NUM "BLUE" EM PLENOS TONS DUM CINZA

Enquanto ainda nos é permitido opinar:

Sempre que escrevo sobre sociedade minha força motriz é o respeito pela cidadania.

Tenho me esforçado para acreditar, mesmo com todas as nossas tão "minadas" forças sociais, que é possível sim se construir (ou melhor, se reconstruir) uma História de direitos cidadãos plenos nos quais a dignidade das pessoas possa ser a bandeira principal para nortear todas as demais conquistas cidadãs prioritárias.

Todavia, é impossível negar, mesmo não sendo eu uma pessimista contadora de boatos fatídicos, que atualmente a avalanche de fatos noticiados aos cidadãos brasileiros nos coloca numa assustadora tela refém e descorada de direitos desrespeitados, aqueles que constam lá na Carta Magna, onde nos descolorimos a cada dia, numa tela insípida de vários tons de cinza.

Somos atualmente, acreditem, uma sociedade que os psiquiatras chamariam dum "estado (com letra minúscula) de latência blue".

O maior perigo patológico: é que nos tornemos um "Estado Blue", e eu explico que seria como uma situação em que o Blue significaria uma anedonia social, uma situação de perda da visão, da iniciativa, da vontade, do dinamismo que nos impulsiona para frente.

Enfim seria, diante da amputação da crítica, do pensamento e das referências otimizadas de bem estar social, o desenho dum triste conformismo patológico numa tela programática ao longo dum curto tempo que interessaria a alguns.

Decerto que muitos doutos em politicas entendem perfeitamente de antropologia social blue em evolução para tons de cinzas e sabem que é mais fácil nocautear socialmente uma tela apagada.

O blue, nesse caso, poderia então ser o mais triste tom de cinza que um conjunto social poderia experimentar, sob a argumentação neurolinguística de que somos um país em evolução.

Metaforicamente tão triste, quais seriam nossos tons de cinza?

Antes de responder apenas ilustro com um diálogo que ouvi na televisão, que me moveu na escrita, quando numa reportagem sobre as sagradas chuvas, uma senhora bem idosa que varria do chão a água que não tem na torneira, vítima das enchentes de São Paulo, as de sempre e que ninguém resolve, que perguntada sobre o que dessa vez havia perdido pelas águas...ela respondeu resignadamente assim:

"ô moça, perdi a dignidade".

Diante dessa resposta, acredito que nem precisaria seguir pelo meu escrito blue que todos entenderiam os nossos atuais tons de cinza.

Basta vivê-los.

O fato é que, para se perder a dignidade de forma tão evidente e notória, antes é preciso perder tudo o demais, ao que se conclui que se perdemos a dignidade em conjunto, não temos mais nada a perder...estado em que estamos empobrecidos em tudo!

E nesse estado "social blue", inconsciente das causas da sua gênese, seguido pelos vários tons de cinza que se nos descortinam entre nós, deduzo que é preciso algo especial para ainda se seguir pelos pódiuns de felizes representantes da vontade legítima dum povo, em quaisquer áreas da democracia representativa.

A lisura da força do "check and balance" dos poderes INDEPENDENTES deveria ser UM FORTE vetor resultante de proteção do país e da cidadania democrática e dos atuais abusos que nos chocam e nos judiam, todavia estamos fragmentados nas forças, e diante dos nossos tons de cinza deduzo que está mais que justificado o nosso perene ESTADO BLUE, aqui com letra maiúscula.

Voltando lá à senhora da televisão e à sua dignidade que também é a nossa: é mais que claro que aos poucos perdemos tudo...mas ainda somos um país de gente boa, honesta, trabalhadora, inteligente e que ainda sabe fazer samba na passarela de todas a nossas tragédias, inclusive das tragédias do mundo além fronteiras.

Dos limões...quantas limonadas brasileiras, suiças e africanas derramadas pelo sincretismo cultural no asfalto duro do nosso samba-no-pé.

-Nota dez!

E choramos pela emoção das vitórias que nada significam.

E nessa sublimação dos nossos tantos tons de cinza, os já que colorem a triste tela perene dos nossos percalços socias que viajam o planeta, por aqui descolorimos no preto do petróleo, no verde das matas, no marrom das terras expoliadas, invadidas e mal-tratadas, nas vertentes das águas secas, no azul dos céus empoeirados que ofuscam os tantos horizontes perdidos, no amarelo dos lastros de soberania nacional vilipendiada, no "branco led" das luzes sem vertentes luminosas promovida pela falta da educação, num apagão social generalizado há anos- luzes de distância dum desenvolvimento social real e sustentável.

Por aqui, FIGURATIVAMENTE, nos descolorimos até nas ciclovias vermelhas que, pelos cinzas dos asfaltos esburacados, mal delineiam e esvaecem os caminhos que nos levam a lugar algum.

Pessimismo? Antes fosse... só "estado blue" de alma candidata ao resgate da cidadania perdida nos vários tons de cinza.

Beijinho no ombro para os otimistas de plantão cujo principal tom de cinza deve estar na inconsciência também apagada e/ou na alma nebulosamente acizentada que se locupleta das telas das escuridões, emolduradas pelas corrupções da matéria e dos sentidos.

A Constituição Federal, nossa Carta Cidadã, nos diz lá quais são os nossos direitos fundamentais, os que nos tornam seres humanos dignos e inalienáveis nos nossos direitos pétreos pela existência, que em suma deveriam ser exatamente os direitos garantidos pelas esferas Estadistas DEMOCRÁTICAS: VIDA, LIBERDADE, IGUALDADE, PROPRIEDADE E SEGURANÇA...claro, todos eles amparados pelos seus alicerces principais: saúde educação e justiça.

Analisem item por item em si mesmos e veremos que todos somos a nossa cara, inclusive na face das representações.

Bem, se alguém que me lê se sentir plenamente garantido nesses quesitos pelas passarelas da sua vida digna, parabéns, você é um sortudo nas miragens, então, apague a minha tela BLUE, algo descolorida de esperança, confesso, e nela lance as luzes das ilusões.

Decerto que devo ser mais um cidadão descartável às telas, perdido de ideias luminosas, pelo carnaval da avenida...já em plenas cinzas.

Mas saibam, mesmo frente a força das cartas e dos coringas, as letras intuitivas não se enganam nunca, e tampouco mentem, jamais.

Apenas erguem o estandarte da consciência que já não interessa aos nossos perenes e amorfos "tons de cinza" que alimentam todas as telas das sedes mais escusas.

Assim, penso que muito longe estamos das "belas artes" pelas nossas atuais telas sociais.