As verdadeiras comunidades

Quando vejo o pessoal falar que mora em uma comunidade, sinceramente fico com uma grande inveja, pois realmente moram em uma, não é o caso do nosso condomínio, que, teoricamente ,seria uma "comunidade" porque é algo artificial; se foi planejado por um arquiteto,e, muitos deles são péssimos, com aquela ideia de "área de lazer", onde não vai ninguém porque mal se conhecem e se falam. Muita arquitetura atual é péssima, fria, com aquela brancura indicando falta de vida e de amor pelas coisas.

Os nossos condomínios são uma lástima; sorte que o meu é mais antigo e não tem aquela área de serviço minúscula, pois o lucro está acima de tudo. Passando do condomínio chega-se à cidade "legal", como a chamamos: as ruas foram feitas para automóveis; aquele cimento adequadíssimo ao nosso clima tropical ,criando essa ilha de calor onde não chove; piores são aqueles edifícios de vidro, símbolo do progresso e da impessoalidade; quem trabalha nessa gaiola de vidro não pode mesmo ser muito humano.

Escrevo isso após saber do lamentável episódio de dois cidadãos que se agrediram por causa de um espelhinho de carro, aí lembro das comunidades dos morros, tão difamadas por nós, "seres civilizados"; à parte a violência existente, que é real, a falta de saneamento , o lixo , isso muito mais por ausência do Estado do que por culpa dos moradores, ali, sim , é uma comunidade: as pessoas fazem festas juntas, se conhecem, se ajudam , se solidarizam; só para citar nomes de pessoas fantásticas de lá, temos Cartola, Dona Zica, Ivone Lara, Zé ketti, Nelson Cavaquinho, entre muitos outros.

Uma comunidade nasce pelo convívio entre seus moradores e assim se desenvolve; podemos criar algo artificial,cheio de cercas elétricas, tudo certinho e planejado, aí colocar sorrisos de borracha no rosto, e dizermos : "que mundo maravilhoso ". Não sei a quem vamos enganar mais, a nós ou aos outros?