Mobilidade urbana, o desafio do século
O brasileiro sofre com o trânsito caótico que congestiona as vias públicas. Nas grandes metrópoles e até em municípios menores o sistema viário mostra-se completamente saturado, levando os motoristas a permanecerem diariamente por horas a fio numa afluência excessiva de veículos, elevando consideravelmente o custo final dos bens e serviços. O grande gargalo urbano desafia quaisquer iniciativas das autoridades da área, que se empenham em criar alternativas viáveis para minimizar a morosidade no trânsito e se mostra o maior empecilho para uma melhor qualidade de vida da população.
Desde a estabilização da economia as estatísticas apontavam um crescimento excepcional na comercialização de veículos automotores. As montadoras contabilizavam novos recordes a cada ano, alavancados pelo crédito cada vez mais acessível. Com o aumento da frota circulante acentua-se sobremaneira a equivalência nos problemas do trânsito, onde a falta de espaço é evidente. As ruas, avenidas e rodovias brasileiras não oferecem a segurança necessária nem garantem uma fluidez pelo menos aceitável a esse fluxo inimaginável que aumenta a cada dia. A maior cidade da América Latina é a prova fiel desse desequilíbrio entre o crescimento econômico e a incapacidade em se gerenciar um trânsito desordenado e violento. O resultado dessa equação instável se reflete em dezenas de quilômetros de congestionamentos e não se vislumbra uma melhoria significativa em curtos e médios prazos.
A proporção entre a quantidade de veículos licenciados por número de habitantes vem aumentando rapidamente, mostrando que o brasileiro prefere o deslocamento individual ao transporte coletivo de massa. Existe a necessidade de investimentos significativos em caráter emergencial em todas as regiões do país, a fim de se fazer frente à demanda que ora se apresenta. Mesmo com a retração temporária na comercialização de veículos o quadro tende a se agravar num futuro próximo. É recomendável ainda que as ações sejam precedidas de uma análise consistente de prioridades que venham a abranger uma área específica, objetivando solucionar os problemas inerentes a uma determinada região. As obras de melhorias e ampliação das vias públicas deverão ser preferencialmente voltadas para uma expectativa que contemple algumas décadas com base nas projeções do crescimento da economia, privilegiando a acessibilidade do pedestre em sua complicada e desproporcional relação com os veículos.
Tradicionalmente o brasileiro se mostra arredio a mudanças que implicam uma nova postura em relação ao seu comportamento no trânsito, pois dependem diretamente da conscientização e da colaboração imediata do cidadão. A construção e ampliação de ciclovias é uma medida plausível e que apresenta resultados altamente satisfatórios. Essa modalidade de transporte foi introduzida com sucesso em Hamburgo na Alemanha e em Amsterdã na Holanda, considerada a capital das bicicletas. Os benefícios para a população foram imensos e a adesão ao veículo de duas rodas foi incondicional. Existem estudos para a implantação do trem de alta velocidade, ampliação das linhas do metrô e trens urbanos de superfície, criação e modernização de canaletas exclusivas para coletivos urbanos, além de obras relevantes de infraestrutura viária.
Enfim, espera-se que o cidadão participe efetivamente no sentido de contribuir com o sistema, que se mostra altamente complexo e de difícil resolução. É dever de cada um aderir a ações que visem o bem comum, provando sua disposição para uma mudança definitiva de paradigmas. Como por exemplo, utilizando o transporte público, ou caminhando algumas quadras, ou ainda pedalando um pouco. A saúde, o bolso e o meio ambiente agradecem.