens”. Mas, segundo o mesmo pensador, não basta ter essa estrutura, é necessário fazer uso da estrutura racional que se tem.

Nunca deixe que ninguém pense por você! Faça uso da liberdade e da razão.

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 19/09/2015
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