O fim do respeito?

A sociedade convive atualmente com altos níveis de violência. Os exemplos se sucedem de maneira espantosa e aparentemente não se vislumbra a luz no fim do túnel. A carência de valores morais é evidente e não escolhe classe social, etnia ou credo religioso. Está presente em todos os segmentos, mostrando que algo deve ser feito para, pelo menos, minimizar esse comportamento. Sabe-se que a origem dessa maneira de agir do ser humano é fruto da educação herdada na infância. Outros fatores como a falta de estrutura familiar, a condição de vulnerabilidade social e o convívio frequente e muito próximo com a violência acabam desencadeando certas atitudes consideradas em desacordo com as normas estipuladas pela sociedade. Desajustes comportamentais seriam, portanto, o afastamento deliberado de uma conduta previamente estabelecida, que procura em sua essência induzir o indivíduo a buscar o convívio harmônico com seus semelhantes.

Porém, em determinadas situações se tem a impressão de que toda e qualquer iniciativa utilizada para tentar reverter esse quadro caótico será insuficiente e inócua. É inaceitável que o cidadão de bem, cumpridor de seus deveres, seja coagido por aqueles que não possuem um mínimo sequer de bom senso e equilíbrio e que fazem da convivência diária uma constante prova de autoafirmação.

Ficou esquecida no passado aquela imagem romântica do cavalheiro que abria uma porta ou dispunha uma cadeira para a dama. Foi-se o tempo em que os professores eram presenteados pelos seus alunos com alguma fruta, um ramalhete de flores ou um bilhete de agradecimento. Hoje, os educadores são vilipendiados, constrangidos e agredidos, mostrando o lado perverso de uma “modernidade” frágil e controversa, enquanto se admitem direitos plenos aos delinquentes juvenis, amparados por um Estatuto totalmente obsoleto para a realidade atual.

Apesar das campanhas educativas, nosso trânsito continua fazendo vítimas inocentes. A civilidade é artigo de luxo numa convivência volúvel e atribulada, em que a lei do mais forte impera. A imprudência é companhia constante de motoristas e pedestres, transformando o ambiente urbano em arena para os mais diversos embates, muitas vezes, com perdas irreparáveis em ambos os lados. E onde está o respeito? Onde fica a necessidade do acatamento irrestrito da legislação de trânsito pelos partícipes desse sistema tão complexo? Somem-se a isso as deficiências viárias e de infraestrutura e teremos aí a receita ideal para que a tragédia urbana diária persista.

Essa é apenas a ponta de um imenso iceberg, que precede o degelo gradual e contínuo dos conceitos de decência e moralidade de nossa gente. O que dizer de certos elementos por esse país afora – porque o fato se repete em todas as regiões - que comumente adotam como passatempo a depredação do patrimônio público como lixeiras, telefones públicos, sinalização de trânsito e outros? O que leva esses inconsequentes a tomarem tais atitudes, apenas pelo simples prazer em destruir o bem comum? Qual seria a justificativa de um jovem que às quatro horas da manhã faz estremecer as janelas e os tímpanos alheios com um som estupidamente alto, quando a maioria da população faz uso de seu merecido descanso? Ignora completamente os limites de seus próprios ouvidos, ensurdecidos pela imbecilidade de uma demonstração gratuita de pretenso poder. Respeito que falta também àqueles que fazem da via publica seu depósito particular de lixo, contaminando o meio ambiente com resíduos impregnados por uma injustificada indiferença.

Diariamente nossas crianças são bombardeadas por uma programação televisiva acintosa e escandalosamente erotizada, que lhes rouba precocemente a inocência. Cenas constantes e persistentes de comportamentos lascivos, em que a moda do momento é o sexo fortuito e sem compromisso evidenciam uma conduta equivocada e desprovida de princípios que norteiam toda uma sociedade. Onde está o respeito aos preceitos primordiais de nossa já combalida instituição familiar? Como educar nossos filhos de maneira íntegra, se os responsáveis pelo entretenimento de massa nos expõem diariamente aos seus devaneios insanos com justificativas factoides, amplificadas por um mercantilismo capitalista e apoiados por instituições públicas omissas e coniventes com a situação? Como se orgulhar do carnaval mais famoso do planeta em que a atração principal é a exposição gratuita e escancarada do corpo, estrategicamente propenso a closes dos mais inusitados possíveis? Esses são apenas alguns exemplos de como nosso país caminha a passos largos para um colapso de valores éticos e morais. Talvez, com a mobilização da sociedade, ainda haja tempo para que alguma coisa seja feita.

Até que isso aconteça, de forma melancólica, só me resta concordar com uma saudosa dupla, que privilegiando a música sertaneja de raiz eternizou em seus versos a célebre frase: “Estamos no fim do respeito, mundo velho não tem jeito, a vaca já foi pro brejo...”.