A NOITE DOS MORTOS-VIVOS (I)

Impressionante como as pessoas se apegam a símbolos do passado e querem atualiza-los à força, à fórceps. Querem extrair uma criança do útero. Uma criança que já envelheceu. A década de 70 do século passado inexiste, exceto no passado. Mas essas pessoas desejam sentir as mesmas emoções de há meio século, porque são incapazes de viver o presente e tirar dele, presente, uma emoção autêntica, nova, identificada com o aqui e o agora de outubro de 2014. Elas querem justificar os velhos ídolos e suas obras, atualizando-as conforme uma memória que, querem ignorar, não mais serve ao tempo presente e suas solicitações completamente diversas do passado. Querem sentir-se vivos trazendo aquelas emoções para um tempo em que elas não são mais pertinentes às solicitações culturais da atualidade. É como se estivessem num filme de ficção recessiva. Desejam fazer valer a qualquer preço as bandeiras que de há muito caducaram. Querem sentir-se renovadas trazendo seus postulados anciãos à uma realidade atual em que não cabem. Incapazes de se renovarem intelectual, política, historicamente, desejam a qualquer preço que suas conquistas de antigamente (os movimentos sociais dos quais participaram direta ou indiretamente) ainda sejam válidos e inseridos no contexto de uma realidade completamente diferente daquela que querem ver acontecer outra vez. Essas pessoas estão inseridas numa viagem do tempo regressiva e anacrônica. São personagens de um passado que não voltará jamais. Mas, como não foram capazes de uma renovação de expectativas, e são pessoas demasiadamente comprometidas com a esclerose de ideias falidas, acreditam que, de alguma forma, nesse narcisismo que as imobiliza na crisálida do tempo passado, ainda é válido hoje.

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 23/10/2014
Reeditado em 24/10/2014
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