Tratar da Doença ou dos Sintomas?
Tratar da Doença ou dos Sintoma?
Jorge Linhaça
O grande problema que enfrentamos na sociedade atual e que afeta inclusive a percepção das pessoas, é que estamos acostumados a combater sintomas e não as doenças em si.
Somos levados a nos preocupar com o número crescente de jovens adolescentes (e até mesmo pré-adolescentes) que engravidam, mas não vamos fundo na questão de o porquê de engravidarem.
Sentimos-nos acuados em nossas casas diante da crescente violência urbana, com crianças, jovens, adultos e até mesmo idosos praticando crimes, mas não olhamos para as causas desse comportamento.
Reclamamos da corrupção em todos os partidos políticos, mas não encaramos isso como um todo, desviando nosso foco para o partido da vez.
Como em uma árvore que começa a apresentar amare lamento das folhas, nos preocupamos com a aparecia da árvore, e se possível, até pintaríamos suas folhas de verde para que pudesse ser mais agradável à nossa visão.
Infelizmente, poucos estão dispostos a escavar o solo e atacar as pragas que atingem a raiz da árvore.
A pergunta maior seria: Porque não escavamos o solo?
A resposta: Porque dá trabalho e provavelmente não gostaríamos de encontrar as respostas, que bem poderiam ser comparadas a um belo pedaço de espelho que refletiria a nossa própria falta de cuidado.
Quando nos permitimos consumir todo tipo de lixo que o mercado nos empurra goela abaixo, sob a máscara de uma pseudo nova cultura, onde a apologia ao sexo e à teoria de que os fins justificam os meios, presentes em novelas, programas televisivos e principalmente n as letras de músicas presumidamente “populares”, sujeitamos a nós mesmos e nossos filhos a considerar comportamentos de risco como parte natural da vida,
Oras, se somos bombardeados com letras de música que ensinam que o sexo e a pegação são coisas normais e desejáveis, não é de se estranhar que tantos jovens (das mais variadas faixas etárias) caiam na armadilha da promiscuidade sexual. E essa promiscuidade leva, em muitos casos, à gravidez indesejada, que por sua vez, leva à prática de abortos. Mas não nos sentimos à vontade em combater a propaganda do sexo, preferimos arcar com os ônus que resultam de um comportamento distorcido do que combater esse comportamento, com a desculpa de que não se pode interferir na “liberdade criativa” de certos artistas que rendem grandes lucros a si mesmos e às gravadoras ou promotoras de eventos.
Não nos damos conta de que esses desejos inflamados pelo sucesso imediatista no âmbito do “quem pega mais” transcende a sexualidade em si e vão buscar recursos por meios nem sempre honestos, para que os jovens se tornem mais apresentáveis, seja no vestuário, nos adereços da moda (celulares, carros, motos e etc.) para atraírem seus parceiros sexuais.
Tudo isso com a benção da mídia que oculta propositalmente as causas e finge combater os efeitos.
A corrupção, que se espalha por todas as classes sociais, embora a moda agora seja focar nos políticos, também está ligada à mesma raiz, ou seja, ao desejo de ter “do bom e do melhor” com o menor esforço possível.
Jogam-nos as iscas, vendendo-nos a impressão de que para sermos aceitos socialmente (e isto vem se tornando verdade, perpetuando o ciclo vicioso) temos de estar “antenados” com os novos modelos disto ou daquilo e corremos para adquirir bens e produtos os quais nem mesmo necessitamos , apenas para igualar ou superar aqueles que nossos amigos ou conhecidos possuem.
Numa sociedade onde a desigualdade de recursos (financeiros, morais, culturais e educacionais) tem “cinquenta tons de cinza”, as pessoas buscam obter esses produtos legal ou ilegalmente, segundo suas condições . Para alguns poucos, comprar um novo smarthphone tão logo seja lançado, é o mesmo que comprar uma pãozinho na padaria, para outros o crediário é a solução encontrada, e para alguns que não dispõe de meios lícitos para obte-los, resta o furto ou o roubo, às vezes seguido de assassinato, para obter algo que, na sua visão, vai lhe atribuir um status que não possui.
Vivemos numa época em que a aparência é mais importante que o conteúdo, em que um certificado de conclusão é mais importante do que o conhecimento que se pode adquirir durante o curso e, por isso, poucos se importam de concluir estágios do ensino sem nada aprender já que alguns governos subornam professores com abonos anuais para que mantenham baixos índice de reprovação. Isso não é corrupção?
Em suma, temos permitido que nossos valores morais sejam corrompidos diuturnamente, aceitamos passivamente que a inversão de valores se espalhe por todos os segmentos da sociedade, e até nos beneficiamos disso em algumas ocasiões. Mas, hipocritamente bradamos a todo pulmão e com o dedo em riste que não aceitamos os efeitos de nossa omissão.
Todos estão clamando por mudanças, no entanto, muitos destes são os mesmos que perpetuam e alimentam o atual estado de coisas, sendo coniventes com o sistema viciado e viciante que nos cerca por todos ao lados.