OS JOVENS E O MUNDO DO CRIME

Nota - Um texto para quem gosta de ler

É muito fácil mostrar-se uma pessoa que defende os adolescentes e/ou jovens em um país que não se preocupa com a estrutura familiar de seu povo. É muito fácil gritar aos quatro cantos do mundo o desejo de uma educação de boa qualidade para todos os brasileiros. É muito fácil dizer que os adolescentes ou jovens precisam de apoio dos representantes do povo brasileiro; que lugar de criança é na escola, mesmo sabendo que uma pessoa de 16 anos de idade não é mais uma criança. É muito fácil dizer que a educação resolve o problema da violência, da criminalidade. Mas toda pessoa merece e deve estudar. É muito fácil dizer que devemos dar oportunidades iguais para todos os brasileiros. Sim, eu sou a favor de oportunidades iguais e dignas para todos.

Mas não é fácil compreender e admitir que muitos adolescentes e jovens não querem nada com escola nem com trabalho; que muitos adolescentes não querem ouvir seus professores; que professor é saco de pancada, no sentido figurado e no sentido literal do termo, de muitos adolescentes e jovens; que muitos jovens e adolescentes mentem para seus pais: dizem que estão na escola, mas não estão. É difícil falar da importância do estudo a um adolescente que afirma isto ao professor: “Trabalhar em São Paulo é melhor do que estudar, pois o meu irmão em seis meses ganha mais dinheiro do que você ganha aqui dando aula. Estudar não é importante”. Como convencer um adolescente desses da importância do estudo?

O que dizer de um adolescente que leva um revólver para a escola? O que fazer com ele? O que dizer de um jovem que leva uma faca para a escola? O que fazer com ele? Apenas conversar? O que fazer com um grupo de alunos que se propõem, numa escola, a ridicularizar, sistematicamente, uma aluna ou outro aluno? O que fazer com esses alunos que ridicularizam outros em sala de aula e/ou na escola? Não é na escola que eles estão? Não lhes falta escola. O que fazer com um aluno que mata uma professora porque ela não o aceita como namorado? Tudo isso acontece no Brasil. Não estou inventando nada. Esses alunos não estão na escola? Será que uma pessoa de 16 anos ainda não foi ensinada pelos pais a respeitar a vida humana? Será que uma pessoa precisa ter mais de 18 anos para saber que a vida humana é sagrada, inviolável? Será que uma pessoa de 16 anos ainda não teve a oportunidade de aprender a respeitar todas as pessoas? Será que uma pessoa de 16 anos ainda não sabe o que é certo e o que é errado fazer? Onde estavam seus pais durante esses dezesseis anos? Onde estavam seus pais durante os 5.844 dias? Isso mesmo! 16 vezes 365= 5.840. Este resultado mais 4 dias (dos quatro anos bissextos em 16 anos)= 5.844 dias de vida. Onde estavam os pais desse jovem durante todo esse tempo? Esse tempo todo não foi suficiente para formar o caráter desse jovem? Onde estava o Estado brasileiro para proporcionar uma vida digna para a família desse jovem? Onde estavam as igrejas? Obs.: O meu respeito às igrejas, principalmente à Igreja Católica, que me ajudou a aprender a pensar.

Também não é possível educar bem uma pessoa tendo um revólver ou outra arma para matar gente em casa. Revólver só serve para matar gente. Lamentável! Se um pai guarda uma arma de fogo em casa, em algum momento um filho desse cidadão vai encontrar essa arma e brincar de matar gente com ela. Isso acontece no Brasil. Assim, ninguém educa ninguém. É preciso deixar de usar arma de fogo também. Se o pai deixar a arma sem bala, para que seu filho não encontre o revólver com bala, se um bandido vier, pegará o pai de família desprevenido, e a arma do cidadão não servirá para nada. Se deixar com bala, será um perigo para a família. O certo, pois, é não usar arma.

Eu gostaria de continuar com as mesmas ideias suaves que eu já tive. Eu gostaria de pensar da mesma forma como pensava até há pouco tempo. Eu gostaria de pensar que a educação escolar é a solução para todos os problemas deste país. Mas quando eu vejo que os políticos corruptos brasileiros tiveram uma boa educação escolar, eu reconheço que educação escolar não melhora caráter de ninguém. Repito: educação escolar não melhora caráter de ninguém. Se melhorasse, não teríamos políticos corruptos. Se melhorasse, não existiriam terroristas, pois os terroristas têm um alto nível de inteligência e grandes conhecimentos. Aqueles que não são corruptos não o são por causa da educação escolar que receberam, mas por causa dos princípios morais e éticos que aprenderam em suas famílias e em suas igrejas; principalmente em suas famílias. A família é a primeira instituição social. Obs.: Eu sou um defensor da educação. Não me interprete mal. Eu estudo todos os dias.

