Sobre o Dia do Autismo - Com as tijoladas do preconceito eu construo a minha fortaleza

Prólogo: como presidente de uma ONG aqui na minha cidade, escrevi esse texto um pouco mais dirigido ao público daqui. Mas como a nossa causa é uma causa global, gostaria de compartilhá-lo com todas as pessoas.

Obrigada pela leitura. Segue o texto:

Com as tijoladas do preconceito eu construo a minha fortaleza

Viva o 2 de Abril!

Proponho um exercício a você. Vá até o espelho. Pense em tudo o que te traz insatisfação. Deixe transbordar tudo. Tudo mesmo. Olhe para o espelho e diga, com verdade: “eu odeio quem odeia!”. E então, olhe bem para a sua cara.

Certamente vai ver ali a pura expressão de tudo o que mais odeia. E vai perceber que pode, sim, carregar tudo o que rejeita dentro de você mesmo.

O que isso tem a ver com o dia 2 de abril?

Tudo.

O dia de hoje, assim como muitos outros que buscam a conscientização em torno de uma causa, tem como objetivo maior, se não a extinção, pelo menos a diminuição significativa do preconceito. A nossa causa é o autismo. Queremos que as pessoas compreendam os autistas e o seu mundo. Mundo que também é nosso. Mas não SÓ nosso. Com o exercício do espelho, percebemos que, no final das contas, estamos todos na mesma grande barca.

Hoje a AMA Brusque ainda não consegue alcançar nem um décimo dos objetivos que nos movem. Queremos fazer tanta coisa! Queremos oferecer atendimento, queremos dar suporte às famílias, queremos acolher quem de nós precisa. Queremos estar presentes em todas as escolas, nas universidades, nos locais de trabalho, nos clubes, nos postos de saúde, enfim, em cada lugar onde tiver um autista que precise de nós. Mas no momento isso é impossível e não sabemos se um dia conseguiremos mesmo chegar perto de tamanho objetivo.

No entanto, todos esses fins têm um meio que é comum a todas as causas, todas as questões que precisam ser esclarecidas: a informação. Essa é a nossa principal arma. Essas são as melhores pedradas que podemos dar no preconceito. Se não vamos conseguir destruí-lo, ao menos vamos fazê-lo perceber a dor que provoca. Não adianta construirmos muros contra muros. Assim, a guerra nunca acaba. O melhor meio de esclarecer é levar luz onde tudo já está escuro.

Esse tem sido o principal trabalho da AMA Brusque hoje e sempre será o melhor caminho para que as pessoas conheçam e se surpreendam da melhor forma possível percebendo que o autismo é apenas mais um mundo dentro de um mundo formado por diversos mundos.

Pergunte-se: antes do diagnóstico, o que você sabia sobre autismo?

Troque as palavras-chave e transfira essa pergunta a todas as situações do seu dia-a-dia, no trabalho, em casa, na escola, no clube, no cinema, na fila do banco... O preconceito está em todos os lugares, inclusive dentro de nós mesmos.

Como presidente da AMA Brusque, mando um abraço especial a cada pai e cada mãe que sabe que suas palavras e seus atos precisam ser premeditados. Que sentem a pressão e a opressão de ter que explicar (ou não...) as ações e reações de seus filhos. Que carregam nos ombros o peso das intermináveis e cansativas justificativas que não são nossas nem dos nossos filhos, servem apenas para aquietar os outros para que nos deixem em paz. Que veem olhares de “compreensão” ao mesmo tempo em que “leem” pensamentos de pura e simples censura porque não, não vamos conseguir atender a tantas expectativas.

Não percam suas forças. Não desistam da esperança. Já que nos colocaram na caixinha dos “diferentes”, façamos a diferença, então. Ainda que, como dizia Cartola, o mundo seja um moinho, estanque a dor do mundo. Não tenha preconceito contra quem tem preconceito.

Mude o curso.

Seja luz.

E conte conosco para isso. Se falar, explicar, desenhar ou agir não adiantar, chame a AMA Brusque. 

Abraços a todos.

Giselle Zambiazzi

Presidente AMA Brusque