A linguagem como representação humana
Resumo
De acordo com o autor de “O Gene da Matemática”, a linguagem começou como uma forma de representatividade, antes de ser comunicativa. Alguns animais usam de um tipo de linguagem para comunicar a presença de predadores ao grupo. Há até casos específicos de macacos que usam desse meio para afugentar os companheiros e ficar com a maior parte da comida. No caso do ser humano, a linguagem sempre foi ligada às artes, como forma de expressão. Assim o teatro tomou forma na Grécia antiga, e assim, até hoje, usamos a linguagem não-verbal como expressividade em “selfies” em redes sociais. O presente trabalho pretende encaixar todas as linguagens, verbais e não-verbais, com a arte através da História do homem e da mulher. Estudos mostram que na maior parte do dia usamos a linguagem não-verbal. Isso mostra que a linguagem é mais uma forma de representação do que de comunicação. É a vontade de nos expressar constantemente que nos define como artistas inatos.
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Uma imagem é uma representação de um objeto real, já sabia Magritte em “Ceci n’est pas une pipe”. Da mesma forma, a palavra “cachimbo” apenas representa um cachimbo real. Todos os dias estamos representando; seja na escola, no trabalho, no ambiente familiar...as redes sociais vieram como um portfólio para as pessoas que as frequentam.
Frequentemente postamos nosso almoço, nossos sentimentos e o que fizemos no dia, além dos autorretratos, chamados selfies. Pode parecer banal, mas um artista é feito de causalidades. O que prenderia um público num teatro senão a identificação com o próprio cotidiano?
Paralelamente, observamos através da História que a humanidade sempre se preocupou com a arte, e o que seria dela sem a linguagem? Até para os surdos-mudos existe uma linguagem, isso prova que mesmo sem o sentido da audição temos a necessidade de nos expressar. O que nos diferencia do cachorro, por exemplo, que tem uma audição incrível mas parece indiferente a maior parte do dia. Já que um surdo não pode ouvir música, deixe-o compensar com o teatro cotidiano de suas gesticulações. E o que não há de mais lindo do que ver um surdo dançar?
A comunicação também é uma conquista da linguagem, mas diferente da arte ela serve como transmissão entre interlocutores. É verdade que uma peça de teatro visa transmitir uma mensagem para o expectador, mas uma matéria de jornal, por mais floreada que seja, não tem função artística.
Até aqui exemplificamos a diferença entre representação e comunicação mas falta aprofundar mais na conexão entre os dois, por mais óbvio que seja. Está claro que arte usa da comunicação, mas na via contrária é mais difícil. A literatura jornalística é um exemplo dessa contramão, mas o jornalista só vai fazer uso da veia artística no caso de uma coluna, para uma reportagem é preciso ser direto, para não ser tendencioso ou ambíguo.
A arte convive melhor com a ambiguidade, mas da mesma forma que uma reportagem tendenciosa é "mala", um acordão não é uma literatura agradabilíssima. Tudo tem limites. Não vamos chamar tudo de arte da mesma forma que não chamamos tudo de notícia confiável.
Mas voltando ao tema principal: a linguagem é, antes de tudo, uma forma de representação. Por mais imparciais que sejamos, deixamos também nossa marca, nosso ego, por onde passamos. E por mais objetivo que seja, distanciando do objeto de pesquisa, vamos julgá-lo, porque é da natureza humana ponderar. Não vamos concluir um trabalho sobre nazismo escrevendo: “E isso foi o que aconteceu.” Primeiro: quem somos nós para dizer que foi exatamente do jeito que descrevemos? Voltando à Magritte: Ceci n’est pas un nazi.
Nosso trabalho não é a realidade, mas sim uma representação dos fatos. Por que cada um conta uma historia de um jeito diferente se o fato é o mesmo? São as interpretações que valem. Jesus Cristo morreu? Legal. Mas como? O como e o porque que nos interessam. Saber que o Garcia Marquez morreu é proveitoso, mas mesmo que não perguntamos o por que, vemos uma imagem com a notícia de sua morte, e o que era para ser um comunicado, uma sentença jornalística, passa a ser mais do que isso, pois ao ler a notícia automaticamente conhecemos melhor aquilo que está na nossa frente, e mesmo sem ter lido uma palavra de Garcia Marquez, nos solidarizamos com ele, mesmo sendo tarde demais.
Por que as notícias mais lidas são de mortes e acidentes catastróficos? Porque o ser humano não vive de fatos, mas de interpretações, e já que saber o que o André Vargas disse naquele dia se torna cansativo, ter notícia de mais uma morte não cansa nunca, pelo contrário, é um motivo para continuarmos a acompanhando o noticiário diariamente.
E o que seria a morte senão representação máxima da mente humana? É o desconhecido, o incomunicável, o que até hoje ninguém voltou para contar. A morte é exemplo que a comunicação não é nada diante da grandiosidade da imaginação e do sonho. Representar a morte é possível, mas comunicar-se com ela não.
Há aí uma prova cabal de que a linguagem não nasceu como forma de comunicação. A religião não veio para relatar como é a vida após a morte, mas sim para mostrar as limitações da humanidade que está no mundo não mais para relatar fatos de sua vida passada, mas para representá-la como uma vida nova, já que a anterior não pode ser reproduzida. Deus só é mais uma forma do ser humano representar a natureza, ciente de sua grandiosidade perante a ele. Deus é Natureza. Gaia era a terra que gerou filhos, assim como o solo faz brotar árvores. Os filhos das mulheres posteriores a Gaia é uma forma de dizer que a vida acaba onde começa outra. A reprodução se torna instintiva quando é necessário aumentar as defesas contra a natureza devastadora. Hoje não precisamos ter medo de leões e demais animais selvagens graças a reprodução, que continua sendo um fator de sobrevivência. Sobrevivência de um legado. Se um homem ou mulher não tiver filhos, ela com certeza terá seguidores e discípulos, que farão reproduzir sua memória. Ninguém nasce em vão ou morre "in vain"; cada decisão individual causa um impacto na sociedade, desde uma compra de um livro até o suicídio consumado.