Por que houve jovens e adolescentes de certa cidade do Brasil que entraram para o mundo do crime e passaram a amedrontar o povo dessa cidade? Foi falta de escola? Foi a realidade de suas famílias que os fez bandidos? Não foi falta de escola. Não foi a realidade de suas famílias. Por que outros adolescentes, em tempos anteriores e em situações piores (na falta de oportunidades de estudo), não se tornaram criminosos? Por que não desistiram da vida? Seus pais não eram menos pobres do que os pais dos criminosos foram e são. Por que não desistiram da vida? Por que não desistiram de tudo? Por que tanta gente que passou fome (não estou fazendo um louvor à fome), eu não sofri fome (graças a Deus), não entrou para o mundo do crime? Fome não justifica crime. Fome não justifica violência. Fome não justifica um mau caráter. Falta de escola não justifica a violência, nem o uso de drogas.

Certo jovem me disse que fazia isto quando era criança e adolescente: “Caçava o jumento no mato; buscava água distante (de jumento e no ombro, quando não encontrava o animal; buscava água de bicicleta); depois, quando passou a pegar água em outro lugar, ele ia de carona (com outras pessoas) e ficava esperando a boa vontade de um caminhoneiro ou de um motorista de ônibus que parassem, dessem-lhe carona e lhe deixassem colocar os galões de água nos caminhões ou nas gavetas dos ônibus até onde ele morava, porque onde ele morava não havia água. Podia ser qualquer outro carro cujo condutor tivesse um bom coração e cujo carro pudesse transportar a água. Certa vez, ele saiu de casa às dez horas da manhã e chegou às dez horas da noite”. Por quê? Porque não era todo caminhoneiro ou motorista de ônibus que ajudavam. A sua mãe comprava banana muito longe, e ele ia buscar de jumento; ia ao mato colher pequi e bacuri. Além disso, ainda lutava para conseguir estudar muito distante de casa. Por que essa criança não desistiu da vida? Será que os criminosos de certa cidade tiveram menos chance do que essa criança? Não. Na verdade, eles tiveram oportunidades de crescer. Mas mataram e morreram. Três ou quatro jovens que entraram no mundo do crime morreram. Três eram assassinos. Por quê? Faltou oportunidade de estudo? Não. Eles tiveram mais dificuldades na vida do que tantos outros jovens e adolescentes? Não! Por que a criança mencionada não se tornou um bandido? Deve ter sido por causa de Deus e do caráter de seus pais e de seu irmão materno que essa criança via todos os dias, principalmente o rigor de sua mãe. Essa criança admirava muito o jovem que seu irmão materno era. Obs.: Todo mundo aprende o que vê.

Quem é contra a redução da maioridade penal afirma, cheio de certezas, que somente um número muito pequeno de crimes é cometido por pessoas de 16 ou 17 anos. Destacam que a redução da maioridade penal não vai acabar com a violência no Brasil. Por isso, dizem que a redução da maioridade penal não é o caminho certo. Isso é um sofisma. É claro que não vai acabar mesmo. A violência e os crimes não são cometidos – está claro, é visível – apenas por jovens e adolescentes. No entanto, isso não é desculpa para permitir a impunidade neste país; para deixar que criminosos continuem impunes. Não é desculpa para que pessoas de 16 ou 17 anos de idade não sofram as consequências de seus atos. É injusto fugir às consequências do que se faz.

A redução da maioridade penal poderá diminuir a violência, mas nunca poderá eliminá-la. Enquanto tivermos seres humanos na face da Terra, sempre teremos violência. Ninguém foge dessa realidade. No entanto, faz-se necessário procurar a eliminação de todos os fatores causadores da violência social, familiar etc.

