A NOSSA VIDA E OS ERROS ALHEIOS

Buda disse: “É muito fácil mergulhar na imprudência, ser atrevido e impertinente como um corvo, magoar os outros sem sentir nenhum remorso pela ação cometida. Contudo, é muito difícil sentir-se humilde, saber respeitar e honrar, livrar-se de todos os apegos, manter o pensamento e os atos puros e tornar-se sábio.

É fácil apontar os erros alheios, mas é difícil admitir os próprios erros. Um homem divulga os erros dos outros sem pensar. Entretanto, oculta os seus próprios erros, como um jogador esconde falsos dados”.

Eis um desafio! Eis um puxão de orelha dirigido a muitos seres humanos! A mim? Como viver sem ser crítico e sem divulgar os erros dos políticos corruptos? Como viver sem dizer nada a respeito dos políticos que roubam o povo? A Filosofia, a Sociologia, a Antropologia, a História, até a Língua Portuguesa (com seus textos sobre sociedade e cidadania) nos convidam ao senso crítico e a agir contra os erros sociais e políticos.

Como viver em sociedade, participar ativamente da vida social, sem criticar os políticos e sem mostrar seus erros, por deixarem o povo sem saúde, sem educação, sem trabalho, sem moradia, com crianças e jovens no mundo das drogas, com a violência dominando o país? Como viver sem adotar o que nos diz Gonçalves Dias, quando afirma que “a vida é combate” e que devemos nos fortalecer através da luta? Como viver sem divulgar os erros de quem tenta nos diminuir? Como viver, sendo crítico (ainda que do bem), sem aceitar os combates que a vida nos impõe? Fugir da luta?

Talvez o filósofo Epicuro esteja certo, quando nos faz este convite: “Livremo-nos amplamente do cárcere das ocupações cotidianas e da política... Retira-te para dentro de ti mesmo, sobretudo quando és constrangido a estar entre a multidão... Vive oculto”. Às vezes, eu tenho vontade de aceitar esse convite.

Mas a História, a Sociologia, a Filosofia, a Antropologia e a Língua Portuguesa (com seus conteúdos críticos) nos convidam a viver em sociedade, a ser pessoas críticas. Aristóteles nos diz que “o homem é, por natureza, um animal político”, ou seja, o homem deve viver em sociedade, tem a necessidade natural de estar no mundo social.

Mas Buda nos ajuda a evitar a cobiça, a termos a mente pura e tranquila, a alimentarmos a mente de caridade. Podemos, “nos labirintos da vida humana”, buscar a sabedoria e a virtude, tesouros buscados por Buda e por Sócrates. Podemos, nas vidas pessoal, social e política, seguir estes ensinamentos preciosos de Buda: “Não ser ganancioso; não ser irritadiço; não perpetrar atos nocivos; evitar palavras falsas, inúteis, abusivas e ambíguas; não destruir nenhuma vida; não roubar; não cometer adultério; manter a mente pura e atenta; fugir da ira e da ignorância; abandonar o ódio; evitar todo mal, procurar o bem, conservar a mente pura”.

Certamente, Jesus Cristo aprova esses princípios de vida. É difícil chegar a esse nível, mas não é impossível.