A questão da violência contra mulheres

A QUESTÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES
Miguel Carqueija


Muito se discute hoje, no Brasil — uma verdadeira grita — sobre esse assunto. As agressões e assassinatos de mulheres (inclusive por parte de maridos, amantes e namorados ou ex-tudo isso) parece que só vêm aumentando nos últimos anos, apesar da Lei Maria da Penha.
Acabo sempre me lembrando de certos fatos, quando reflito nessa questão.
Por exemplo: minha mãe muitas vezes me contava coisas que havia escutado durante o dia, na rádio. Certa vez referiu-se a um debate radiofônico justamente sobre esse tema, mais especificamente, mulheres que apanhavam dos maridos. E nesse dia uma senhora telefonou para o programa e deu o seu depoimento. Contou ela que durante seis anos, apanhara do marido. Um belo dia, porém, resolveu reagir —e nesse dia ele saiu pela janela e nunca mais voltou.
Ela não conhecia a própria força...
Faz pouco tempo — creio que um ano mais ou menos — enviaram-me um vídeo muito interessante e até engraçado, se bem me lembro passado numa estação do metrô de Paris, e flagrado pelas câmeras de vídeo. Uma garota de aspecto normal, de saia e blusa, teve a sua bolsa arrancada por um rapaz bem mais alto, que simplesmente ia embora com o produto do roubo. Mas ela o segurou e, quando ele se voltou para repeli-la, a moça simplesmente deu-lhe um chute nos testículos. O sujeito se dobrou com a dor, e disso ela se aproveitou para acertar-lhe um pontapé na cara, derrubando-o de vez. Então, a pequena heroína pegou sua bolsa de volta e se foi. Não sei se o sujeito foi preso, mas não creio que ele esqueça a experiência. Foi mexer com a garota errada...
Nos anos 70 aconteceu, no Rio de Janeiro, um caso rumoroso embora hoje esteja esquecido: uma garota de nome Monica, 19 anos, foi atraída ao apartamento de um sujeito pouca coisa mais velho, que a ameaçou com uma faca de cozinha, e ordenou que ela se despisse. A jovem obedeceu, ficando nua da cintura para baixo. Ele então largou a faca sobre a mesa, para poder se despir também. Ela simplesmente se apossou da faca e acabou com ele. Não foi nem a julgamento.
Imagino que, a essa altura, algumas pessoas devem estar perguntando: — Onde é que esse cara quer chegar? Será que ele acha que a mulher é que tem que se virar sozinha quando é agredida ou atacada pelos homens?
Bem, não é nada disso. É claro que isso nem sempre será possível. Mas, a essa altura entendo que os pais de meninas devem estimular suas filhas a aprender defesa pessoal, e quanto mais cedo melhor. Além disso devem ensinar moral de costumes, inclusive para que as jovens saibam o tipo de homens e garotos que devem evitar — aqueles de maus costumes, desbocados, que não gostam de crianças, que maltratam animais, sexualmente promíscuos, sem religião, grosseiros e mal-educados, viciados em drogas ou alcoólatras... machistas...
Mas é claro que as autoridades constituídas não podem se eximir de suas responsabilidades. Infelizmente, na Idade das Trevas o Brasil vive a cultura da impunidade. Grita-se, mas a própria mídia estimula o culto da violência e agressividade, seja pelo “funk” com letras horrorosas que desprestigiam a mulher, ou as novelas de tv onde a mulher costuma ser maltratada, filmes que mostram monstruosidades de psicopatas, livros que focalizam sádicos e viram “best-sellers”, o deboche contra valores morais, duvidando-se da existência de mulheres direitas...
Nunca me esqueço que um dia comentei com um amigo sobre a revelação feita por Rita Pavone em seu livro autobiográfico “Nel mio piccolo...”, ou seja, que ela casou virgem. Esse amigo ironizou, duvidou — pouco faltou para debochar. Mas, que há de tão inverossímil em que uma cantora de fama mundial se case virgem? Rita Pavone é uma artista séria e, se declara isso de forma taxativa em seu livro, é porque fala a verdade — tanto mais que se arriscava justamente a tais zombarias. No caso da Rita, ela tem formação católica.
Esse tipo de mentalidade, quando exacerbado, leva homens a assassinarem suas esposas ou namoradas por conta de suspeitas e ciúmes sem fundamento, mesmo qando eles próprios não são fiéis. Simplesmente, duvidam da virtude feminina quando eles é que são sem-vergonhas.
Quanto às autoridades públicas, é seu dever garantir a segurança de todos os cidadãos, mas especialmente os mais vulneráveis ou visados. Infelizmente falta vontade política de apertar o cerco aos criminosos, que já contam previamente com a impunidade, neste sistema leniente que, por outro lado, faz pouco caso das vítimas, pois para estas parece que não existem os direitos humanos.


Rio de Janeiro, 27 de maio de 2015.



imagem: figura de guerreira (downloadwallpapers)