Língua Brasileira de sinais (libras): conquista da comunidade surda

Em 24 de abril de 2002, foi reconhecida a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como um meio legal de comunicação e expressão. Ao contrário do que muitos podem pensar, a língua brasileira de sinais não é a simples representação gestual da língua portuguesa; sendo assim, nem tudo que conseguimos expressar com uso de sinais é libras, pois, para ser considerada língua, é preciso que os sinais estejam organizados num sistema linguístico próprio com regras gramaticais, sintaxe e semântica próprias, necessárias para a existência de qualquer língua. Por isso a lei nº 10.436, assinada pelo então presidente da República Fernando Henrique Cardoso, que estabelece libras como língua oficial do surdo, é julgada um avanço para a inclusão do surdo em sociedade. Um povo é reconhecido por sua língua, e não aceitarmos a sua forma de comunicação é rejeitá-lo.

Os surdos sofreram com a falta de entendimento e desinteresse da sociedade, por causa de suas limitações. Em virtude disso, foram ignoradas suas capacidades, e, somente agora, vêm resgatando direitos. A falta de compreensão da existência de uma cultura surda levou a erros históricos e oprimentes, decorrentes da concepção que prevalecia na época. Na antiguidade, até mesmo o filósofo grego Aristóteles (384a.c/322a.c) ensinava que o pensamento dependia da fala. Nessa ordem de ideias, o surdo não era capaz de raciocínio e ficava à margem da sociedade, sendo considerado empecilho e vergonha à família. Vários erros de interpretação, desconhecimento e crenças estão carregados de preconceito até hoje.

Por esse motivo, é relevante ressaltar e comemorar toda conquista que, ultimamente, a comunidade surda tem conseguido. Importante resolução a favor dos surdos e de outros deficientes foi a declaração de Salamanca, realizada em 1994 pelas Nações Unidas, e que é reconhecida mundialmente, como um dos documentos mais destacados que visam à inclusão social e criam oportunidades para pessoas portadoras de deficiências.

Ainda nos tempos que correm, vemos pessoas acreditarem que o surdo pode entender um ouvinte simplesmente pela leitura orofacial; no entanto, estudos e depoimentos mostram que tal procedimento não é tão eficaz como antes se acreditava. Segundo Sacks (1998, p.82), 75% da leitura labial é uma espécie de adivinhação ou conclusão por hipóteses e depende de uso de pistas encontradas no contexto. Por tal motivo, a compreensão do surdo é superficial, e a aceitação por eles independem do conhecimento do acontecido.

A leitura orofacial é muito utilizada em todos os ambientes sociais, e, mesmo dentro de casa, os surdos se deparam com ouvintes, “tentando” fazê-los entender. Isso os leva a um desgaste emocional, torna-os diferentes e os exclui da sociedade, do ambiente familiar e escolar.

Sílvia Andreis Witkoski doutora pela Universidade Federal do Paraná, relata que considerar que o aluno surdo possa ser integrado/incluído na escola regular a partir da possibilidade de ele realizar leitura orofacial, sem acesso pelo menos a um intérprete em língua brasileira de sinais, é no mínimo uma cômoda justificativa ingênua de estar incluindo-o para excluir.

Sílvia diz que, até que se consiga localizar no campo visual quem está falando, já perdeu metade dos argumentos. Sendo assim, é clara a pertinência do uso de sinais, pois é a língua capaz de fazê-lo comunicar-se de modo eficaz, sem a perda de conteúdos da comunicação. Quando o surdo adquire Libras como língua materna, a língua portuguesa adquirida depois é considerada segunda língua e não mais uma língua imposta e soberana.

Para haver inclusão verdadeira, é necessário considerar o surdo como pessoa capaz, respeitando suas diferenças e limitações. Procedendo dessa forma, obteremos o desenvolvimento das competências e habilidades de formação profissional e humana do surdo.

professor Alex Sant'anna

alexsantanna@hotmail.com

Alex Sant anna
Enviado por Alex Sant anna em 17/11/2014
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