O tema é atualíssimo. As últimas eleições acirraram preconceitos entre sulistas e nordestinos. Sul e sudeste estão sendo explorados? Nordestinos são ignorantes, venderam seus votos por bolsas família? Um pouco de conhecimento de história não faria mal. Há apenas duzentos anos o príncipe regente Dom João, encurralado entre as duas maiores potências da época (França e Inglaterra), fugiu e instalou-se no Brasil. Uma colônia sem infraestrutura - escolas, jornais, livros (a imprensa era proibida), bancos, estradas, fábricas -, que existia apenas para alimentar Portugal, do dia para a noite recebe a família real e uma corte ociosa, composta de 10.000 a 15.000 pessoas. O lugar escolhido por Dom João? Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro, entretanto, é simplório, e à cidade tudo falta. Com a abertura dos portos, novas lojas recebem toda a sorte de mercadorias enviadas pelos ingleses, desde chapéus até patins para gelo. Tudo se compra, tudo se vende. Impostos são então elevados por conta da voracidade dos novos moradores. Se o Rio cresce e nele circulam as riquezas - São Paulo era, à época, pouco mais do que uma acanhada vila -, o Brasil produtivo nada recebe em troca. Revoltosos criam a República de Pernambuco, na mais desenvolvida das províncias, à época. Após três meses é derrubada, mas as marcas do um passado que poucos conhecem estão impressas na bandeira do atual estado. A obra 1808 - Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil -, de Laurentino Gomes, é um livro delicioso de ser lido, sem a superficialidade das obras do gênero, que retratam Dom João de forma caricata e superficial. Resultado de dez anos de pesquisas, a obra narra, de forma acessível, a fuga da família real e a vida de portugueses recém chegados e de brasileiros, no período de 1808 até a independência, que é de certa maneira reproduzida até os dias atuais. O curioso recorte que ora destaco refere-se à República Pernambucana. Quem, ao lê-lo, não traçará paralelo entre o ocorrido há tão poucos anos e os dias atuais? Convenhamos que o bolsa família é uma dívida social com aqueles brasileirinhos que crescemos a ver em imagens, pele e ossos, bochudinhos, sem expectativas. Para um país tão rico, custa-nos tão pouco. Se é falha a administração, não nos falte a ponderação. É preciso, sim, escolas, trabalho e oportunidades, em cada canto deste Brasil, não importa quem o governe. Porque o progresso estará onde estivermos. Preconceito? Quem e de quem mesmo? Se não casávamos com italianos, alemães não tinham onde enterrar seus mortos e tanto estes como aqueles - e também os japoneses - tiveram seus bens confiscados e jamais devolvidos; se os conceitos mudam a cada trinta ou cinquenta anos, como admitir "verdades" efêmeras sem conhecer nossa história? "A revolução estourou em Pernambuco, mas refletia o descontentamento de todas as províncias com os aumentos de impostos para financiar as despesas da corte portuguesa no Rio de Janeiro. Havia um sentimento de insatisfação generalizado no ar, especialmente nas províncias do Norte e do Nordeste, as mais prejudicadas pela voracidade fiscal de D. João VI. "Paga-se em Pernambuco um imposto para a iluminação das ruas do Rio de Janeiro, quando as do Recife ficam em completa escuridão", escreveu o inglês Henry Koster, que morava no Recife na época da revolução. Koster dizia ainda que os salários dos numerosos funcionários públicos eram baixos e mal garantiam a sobrevivência das famílias. "Consequentemente, o peculato, a corrupção e outros delitos são frequentes e quase sempre escapam à punição". "Por seus próprios sacrifícios, sem qualquer auxílio do governo, [Pernambuco] havia expulsado estes conquistadores [holandeses] e restituído à Coroa a parte norte de seu mais rico domínio. Estava, portanto, inclinado a ser particularmente invejoso das províncias do sul, especialmente do Rio, que considerava mais favorecidas. Estava aborrecido com os pagamentos das taxas e contribuições, das quais nunca se havia beneficiado e que só serviam para enriquecer os favoritos da corte, enquanto grassavam enormes abusos." "A crise econômica e o descontentamento com a administração portuguesa fizeram com que as ideias liberais francesas e americanas encontrassem em Pernambuco um campo fértil." "Os revolucionários ocuparam Recife em 6 de março de 1817." "Desenhou-se uma nova bandeira, com as cores azul-escura, branca, amarela e vermelha. Na parte superior foi desenhado um arco-íris com uma estrela em cima e o Sol embaixo, representando a união de todos os pernambucanos. No interior, uma cruz vermelha simbolizava a fé na justiça e no entendimento. Embora a revolução tenha fracassado [depois de três meses de ocupação], essa é ainda hoje a bandeira do Estado de Pernambuco, adotada oficialmente em 1917 pelo governador Manoel Antonio Pereira Borba. É também, na simbologia e na elegância visual, um dos mais bonitos entre os estandartes dos 27 estados brasileiros."
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Maria da Glória Perez Delgado Sanches
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