Leia o Dia
Quais as chances reais de um garoto nascido na favela se tornar um médico, engenheiro, funcionário do Banco Central, etc.? Hoje já se fala na favelização da favela. Isto é, pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza dentro da favela, numa condição inferior à dos outros favelados. Como se nas favelas, dentro das suas peculiaridades, tivéssemos as classes superior, média e inferior.
Como estão as nossas escolas públicas? Aquelas do chamado ensino fundamental? Muitas delas se tornaram famosas, pela eficiência do ensino ministrado, sobretudo antes de 1964 e pouco tempo depois. Lembramo-nos da Escola Argentina, na Vinte e Oito de Setembro, da Panamá, no Grajaú, da Estados Unidos, no Rio Comprido. Para ficarmos apenas com três exemplos, quando na verdade praticamente todas eram do mesmo nível. Era a época das diretoras concursadas (provas e títulos). E não eleitas, como agora, ou simplesmente nomeadas, o que não é garantia quanto ao melhor desempenho na direção. Uma coisa é estar à frente de uma turma. Outra, à frente de uma escola.
Qual o apoio que recebem hoje os diretores (as) das escolas públicas? Qual o nível de preparo dos professores de hoje, quando já não temos mais o Instituto de Educação, da Mariz e Barros, ou a Escola Normal Carmela Dutra, de Madureira? Provavelmente ambos sem a mesma pujança que os tornou conhecidos.
E se as escolas forem próximas a morros cujos donos a gente sabe quem são?
Costumamos dizer que hoje todo mundo tem carro. Mas um número muitíssimo maior de pessoas não possui automóvel. E são essas pessoas que na verdade impulsionam o país. Com a ajuda da classe média. Não o contrário. No tempo do JB, houve quem imaginasse que ele e o Globo seriam os jornais mais vendidos. Puro engano. O de maior circulação era o Dia. Que, como o mais barato, podia ser adquirido por mais gente.
Mais verbas para a Educação. Quantas vezes já ouvimos isso? Além das verbas, será preciso um controle sério e rigoroso quanto à sua utilização, que deve ser objeto de uma fiscalização intensiva.
Por outro lado, é preciso que o país se posicione mais claramente quanto à questão das drogas. O exemplo de Mujica precisa ser levado a sério. Pelo fato de as drogas aliarem a capacidade de desconstrução moral de uma sociedade ao seu alto poder nocivo. Já que se trata de um mercado dos mais rendosos em todo o mundo. Capaz de corroer segmentos como o da Segurança e do próprio Poder Legislativo, a partir do envolvimento, nos dois casos, de muitos de seus integrantes.
Essas coisas num país que lidera a América Latina em índices de inflação e de desemprego, à exceção da Argentina, cuja situação parece estar próxima do desespero.
Rio, 03/06/2015