CUIDADO COM A INTIMIDADE!

Antigamente as pessoas respeitavam umas às outras, respeitavam os limites sociais e os pessoais também. O tempo, e especialmente a internet, mudou tudo, são gritantes as transformações nos relacionamentos, nas relações humanas e de forma geral, na sociedade.

Não é raro encontrar quem não entendeu bem que ter mais facilidade para fazer contatos, amizades, para se aproximar da vida alheia, não significa chegar perante um quase desconhecido com intimidades que não conquistou.

A construção da intimidade não perdeu o sentido, ela não é um desejo estritamente individual, deve ser elaborada mutuamente a partir de uma relação que inclui diálogo e onde os limites são verificados pelo tom que cada parte impõe à conversa.

No mundo virtual, principalmente, certas pessoas chegam como se fossem velhos amigos ou potenciais amantes, sem ponderar que o fato de ser aceito como um novo relacionamento virtual não presume nem uma coisa, nem a outra.

Permitir a aproximação (o famoso "adicionar" do mundo virtual) não dá a ninguém liberdade nem intimidade para imediatamente chamar outrem de "meu amor" ou querer entrar em sua vida pessoal com um "tem whats?".

Proximidade exige motivo: afinidade religiosa, profissional, sintonia de pensamentos políticos, ideais, conduta e outros, inclusive a aparência, que a tantos importa. Não há problema nisso, amizade e amor precisam de oportunidade para nascer, mas até que se tornem fato, o que aproximou continua sendo apenas possibilidade de estreitar laços, não os laços em si.

O que faz uma pessoa achar que outra lhe recepciona com intenções menos dignas apenas porque entende que os conceitos de sua existência podem ser comuns e, desse modo, não exclui estranhos dos seus relacionamentos?

Precisamos recuperar certos valores que não envelheceram, mas foram deixados de lado como dispensáveis, tais como o respeito, o não pré-julgamento do caráter alheio, devemos voltar a viver os limites da conduta ilibada junto a homens e mulheres que não deram abertura para serem assediados, deixar de presumir que um sorriso mais amplo ou simpatia efusiva é aceitação de investida sexual ou afetiva.

Dizem que "quem quer respeito, se dá o respeito". Significa dizer também, sob ótica parecida, que quem quer respeito, dá respeito aos outros e, respeitando, será respeitado.

Para haver consciência de que se se está sendo devorado pela grave inversão de valores da atualidade, é preciso parar para olhar para si mesmo, avaliando-se como se avaliado fosse por outrem - assim, talvez algumas pessoas, vendo-se como os outros os veem, quiçá sintam vergonha de como agem e voltem a ser quem um dia foram.

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"É necessário sair da ilha para ver a ilha,

não nos vemos se não saímos de nós"

(José Saramago)