A IDÉIA DE CIVILIZAÇÃO NO BRASIL
No Brasil, civilizar era combater qualquer ameaça às elites caboclas e aos seus privilégios. Como destaca Octavio Ianni: "o povo, as massas, os grupos e classes sociais são induzidos a realizar as diretrizes estabelecidas pelas elites modernizantes e deliberantes." No plano cultural, era marginalizar as expressões da cultura popular; tida como inferior se comparada aos padrões civilizacionais importados da Europa, notadamente da França da belle époque. O processo “civilizador”, também passava pelo projeto de tornar o Brasil conhecido pela ciência. É assim que durante o império missões artísticas e cientificas, sobretudo, alemãs e francesas, se embrenhavam sertão à dentro, para catalogar, classificar e retratar, a exuberante flora e a fauna brasileira. Se não éramos produtores de ciência, ao menos estaríamos na rota das pesquisas cientificas, levadas a cabo pelos naturalistas europeus, como Alexander Von Humboldt (1769-1859), Von Martius(174-1868), Darwin (1809-1882) e de pintores como Debret (1768-1848) e Rugendas (1802-1858)
Outro projeto civilizador foi a criação de academias de ciências e de faculdades de medicina e de direito, durante o reinado de D. João VI (1808-1820) com o objetivo de formar, sobretudo bacharéis em direito e de médicos e cultivar o espírito cientifico no Brasil, de outro lado ainda no império, e como solução a escassez de mão de obra escrava, estimulou-se a vinda de mão de obra livre e caucasiana (alemães, italianos, poloneses) para não só suprir a falta de mão de obra, como também para “embranquecer” o pais. Enquanto isto setores conservadores da intelectualidade nacional justificavam o nosso atraso, amparados nas teorias raciais e climáticas. O clima tropical influenciava no campo físico e mental a população local, que fazia do brasileiro um povo irracional e impulsivo, resistente à disciplina e aos efeitos da civilização e da inteligência.
De outro lado em nome da civilização, contra a “barbárie” (aqui identificada como fanatismo religioso, a pobreza e a miséria) que são mais efeitos das graves distorções sociais, o exército é utilizado como “força civilizadora” para sufocar qualquer expressão popular de autonomia que ameaçasse o projeto centralizador e autoritário. As inúmeras revoltas regenciais durante o império e ao longo da fase republicana, foram sintomas da aguda miséria das populações do Brasil profundo, relegadas a dominação dos coronéis, da igreja e esquecidas pelo poder central e expostas a um projeto modernizante, autoritário e excludente.
A civilização se identifica com os ideais de ciência na medida em que a ciência seria o produto mais acabado do processo civilizatório, é ela que garantiria o progresso material e espiritual do homem. Compreender como a ciência é vista e concebida pelos homens de ciência, como ela se une ao poder político é importante, sobretudo em um país como o Brasil onde a concepção de civilização e do progresso esteve ligada a um desenvolvimento que se traduziu numa modernização conservadora e excludente onde a figura do intelectual tecnocrata articulados ao poder deu sustentação a esse projeto. Fomos tão influenciados pelos ideais cientificistas do século XIX importados da Europa, e depois dos EUA, que a nossa bandeira trás uma máxima positivista: “Ordem e progresso”, slogan que traduz uma obcessão de nossas elites em impor a ordem ocultando a desordem, impondo o progresso, ocultando seu outro lado, a degradação da natureza e da sociedade. Aderir aos ideais cientificistas era uma forma de negar para muitos homens doutos, a herança colonial ibérica com seu apego a religião e avesso ao pensamento cientifico.
O historiado Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), acreditava que o processo de modernização e urbanização era o “remédio” para o mal de origem, ou seja, a nossa herança colonial ibérica. O fato é que cientistas e artistas brasileiros dos fins do século XIX e inicio do Século XX viam nas ciências aquilo que se opunha ao atraso identificado com a monarquia; a ciência seria a chave de acesso para o conhecimento mais isento e profundo do país. Assim a ciência e os cientistas eram tidos como a encarnação do inexorável avanço da modernidade, pontas de lança para o projeto de edificação de uma civilização nos trópicos; entretanto, o poder da ciência e dos cientistas, muitas vezes reforçavam velhas práticas que mantinham a ordem social vigente.
Outro projeto civilizador foi a criação de academias de ciências e de faculdades de medicina e de direito, durante o reinado de D. João VI (1808-1820) com o objetivo de formar, sobretudo bacharéis em direito e de médicos e cultivar o espírito cientifico no Brasil, de outro lado ainda no império, e como solução a escassez de mão de obra escrava, estimulou-se a vinda de mão de obra livre e caucasiana (alemães, italianos, poloneses) para não só suprir a falta de mão de obra, como também para “embranquecer” o pais. Enquanto isto setores conservadores da intelectualidade nacional justificavam o nosso atraso, amparados nas teorias raciais e climáticas. O clima tropical influenciava no campo físico e mental a população local, que fazia do brasileiro um povo irracional e impulsivo, resistente à disciplina e aos efeitos da civilização e da inteligência.
De outro lado em nome da civilização, contra a “barbárie” (aqui identificada como fanatismo religioso, a pobreza e a miséria) que são mais efeitos das graves distorções sociais, o exército é utilizado como “força civilizadora” para sufocar qualquer expressão popular de autonomia que ameaçasse o projeto centralizador e autoritário. As inúmeras revoltas regenciais durante o império e ao longo da fase republicana, foram sintomas da aguda miséria das populações do Brasil profundo, relegadas a dominação dos coronéis, da igreja e esquecidas pelo poder central e expostas a um projeto modernizante, autoritário e excludente.
A civilização se identifica com os ideais de ciência na medida em que a ciência seria o produto mais acabado do processo civilizatório, é ela que garantiria o progresso material e espiritual do homem. Compreender como a ciência é vista e concebida pelos homens de ciência, como ela se une ao poder político é importante, sobretudo em um país como o Brasil onde a concepção de civilização e do progresso esteve ligada a um desenvolvimento que se traduziu numa modernização conservadora e excludente onde a figura do intelectual tecnocrata articulados ao poder deu sustentação a esse projeto. Fomos tão influenciados pelos ideais cientificistas do século XIX importados da Europa, e depois dos EUA, que a nossa bandeira trás uma máxima positivista: “Ordem e progresso”, slogan que traduz uma obcessão de nossas elites em impor a ordem ocultando a desordem, impondo o progresso, ocultando seu outro lado, a degradação da natureza e da sociedade. Aderir aos ideais cientificistas era uma forma de negar para muitos homens doutos, a herança colonial ibérica com seu apego a religião e avesso ao pensamento cientifico.
O historiado Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), acreditava que o processo de modernização e urbanização era o “remédio” para o mal de origem, ou seja, a nossa herança colonial ibérica. O fato é que cientistas e artistas brasileiros dos fins do século XIX e inicio do Século XX viam nas ciências aquilo que se opunha ao atraso identificado com a monarquia; a ciência seria a chave de acesso para o conhecimento mais isento e profundo do país. Assim a ciência e os cientistas eram tidos como a encarnação do inexorável avanço da modernidade, pontas de lança para o projeto de edificação de uma civilização nos trópicos; entretanto, o poder da ciência e dos cientistas, muitas vezes reforçavam velhas práticas que mantinham a ordem social vigente.