SOBRE DROGAS

Ainda vivo um embate interior a esta questão, por sua complexidade e delicadeza de situação. Numa entrevista o presidente do Uruguai afirmou que o país precisava passar por esta experiência de descriminalização como alternativa ao combate do uso e o tráfico de drogas que cresce assustadoramente, principalmente a maconha que é consumida em larga escala. Dizia que se trata de uma tentativa e que se os resultados se mostrassem desfavoráveis voltariam com a proibição; ao ser questionado da pressão exercida por outros grupos que defendem a liberação de outras drogas como a cocaína ele argumentou que o número de usuários desta substância em comparação com a maconha era irrisório, portanto haveria um afrouxamento com um segmento e a manutenção do combate ao outro, porem obedeceriam regras específicas que imporiam limites a sua utilização, inclusive com orientação médica. Acho válido como experiência, porem reflito sobre outros fatores que influenciam o uso e o abuso destas substâncias psicoativas, as chamadas legalizadas e as ilegais. Aspectos sociais, econômicos, culturais devem ser levados em consideração pois cada sociedade apresenta particularidades individuais e coletivas únicas como também o índice de desenvolvimento humano desta, pois quanto maior o grau de acesso a informação, formação, capacitação, à bens e serviços tanto maior será a resposta positiva desta quanto aos perigos, riscos, consequências do uso indiscriminado destas substâncias e pelo próprio processo educativo a conscientização da importância da manutenção da saúde plena. Agora surge o questionamento que me intriga: Como legalizar o uso destas drogas ilícitas num contexto social em que vivemos marcado por tanta desigualdade?. Naturalmente que as classes mais abastadas tb utilizam estas substâncias, porem possuem o amparo familiar que custeiam tratamentos por vezes caríssimos na recuperação destes familiares. Outra questão que me incomoda são os meios de comunicação que enfatizam, reforçam e estimulam o uso do álcool, principalmente entre os jovens e adolescentes, mais vulneráveis portanto, droga legitimizada pelo Estado, como componente fundamental e permanente dentro do convívio social, e que sabemos que representa a porta de entrada para outras experimentações. Por outro lado como dar um basta ao tráfico que está cada vez mais organizado, consolidado, enraizado a nível mundial, contanto com a conivência e participação de governos e de instituições políticas movimentando bilhões de dólares?. Sou defensor de uma sociedade sadia, participativa, consciente, intelectualmente desenvolvida, crítica quanto a realidade, inseridas num contexto sócio político onde as instituições funcionem democrática, efetiva e igualitariamente. No atual momento evolutivo de nossa sociedade qualquer tentativa de abrir precedentes a esta regulamentação pode ser um tiro no escuro, pois outros segmentos que defendem outras legalizações tb irão se articular e se movimentar e o risco é nos tornarmos uma coletividade de usuários e de doentes dependentes, que alem da ingestão de álcool como forma de evasão às frustrações diárias, a exploração, a miserabilidade e aos infernos interiores, tb abriremos as portas para que mais um componente possa vir a se naturalizar como socialmente correto: o uso de drogas potencialmente destrutivas.

Néo Costa
Enviado por Néo Costa em 09/10/2014
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