Precisamos de leis que punam todos os criminosos. Para cada crime deve haver uma punição específica, não importa a classe social ou a faixa etária do indivíduo. Para cada ação errada deve haver uma reprovação equivalente. Se um aluno não estuda e não obtém os resultados suficientes para sua aprovação, qual é o resultado desse aluno no final do ano? Reprovado! Se uma criança de 10 anos não quer estudar, os pais podem, como punição, impedir que essa criança veja programa de televisão, por exemplo. Os pais não precisam usar violência. Não é bom, nem aconselhável, nem justo, nem humano ser violento com quem quer que seja, mas é importante aplicar uma punição de acordo com a pessoa e com a gravidade do erro cometido. Ninguém cresce sem sofrer as consequências de seus maus atos. Gandhi dizia: “É injusto e imoral tentar fugir às consequências dos próprios atos”.

Em certo artigo, alguém se posiciona contra a redução da maioridade penal para 16 anos. Essa pessoa defende “a prevenção, a educação, os serviços públicos de qualidade, a cultura, os programas que combatem a miséria e a pobreza, o planejamento familiar, uma polícia mais inteligente e menos militarizada, que seja bem paga e equipada e bem próxima das comunidades”. O autor desse artigo defende “o papel de ressocialização dos presos, com trabalho e educação, penas alternativas para quem rouba uma galinha”. Tudo muito bonito! Eu não sou contra essas ideias. Concordo! No entanto, eis o erro e a contradição que essa pessoa comete: “... que tal defender a descriminalização das drogas? Foi assim que países bem pacíficos conseguiram resolver esse problema. É com a razão, é com o cérebro”.

É cômico e contraditório: o autor do artigo defende “a prevenção, a cultura, o planejamento familiar”, mas incorre no erro de incentivar o uso legal de drogas. Ninguém precisa de drogas para ser feliz ou para viver bem. Uma pessoa equilibrada não usa drogas, a não ser um remédio quando é necessário. Remédio é droga. Na hora de recuperar a saúde ou preveni-la, podemos e devemos usar remédio, que é uma droga. Só nos casos de saúde.

Quem é contra a redução da maioridade penal dever ser contra também o uso de bebida alcoólica por adolescentes. É um caso de coerência. Pois a bebida alcoólica é causadora de violência e é droga. Quem é contra a redução da maioridade penal deve ser contra o uso de cigarros por adolescentes, que é droga.

Eu sou contra as drogas. Eu sou a favor da redução da maioridade penal. Defendo a punição de toda e qualquer pessoa que cometa um crime, não importa quem seja o criminoso. Quem é contra a redução da maioridade penal pergunta: “Você gostaria de ver um filho seu de 16 anos sendo preso?” Eu respondo: eu não quero que ninguém próximo a mim seja criminoso. Eu não desejo ter nenhum parente preso. Quem deseja ter um parente preso? Ninguém que seja do bem deseja isso. No mínimo, eu digo: ninguém do bem deseja ter um parente preso, não importa a idade do parente. Digo no mínimo porque o amor nos impede de querer que uma pessoa querida seja presa. No entanto, como cidadãos, temos a obrigação de desejar que a justiça seja feita, não importa quem tenha cometido um crime.

Infelizmente, este país chamado Brasil não está preparado para proporcionar uma vida com dignidade para todos. A corrupção mantém o domínio sobre este país. Os traficantes não são punidos. Os criminosos fazem o que querem. O preconceito está arraigado nesta sociedade. Os presídios são desumanos. Mas muito mais desumano é tirar a vida de alguém. Precisamos cuidar das nossas famílias. Precisamos cuidar da nossa alma, como dizia Sócrates. Precisamos cuidar do nosso caráter. Precisamos cuidar da política deste país. Mas os corruptos continuam zombando da nossa tolerância diante da corrupção que, desde a chegada dos europeus, existe neste país. A corrupção rouba o dinheiro da saúde, da educação, do lazer, do esporte, da cultura. Mas muitos brasileiros não se dão conta de que este país nunca vai melhorar se continuarmos a permitir que os políticos roubem o povo brasileiro. Que dinheiro os políticos vão depositar na educação, no esporte, na saúde, na cultura, no lazer, se o dinheiro dos impostos é desviado para o bolso desses políticos? Muitos brasileiros ainda se orgulham de defender um governo corrupto que rouba o povo e ainda engana esse povo com migalhas e com a propaganda de que está em defesa dos adolescentes deste país. Se tivesse em defesa dos adolescentes deste país, esse governo não estaria roubando o povo. Os ingênuos acreditam. Os interesseiros defendem esse governo. Mas, como dizia Platão, a multidão não filosofa. Ou seja, a multidão não usa adequadamente a razão.

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 21/04/2015
Reeditado em 21/04/2015
Código do texto: T5215087
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.