Família, uma instituição em risco

Vivemos numa sociedade regida pela plena democracia em que a liberdade de expressão é estendida a todo cidadão, independente de posição social, origem étnica ou credo religioso. É uma prerrogativa comum a livre exposição de ideias ou conceitos sobre determinado assunto, desde que isso não venha a atingir a integridade moral e a privacidade do indivíduo. Dessa forma, mantendo-se a proporcionalidade equivalente às distintas opiniões e ainda privilegiando uma necessária isonomia, não se permite que a inércia e a indiferença permeiem as atitudes daqueles que não compartilham com pareceres estritamente pessoais. Ainda mais, quando certos entendimentos, por vezes abstratos, referem-se diretamente a uma instituição milenar, alicerçada nos princípios basilares da formação moral e ética dos indivíduos.

O fato de demonstrar publicamente o interesse em defender algumas proposições remete necessariamente ao debate amplo e desprovido de artífices outros, sem a inserção deliberada de metáforas ou quaisquer expedientes que visem a alienação transitória do leitor. Assim ocorre quando se procura manipular a opinião das pessoas com expressões subjetivas, privadas de embasamentos consistentes, amparadas apenas em "teses" dispersas, numa nítida demonstração de ignorância perante o assunto. Na mesma proporção em que se permite a alguns asseverar com extrema convicção que a instituição familiar está “falida”, se concede nesse momento o aval para disposições opostas, equivalentes no teor e na essência. E a recíproca deverá ser verdadeira, uma vez que historicamente, a humanidade encontrou resguardo nesse padrão de convivência.

O que presenciamos hoje é uma miscelânea de asserções estéreis, revestidas de interesses outros que não a manutenção dos laços familiares. Procura-se por todas as formas impor sem escrúpulos uma tendência indistinta, induzindo os integrantes da “célula-mater” a uma mudança de paradigmas. Apregoa-se sistematicamente uma condescendência inaceitável perante fatos que devastam a integridade do ambiente familiar. Passam a estimular condutas equivocadas, obliterando continuamente os laços afetivos, esteio primordial do equilíbrio e da razão. A inclinação perniciosa que tenta introduzir em nosso meio a violação de regras estabelecidas e reconhecidas como eficazes na convivência do ambiente doméstico contabiliza novos adeptos a cada dia. Classificá-las como “totalitárias” e ignorar sua importância na manutenção dos vínculos familiares passa a ser exemplo clássico de intemperança, se não mais grave for, uma temeridade.

Contrariando a concepção ambígua de certas correntes que insistem em expor seus pensamentos inexplicavelmente antagônicos, a sociedade atual tem a oportunidade de reafirmar sua apreensão com fatos dessa natureza. E condutas reacionárias a uma instituição dessa importância em nada contribuem para a formação de nossas crianças e jovens. Há que se procurar um equilíbrio entre as diferentes valorações de pensamentos, com objetivos únicos e voltados exclusivamente à manutenção da harmonia e do convívio familiar. O respaldo para essa solidez nas atitudes será inevitavelmente o acatamento aos ditames preestabelecidos pela sociedade, desde os tempos de outrora. Não obstante, a realidade atual impõe desafios a serem vencidos. Isso é fato. Porém, a transição deve contemplar parâmetros previamente definidos, em nada similares aos que agora, se alardeiam os supostos detentores da verdade e da razão. Não é admissível ainda permitir que se estabeleça uma referência tendenciosa de que a família esteja “falida, à mercê de posturas de vanguarda, uma necessidade nos tempos da modernidade”. O interesse em “quebrar as ruínas das antigas instituições” é um sinal evidente de uma inconsequente retórica ensaiada, com objetivos previamente definidos.

Seria de bom alvitre que as palavras quando utilizadas, sejam meticulosamente analisadas, pois uma vez proferidas não há remendo suficiente para seu conserto. Não há como admitir seriedade nas atitudes como as que se apresentam atualmente, quando presenciamos a destruição de lares pela violência das drogas, ou os casos de agressão contra professores e alunos, ou ainda, a exposição contínua de nossas crianças e jovens aos inúmeros exemplos de desapego total a valores morais de uma sociedade. Na imensa maioria dos casos, verifica-se a falta da estrutura familiar como causa principal dos mais variados desajustes comportamentais. Seria esse, então, o cenário ideal para a defesa de propostas contraditórias e “inovadoras”, como sugerem alguns “entendidos” no assunto? Com a palavra, a família brasileira.