O PODER DE UM CARRO

Observando o comportamento de alguns motoristas no trânsito de Natal, cheguei à conclusão de que um carro dá muito poder àquele que o conduz. O carro é realmente uma arma muito poderosa e perigosa na mão de algumas pessoas que guiam pelas ruas da Cidade do Sol, ou por este Brasil a fora. Dentro de um veículo, o indivíduo sente-se poderoso ao ponto de ser descortês, mal educado, mal criado, enfim, completamente esquecido do que significa a palavra civilidade, em relação ao motorista do veículo ao seu lado.

Uma boa parte dos motoristas reveste-se de grande poder quando está ao volante do um carro, e desse modo, acredita que a pista por onde trafega está disponível somente para ele, que se sente no direito de ouvir o som do seu carro no volume que bem entender, como se os outros fossem obrigados a gostar do mesmo estilo musical que ele.

Assim, acaba por também sentir-se no direito de xingar a mãe do outro, furar a fila, parar em fila dupla, ultrapassar pela direita, não fazer uso da seta para indicar àquele que vem atrás qual a direção que vai tomar e o pior: estaciona o veículo nas vagas reservadas para os idosos e para os especiais, sem a menor cerimônia. E, na maior “cara de pau”, quando é flagrado nesse desrespeito, afirma na maior desfaçatez: “é rapidinho e já vou sair”.

Não é difícil verificar que a qualquer momento, o tráfego pode ficar congestionado simplesmente por causa de uma briga de trânsito provocada pela falta de educação de algum motorista. Muitas destas brigas podem acabar em morte, quando a situação poderia ser solucionada com uma simples palavra, quase esquecida quando se trata de briga de trânsito: desculpe. Quase ninguém mais usa esta palavra no trânsito, porque dificilmente alguém assume seu erro quando se trata de dirigir um veículo.

Verifica-se que no trânsito, especialmente na cidade onde vivo, já não existe tolerância, paciência ou cordialidade entre as pessoas sempre tão apressadas, atrasadas e estressadas para o cumprimento das suas obrigações. Com a pressa desenfreada imposta pela vida moderna, as pessoas tornam-se deseducadas e grosseiras umas com as outras. E mais: uma boa parte acha isso natural.

O público masculino, que pela própria natureza já se sente “dono do mundo”, piora muito seu comportamento quando está ao volante de um carro. A situação ainda fica pior dependendo do tamanho do veículo: quanto maior for o carro, maior será o poder que seu condutor acredita possuir. Se o veículo for daqueles grandões importados, o sujeito que o dirige acha que é um deus e os outros devem curvar-se diante dele.

Desse modo, se uma mulher estiver no trânsito ao lado de um homem que conduz um veículo desses importados e bem grandes, pode preparar os ouvidos porque certamente vai ouvir pérolas do tipo: “lugar de mulher é na cozinha”. Ora bolas, o lugar da mulher é onde ela quiser e bem entender estar.

É importante lembrar que as mulheres, de acordo com estudos realizados, são consideradas melhores motoristas do que os homens. É por isto que as indústrias automobilísticas investem em veículos voltados exclusivamente para o público feminino. É por isto também, que as empresas de seguro oferecem descontos significativos às mulheres, porque elas envolvem-se menos em acidentes e quando se envolvem, os danos verificados nos automóveis são de menor gravidade.

Outra constatação triste é a falta de punição aos assassinos do trânsito. Quem tem a desdita de matar alguém no trânsito, seja por descuido, acidente, fatalidade, seja lá por que motivo for dificilmente irá para a cadeia. Aliás, vivo me perguntando para que existem tantas leis no Brasil – ao que eu mesma respondo: para não serem respeitadas. Afinal, fica claro que as mortes por acidentes de trânsito, na maioria das vezes, acabam mesmo sem punição. (NL 26.04.2015)