CIDADE DE SÃO PAULO
CIDADE DE SÃO PAULO
Minha São Paulo querida estamos ligados vivamente, como o ar que respiramos. Desde meu nascimento no fim da Guerra, naquela maternidade dentro do complexo hospitalar Matarazzo, localizada no quarteirão das ruas Ribeirão Claro, São Carlos do Pinhal, Itapeva e Pamplona, no espigão da Paulista. Foi neste bairro da Bela Vista que morei desde o nascimento até 1969, quando me casei com a Myriam, que havia nascido no mesmo local onze meses mais tarde.
Quem não conheceu a Alameda Santos, onde morei, entre as ruas Joaquim Eugenio de Lima e Brigadeiro Luiz Antonio? Hoje burburim dos restaurantes, teatros, cinemas, dos amantes da cultura e da gastronomia, dos investidores do centro financeiro da Capital.
No meu tempo de criança começavam a despontar os primeiros arranha-céus nos lugares dos casarões dos mais variados industriais, banqueiros, empresários, fazendeiros, com suas mansões típicas de suas culturas étnicas tradicionais, através de suas arquiteturas características de seus países. Seus moradores mais conhecidos eram as famílias Jafet, Siciliana, Matarazzo, Conde, Lotaif, Bonfilioli, Fausto Ferraz, Na Avenida Paulista defronte aos seus jardins encantados, nas calçadas largas, ao meio-fio da via carroçável, onde circulavam bondes, ônibus e as carroças dos lixeiros, padeiros, leiteiros, chacareiros e, até fornecedor de pedras de gelo puxadas a parelha de burros. Tudo isso, sem falar na pastoreia das cabras leiteiras, que atendiam suas clientelas fixas, e que recolhiam as fezes dos animais para estercar seus jardins. No fim da Av. Dr. Arnaldo, não existia a Av. Heitor Penteado, pois neste local, era cocheira dos burros, e, aterro sanitário. Tudo isso, sem falar na pastoreia das cabras leiteiras, que atendiam suas clientelas fixas, e que recolhiam as fezes dos animais para estercar seus jardins.
Do quintal da minha casa avistavam-se as torres dos Conventos da Abadia de Santa Maria, freiras beneditinas, uma das quais era minha tia, e, cujo local hoje se localiza um aglomerado de prédios, entre eles o Hotel Maksude Plaza; e o Seminário dos frades menores Franciscanos Capuchinhos com sua Igreja Imaculada Conceição, donde resta hoje apenas a Paróquia. Houve época da minha juventude que desta Igreja costumavam, nas grandes festas litúrgicas, fazerem procissões no quadrilátero da Brigadeiro com as ruas Cinsinato Braga, Carlos Sampaio e Fausto Ferraz, onde residiam meus avós paternos e maternos, que la se conheceram, e casaram na referida Igreja. Aliás, lá também nos casamos em 1969. Mas na casa dos meus avós paternos, eles instalavam um Altar majestoso na frente da Casa, para uma cerimônia religiosa, antes de prosseguirem a procissão. E por falar em avós, antes do meu avô materna la construir a sua residência, quando ele deixou a cidade de Cristina para morar em São Paulo para ser gerente do Banco Hipotecário de Minas Gerais, morar na Rua Treze de Maio, enfrente a casa dos franceses que mais tarde soube serem os avós da Myriam, mais uma das coincidências que surgiram no nosso relacionamento desde a maternidade.
Voltando a Avenida Paulista que ia do Paraíso a Consolação, com os centenários colégios: Grupo Escolar Rodrigues Alves e o São Luiz dos Jesuítas; entre esses dois existiam outros menos importantes como o Liceu Eduardo Prado e o citado Pais Leme. Havia lá, sofisticada,uma movimentação de pacientes que se dirigiam ao Hospital Santa Catarina, Instituto Pasteur, Hospital Matarazzo, e as Clinicas, de referencia nacional pela sua eficiência como Faculdade de Medicina.
