ESTRANHAS FOSFORESCÊNCIAS
Parece-nos estranho que no séc. XXI, aparelhado com maravilhosas conquistas científicas, muitos homens ainda corram atrás de engenhosas fábulas e mistificações. Que isto fosse habitual há dois mil anos, tudo bem! Mas hoje?
Será tão estranho que ainda em nossa época homens se filiem a seitas como “Portas do Paraíso”, “Templos Solares”, “Borboletas Azuis”...? E, quando seus delírios não se realizam, preferem se suicidar?
O homem de hoje não é diferente do homem histórico. Suicídios por causa de delírios religiosos ou políticos sempre fizeram parte da humanidade. Por isto, fatos assim continuam potencialidade para o nosso tempo. Atitudes extremas de kamikases, de homens-bomba, de terroristas, de mentes iludidas e alienadas por “ideais” religiosos e/ou políticos (ex.: fundamentalistas, Estado Islâmico, Boko Haran, “encantados” por líderes e siglas partidárias, ou pela posse de poder, mesmo que este poder tenha sido conquistado fraudulentamente...) nos impressionam porque são absurdas e irracionais, e questionam nossos valores.
Se formos realistas, as alucinações mortais não nos causarão perplexidade. Na história, múltiplas vezes, homens correram atrás de fábulas, de falsas promessas, que lhes prometiam “paraísos sem males”, sem inflação, com melhorias salariais, com boas aposentadorias, com comida barata e abundante, com casas próprias e apoios educacionais. Tudo isto prometido por falsos profetas e políticos mentirosos.
A história está repleta de utopias, de revoluções redentoras, de líderes mistificadores, de promessas por sociedades perfeitas, e ideologias salvadoras, de milenarismos religiosos e políticos na busca de uma “terra sem males”.
Às vezes bastam motivos corriqueiros para unir poder e mentes fabuladoras. Ovnis, cometas, alucinações visionárias, pregações apocalípticas sobre o fim do mundo, saudades por raças puras, vontades neuróticas pela posse de poder... tudo isto pode motivar o despontar de estranhas fosforescências nas mentes humanas, com consequências enganadoras e desastrosas na vida prática, levando, até, pessoas ao suicídio.
No século XXI, certamente, ainda haverá um crescendo destas fosforescências fabuladoras. “Borboletas Azuis”, na Paraíba; “Jim Jones”, nas Guianas; “Portas do Paraíso”, nos Estados Unidos; “Templos Solares”, na Europa; “Templo de Salomão” de Edir Macedo, em São Paulo; “Cirurgias Espirituais”, “Curas Milagrosas”, operadas por falsos profetas; “Inri Christos”, em Curitiba; “Partidos Políticos”, com mensalões, petrolões, bendessalões...
É bom reparar que estas estranhas fosforescências não acontecem apenas no âmbito religioso. Mas também no nível ideológico, sob uma máscara de racionalidade, tais fosforescências fascinam ignorantes e “sábios” no mundo político e acadêmico, que enveredam por caminhos escusos de organização social e econômica. Neste sentido, há fortes indícios de que o fanatismo por determinadas políticas não passa de uma destas estranhas fosforescências.
Diante disto, é aconselhável que se analise de forma suficientemente crítica as “conversas fiadas” de certos líderes políticos, que não passam de mistificadores. Á história ensina que grande parte do povo se deixa facilmente ludibriar por engenhosas fábulas. Fábulas mentirosas, que têm pernas curtas, como a própria mentira.
E, não há dúvida, nem mesmo Presidentes da República, permanecem imunes (consciente ou inconscientemente), ao fascínio destas estranhas fosforescências, ainda em nossos dias.
Inácio Strieder é professor de filosofia e escritor. Recife-PE.