O GRITO DAS MULHERES INDÍGENAS E SERINGUEIRAS DO BRAZIL
O GRITO DAS MULHERES INDÍGENAS E SERINGUEIRAS DO BRAZIL
(Eliozani Miranda Costa, 05-01-2015)
Apesar do elevado grau de diferença na origem da formação desses dois grandes grupos femininos, é inegável o comum tratamento desumano sofrido desde longas datas, e que pelo visto, ainda se estenderá por várias gerações a provação do sabor amargo da opressão e do desprezo oriundos da falta de conhecimento por parte das lideranças políticas que se dizem civilizados, e que, no entanto são os verdadeiros selvagens estimuladores da BATALHA DAS FLORESTEIRAS.
Quem já visitou uma aldeia indígena ou uma comunidade de seringueiros certamente tem mais facilidade em compreender a mensagem deste texto revestido de teor crítico construtivo em busca da conscientização em favor destas mulheres guerreiras que nascem, crescem e morrem sem ter sentido o doce gosto e o prazer de morar e criar seus filhos em uma casa moldada na tecnologia e engenharia civil como apresenta as diversas redes de televisão.
Morar bem não implica dizer se no campo ou na cidade, ou até mesmo no seio da mata virgem, implica sim contar com o conforto e segurança indispensáveis ao bem estar físico e social, bem como poder viver bem em família conservando princípios e valores morais, sem sofrer as violações dos direitos humanos, nem vendo desrespeitados a dignidade e a privacidade de cada elemento da comunidade. Morar bem é o contrário ao modelo de moradia das mulheres que vivem forçosamente discriminadas e humilhadas, isoladas nas grandes florestas do imenso Brasil.
As de origem indígena viviam voluntariamente em seu perfeito ambiente selvagem até que foram incomodadas pela presença dos civis que afetaram gravemente o seu padrão de vida primitivo, afugentando e dispersando aqueles grupos de índios ameaçados pelos europeus invasores da Pátria Amada Verde, pelo que até hoje, por detrás de uma camuflagem da política partidária corrupta, as descendentes daqueles povos que viviam naturalmente das florestas nativas brasileiras, sobrevivem precariamente das migalhas que a FUNAI providencia junto à UNIÃO, as quais juntas fingem assistência aos índios.
Já as mulheres ribeirinhas, descendentes dos soldados da borracha não tem origem selvagem, e consequentemente vivem a mesma precariedade social que as indígenas. São mulheres cujos ascendentes foram ludibriados pelo governo brasileiro que prometera facilitar o acesso à riqueza por meio de extração do látex natural na região amazônica, autorizando que todos os soldados seringueiros pudessem, com os lucros obtidos com a produção da borracha, formar grandes propriedades rurais, onde poderiam, além de praticar a heveicultura (cultivo da Hevea-brasiliensis), desenvolver a agricultura e a pecuária, iludindo-os ainda mais ao criar neles a expectativa de encontrar grandes minas de ouro e diamante nos rios inexplorados da Amazônia. Essas guerreiras, também não se conformam com o descaso do Estado que as desprezam, maltratam e as consideram mulheres selvagens.
O que na verdade objetiva demonstrar nessa abordagem não é a diferença de origem desses dois grandes e consideráveis grupos de mulheres que sobrevivem atualmente nas florestas, é sim o que elas têm em comum ao ser tratadas como diferentes, como despidas de necessidades físicas e financeiras, como se a vaidade e o luxo fosse algo exclusivamente reservados às mulheres nascidas em berço de ouro.
Essas guerreiras também sonham poder morar em casas construídas no mínimo dentro das normas técnicas da construção civil, projetadas conforme os parâmetros de engenharia padronizada competente, ainda que fossem pequenas casas, que atendessem ao menos o mínimo exigido em metros quadrados.
Os governos, tanto federal quanto estaduais não fazem a mínima distinção entre as mulheres que viviam nas florestas nos tempos da colonização do Brazil e as floresteiras da atualidade, aquelas sim eram índias criadas simplesmente do que a selva oferecia para a continuidade da espécie selvumana, essas não são puramente índias, têm apenas sangue indígena e quase nunca carregam traços ou costumes indígenas. Semelhantemente são tratadas as ribeirinhas de hoje que muitas vezes habitam forçosamente em florestas, cujas terras, mesmo desprovidas de seringais, foram demarcadas e batizadas como reservas extrativistas, prejudicando, muitas vezes, direitos de pequenos produtores rurais ali colocados pelo INCRA há muitos anos.