Também nesta avenida aconteciam os desfiles por ocasião do Primeiro de Maio, e os famosos corços carnavalescos dos Ford Bigode, Cristaleiras, também conhecidos como Guarda-Louças, os conversíveis, donde se arremeçavão serpentinas, confetes e lança-perfume. O último desfile, de saudosa lembrança, foi a do Sesqui Centenário no governo militar dos idos de 1972, quando começaram as demolições dos casarões e proliferar os prédios hoje existentes. De lá para cá se tornou passarela da Parada do Orgulho GLBT Gay, lésbicas, travestis, homo afetivo, e, concentração dos movimentos políticos, torcedores futebolísticos na comemoração de seus títulos de Campeãs, e, na corrida da São Silvestre.
Trago na lembrança dos idos tempos da minha infância, quando freqüentava aos Domingos o Parque Siqueira Campos, popularmente conhecida como Trianon, quando na verdade o Trianon era um Salão de baile situado onde hoje esta o MASP, na sofisticada Avenida Paulista com o famoso Restaurante Fazano, defronte ao Colégio Paes Leme, onde lá estudei em 1959, mas que hoje se edificou o Banco Safra, na esquina com a Rua Augusta. Tempo áureo da Rua Augusta, quando não havia Shopping e a grande grife lá estava, com os cinemas, lanchonetes, circulação os carros esportes dos play-boy’s, e os pedestres faziam seu futim, descendo e subindo a ladeira temática da época. Houve uma época que a via carroçável fora revestida de carpete, e no mês de Dezembro toda enfeitada com adereços alusivos às festas natalinas. Mas hoje em dia já não existe aquele glamour de então, em face dos Shoppings Center existente em todos os bairros, exceção feita ao trecho da Rua Oscar Freire, entre a Melo Alves e Augusta, com as grifes francesas, um verdadeiro Shopping a Céu Alberto. Rua Augusta foi à primeira há circular ônibus elétrico e a última via a utilizá-la, dando lugar aos trólebus articulados. Sem falar na era dos bondes que foram substituídos pelos ônibus elétricos.
Quando começamos o namoro em 1963, a Myriam morava com seus avôs na Alameda Itu, esquina com a Rua Augusta, onde freqüentávamos seus pontos casuais, Frevinho, Flamingo, Porão, Jotas Bar, Hai-Wai, entre outros famosos. Em 1968 ficamos noivos neste endereço, brindamos com os avós um Champagna, tão auspicioso momento, que ela cobrava insistentemente. Casamos em 1969, e fomos morara na Vila Nova Conceição e tempos depois, fomos morar na Alameda Tiete, entre a Haddock Lobo e Bela Cintra, com nossos dois filhos, mas logo mudamos para nossa casa no Bosque da Saúde, onde nasceu nosso terceiro filho.
Assim amamos nossa São Paulo querida, de saudosa lembrança do seu IV Centenário, quando da inauguração do Parque Ibirapuera, e da Chuva de Prata no Vale do Anhangabaú, com a emissão aérea dos triângulos de papel alumínio ofertados pela laminação do Pignatari. Em que pese os estragos causados com o mau gosto das ciclovias que levam nada a lugar nenhum, causando atraso no progresso, sem falar na redução da velocidade nas vias publicas onde circulam carros possantes em macha reduzida, tal qual os veículos das primeiras linhas de montagem idealizadas pelo Ford.
Assim termino minhas reminiscências da querida São Paulo da garoa fina, do Lampião de Gás, do carvoeiro, e de tantas outras lembranças que compõem nossas seresta e modinhas do nosso cancioneiro popular.
Salve São Paulo!
José Francisco Ferraz Luz*
(*) Advogado inscrito na OAB/SP sob n.º 44.660, escritor com o pseudônimo, poeta da Casa do Poeta de São Paulo, Movimento Poético Nacional, Associação Portuguesa de Poetas, Associação Brasileira de Médicos Escritores, Ordem Nacional dos Escritores, Sociedade Veteranos de 32 MMDC, Grande Oriente do Brasil, Supremo Conclave do Tito Brasileiro. Autor de inúmeras Antologias e dos Livros Chico e seu Estado de Espírito e Chico e seu Estado de Graça, pelas Editoras Baraúna e All Print.