Nossos "Absurdos Éticos"
Uma das questões que menos procuro encarar é a proposição "senso-comum" que diz: "As pessoas são contraditórias e vivem na contradição". Na realidade o ditado é outro mas o sentido e a proposição acima o acompanham, enfim.
Meu problema é que "Não imaginamos uma contradição". Ou seja, contradições são impossíveis sequer de serem imaginadas. Por ex: Imagine um triângulo de 2 lados ou uma "bola quadrada". É uma impossibilidade. Então... como as pessoas são contraditórias se mal conseguem imaginar as crenças contraditórias que defendem? É um problema.
Diria que quando estamos em contradição é porque, por ex, não estamos conscientes que defendemos uma coisa, uma certa crença, mas agimos em completa oposição a essa crença. Ou seja, não paramos para pensar e refletir nesta impossibilidade: de "Agir em A crendo que B". Mas daí uma questão ontológica: se agimos em contradição... Mas é este o fato, "Não sabemos que agimos em contradição".
Pode-se, portanto, agir sabendo que se age em contradição? Claro que se pode. Mas quando se "Age em A crendo que em B", no fundo, não cremos em B, porque nossa ação (o que nos constitui enquanto tal) não acompanha nossas "palavras". Neste ponto a simples defesa de uma crença, deixa de ter sentido, diria até epistêmico -- porque verdadeiramente não se crê que B -- sendo somente, "palavras sem sentido".
Mas apesar de não ter sentido "epistêmico", pode ter sentido político, uma motivação individual... algo assim, ético... Humano. Como por exemplo, agir de má fé: "Eu prometo que vou colocar os filhos de todos os políticos para frequentarem a escola pública, porque só assim teremos uma educação de qualidade...".
Logo, conclui-se que: Quando não sabemos que estamos incoerentes, também "não o somos", Assim como "agir de má fé" (sabendo da incoerência) possui um sentido outro, seja ele qualquer que seja. Mas dizer que "não somos quando não sabemos", seria dizer que somos "racionais demais"... A questão é:
Quando agimos (pensando isso de forma analítica), o ato que não acompanha a proposição ou que a impossibilita, se desvencilha da primeira: O ato é como se fosse uma premissa, e a crença contraria outra. Em nós mesmos não conseguimos "enxergar" que ambas as premissas juntas "não podem coabitarem-se".
Mesmo olhando de fora, num ponto de 3º pessoa, por ex, alguém que saiba que João está agindo em contradição com suas crenças, quando João mesmo não sabe, pode-se dizer: João em dado momento age pela crença A, neste momento ele crê que A, mesmo crendo (dizendo) que crê em B. No momento 1 João Age como se cresse em A, no momento 2 João fala (age) como se cresse em B -- nos momentos distintos, ambos desconexos, João não é contraditório.
Somente no acaso de "João agir em A dizendo que crê em B" ele realmente é contraditório -- e vamos falar, João também é muito pouco consciente de si mesmo. Pode acontecer? Claro que pode. Mas imaginar um sujeito que "Age conforme A, falando que crê em B no mesmo instante, sem tomar consciência de tal contradição" é quase um absurdo. Mas absurdos acontecem a todo momento, até com nós mesmos.
Conclui-se, portanto, que sim, em dados momentos no alto de nossa pouca consciência de nós mesmos, podemos ser contraditórios. Vamos chamar estes momentos de "Absurdos Éticos". Eu ia dar um exemplo do tipo... Mas não vou mais.