O intuito mais provável dos governantes em concentrar povos de origem indígena e de origem extrativista nas florestas brasileiras não é o de dar condições de acesso a um ambiente satisfatório para a sobrevivência por meio da sustentabilidade ecológica, mas é sim o de conservar grandes áreas de proteção permanente das florestas nativas, fazendo desses dois grupos meros soldados para patrulhamento ostensivo de terras em conflito entre Estados e particulares, pelo que frequentemente ocorrem confrontos armados vitimando os dois polos dessa relação conflitante.
Tanto indígenas quanto extrativistas são proibidos de desmatarem e cultivarem as terras onde habitam, se limitando apenas ao sustento natural precário, em virtude de não serem possuidores das terras em que ocupam, sendo apenas usufrutuários de terras públicas por assim tratar a Constituição Federal de 1988, se é que o mesmo entendimento se aplica aos ribeirinhos. Isso implica questionar se não seria mais viável lotear essas reservas assentando as famílias desses dois grupos de povos discriminados oferecendo incentivos para que eles pudessem desmatar para plantar seringais, cultivar diversas culturas, desenvolver a agricultura, a piscicultura e a pecuária, participar do agronegócio com autonomia?
Assim, produzindo, as mulheres pertencentes a esses dois grupos de povos humilhados deixariam de ser explorados estatalmente, e teriam a felicidade e a oportunidade de um dia poder pisar na porcelana como fazem as mulheres não índias, até mesmo muitas pobres que são contempladas por programas governamentais que as presenteiam com moradias dignas, poderiam então, morar em um novo modelo de aldeia indígena, novo modelo de comunidade ribeirinha, não permaneceriam nesse total isolamento, vivendo em barracos de pau a pique cobertos de folhas vegetais amarradas de cipós, muitas vezes tão aglomerados que tira dessas mulheres a liberdade, a privacidade, tira o sorriso do olhar, tirando até mesmo a vontade de viver.
Será que haverá dia em que alguma mulher influente na política brasileira mudará a história dessas mulheres, que sem faculdade de Engenharia Florestal ou de Gestão Ambiental, são as verdadeiras floresteiras do Brasil? Ou estão essas guerreiras condenadas a viverem geração mais geração esquecidas nas matas num isolamento miserável só porque descendem de índios e extrativistas?
Quem será que algum dia providenciará a elas casas de tijolos, cobertas com telhas de barro beneficiado e com pisos revestidos em porcelanatos, com energia instalada e água encanada, como toda mulher brasileira sonha poder morar e criar seus filhos? E um carro bom para viajar, será que elas também têm esse direito? A madeira extraída em grande escala dessas terras públicas não seriam suficientes para proporcionar isso a elas?
Creio que se não houver uma mudança administrativa significativa em prol desses povos, vigiando as terras públicas essas guerreiras envelhecem e morrem sem nunca terem realizado seus sonhos de vida, ou seja, nunca irão morar bem.
Já é hora das mulheres desses dois grandes grupos se unirem, e com o apoio de simpatizantes e autoridades competentes correrem atrás de seus direitos, exigindo de suas lideranças a busca de solução juntos aos governantes. É uma mudança que exige grande movimento organizado. Acreditem, lutem, vocês terão vitória mulheres guerreiras do Brasil.
Desmatar parte das florestas nativas para plantio de grandes seringais a fim de atender ao mercado brasileiro, desenvolvendo a heveicultura (cultivo da Hevea-brasiliensis) e incentivando a instalação de indústrias pneumáticas no país, conforme se apura dos dados fornecidos pelo Centro de Pesquisas Instituto Agronômico – IAC, pode ser o caminho para a prosperidade desses dois povos que tem muito em comum no quesito moradia e sustentabilidade, até porque diante da baixa produtividade de borracha natural no Brasil e outros produtos nativos, não justifica ao poder público persistir na criação e conservação de tantas reservas extrativistas, jogando homens, mulheres e crianças nos seios das matas para viverem misturados com animais perigosos a troco de quase nada.
Será que a Dilma ou alguma amiga sua vai ao menos ler esse texto?