RESIDENCIAIS JARDINS DO CERRADO, UM BAIRRO PERIFÉRICO ESQUECIDO - PARTE XV (FINAL)
Depois de escrever muito sobre os Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, a conclusão que se chega é que realmente são bairros periféricos esquecidos pelo poder público. Podemos dizer, categoricamente, nesta parte final que o programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal, surgido em 2009, com o objetivo de reduzir o déficit habitacional brasileiro, tido como um dos problemas mais crônicos do Brasil, trouxe à tona outros problemas, aparentemente, ainda mais problemáticos, como o descaso com a classe baixa, o esquecimento e abandono do poder público em relação às crianças, adolescentes, idosos, deficientes e comunidade em geral.
Ora, verdade que na primeira fase do programa Minha Casa, Minha Vida, entre 2009 e 2011 foi construída um milhão de moradias e até 2014, na segunda fase do programa, o Governo Federal pretendia atingir a marca de dois milhões de casas e apartamentos construídos, assim, não há como negar, o programa Minha Casa, Minha Vida realmente livrou milhares de famílias do aluguel, porém, passados seis sofridos anos da criação desse programa, a exemplificar pelos Jardins do Cerrado, invés de ter transformado o sonho da casa própria em realidade para muitas famílias brasileiras, se transformou num cruel pesadelo, impossibilitando as famílias contempladas usufruir de sua moradia dignamente.
Já dissse aqui mesmo que o programa Minha Casa, Minha Vida se consolidou de modo forçado, isto é, mais publicidades e menos desenvolvimento infraestrutural. Esse modelo de programa nada mais é que um reforço do poder público para a concretização do modelo periférico de urbanização, por meio da edificação de extensos “conjuntos habitacionais” nas regiões periféricas das metrópolis sem oferecer a infraestrutura básica, como se os cidadãos fossem apenas lixos e o espaço usado para abrigarem não passassem de gigantes lixeiras.
Não resta dúvida que a ideia de livar famílias do pesado aluguel por parte do Governo é um cumprimento constitucional, mas a edificação de complexos habitacionais em espaços muito distantes da urbe é uma ação excludente e preconceituosa em relação às classes de pouco ou nenhum poder aquisitivo.
Aqui em Goiânia, por exemplo, embora a ideia da instalação dos conjuntos habitacionais também tenha sido das melhores, já se comprovou que o programa Minha Casa, Minha Vida não deu certo. E durante essa temporada venho dando um exemplo claro e visível disso que são os Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, complexo habitacional localizado na região oeste da Capital, que possui ao todo 2. 378 casas e 1. 808 apartamentos habitados. Como vimos, além de o conjunto habitacional não ter sido entregue com a infraestrutura necessária, as casas foram entregues aos moradores somente no contrapiso, as ruas aida continuam sem asfalto, posto de saúde funciona de modo precário, escola e creche não atende a demanda e as linhas de ônibus ainda são muito ineficientes. Verdade é que até a presente data, pouquíssimas mudanças foram feitas, pouquissímos benefícios chegaram ao empreendimento habitacional e o pouco que chegou não foi pela vontade das autoridadades competentes, foram árduas as lutas dos moradores até a conquista. Contudo, a poeira, se na seca, ou a lama, no período chuvoso continua tomando conta das ruas. Erosões ainda cobrem adultos e oferecem riscos às crianças. Crianças que não tem nenhum ambiente para brincar, a não ser rústicos campos de chão batido, praticamente construídos pela própria comunidade, através da Associação dos Moradores, Grupo Rosendo Conceição e Projeto Meninos do Cerrado.
Desse modo, como se não bastasse o fato de o bairro ter sido entregue aos moradores sem nenhuma infraestrutura, passados seis fatigáveis anos de sua existência, atualmente cerca de trinta mil moradores de baixa renda não contam com os direitos básicos garantidos pela Constituição Federal! Falta asfalto, rede de esgoto, segurança, praça, área de lazer etc., mas, um dos maiores dramas vividos pelos moradores é a falta de escola e creche para atender toda a população.
Excetuando duas pequenas escolas das primeiras fases do Ensino Fundamental, uma da última fase e duas creches municipais que não conseguem atender nem 30% da classe estudantil, as escolas estaduais mais próximas se localizam a cerca de 8 quilômetros e estão situadas em outros bairros. Sem falar que as mais próximas não comportam a classe estudantil do bairro. Por conta do descaso do poder público, para com a comunidade dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, todos os dias mais de 900 alunos, tanto da rede estadual quanto da rede municipal de ensino se aventuram pelas GOs, em transportes coletivo precário, a caminho das escolas, quando o essencial seria a construção de equipamentos educacionais que atendessem todos os alunos do complexo habitacional para que não corressem risco de acidentes durante o trajeto da moradia à escola e vice-versa.
Lamentavelmente, os idealizadores do programa Minha Casa, Minha Vida fingem não saber que, afastados dos centros urbanos, os moradores desses complexos habitacionais espalhados por todo o Brasil são obrigados a conviver com a inexistência ou insuficiência de transporte público de qualidade, equipamento escolar, posto de saúde, preservação ambiental, área de lazer e saneamento básico.
Pois bem, chegamos ao fim desta nossa viagem pelos Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido. Muito obrigado ao Diário da Manhã e aos nossos leitores. Até a próxima aventura!
Gilson Vasco
escritor