ANÔNIMOS FAMOSOS

ANÔNIMOS FAMOSOS.

Em cada recanto do planeta encontramos uma enorme variedade de personagens da vida cotidiana, e Campina Grande não foge a regra. Pessoas com personalidade forte e marcante fazem o diferencial na breve passagem pela vida, e é isto que as tornam únicas e diferentes umas das outras, umas mais outras menos.

Quem nunca parou para observar as vestimentas do nosso querido Pedro Cancha? Figura irreverente que se tornou visível por seu estilo inigualável de se produzir, e ‘desfilar’ pelas ruas de Campina. Exibindo longas botas de couro com um pente aparente bem no topo do cano, foi também o primeiro Campinense a usar saia sem estar na Escócia e sem colocar em dúvida sua masculinidade.

Jorge Mahal, figurinha fácil na vida noturna da cidade, sempre muito bem humorado e pedindo um cigarro, mesmo a quem não é fumante. Tem livre acesso aos bares e restaurantes dando uma ‘canjinha’ com os músicos, que mesmo de improviso não negam o microfone. Não tem muito ritmo, mas tem uma voz bem peculiar que lembra a do Pernambucano Alceu Valença.

Este cara é um capitulo a parte: Biu do Violão. Anda pelas calçadas com seu instrumento tocando invariavelmente músicas de Roberto Carlos. “Amigo” do Rei, chegou inclusive a receber de presente um violão, entregue pessoalmente pelo cantor no Hotel onde se encontrava hospedado para um show na cidade. E todas as vezes que retorna ao lugar, não se omite em recebê-lo na sua suíte, sempre com um carinho e uma graninha para ajudar no orçamento.

Nos anos oitenta, ele foi o terror das criancinhas. Ratinho como era conhecido o moleque que teria sido o primeiro “trombadinha” local. Tinha, ou melhor, tem, pois ainda está vivo, um leve distúrbio mental, andava pelo centro cheirando cola de sapateiro e fazendo pequenos furtos. Depois caiu na simpatia da população e transitava muito bem até entre os políticos locais.

Certamente o de melhor condicionamento físico é o Zé Bonitinho. Esse cara vivia correndo nas ruas pelo meio dos carros com um apito sinalizando o que ele julgava correto. Uma graça. Havia momentos que disparava na carreira de costas, dando tchau para que olhasse para ele, uma verdadeira figura que ainda flui pelo calçadão e adjacências.

Na categoria lavadores de carro, era fácil encontrar no estacionamento ao lado do antigo Cinema Capitólio com Antônio, vulgo Negão. E Joselito apelidado de Gorila. Negão assim como o índio Galdino Jesus dos Santos, foi também queimado vivo numa rua no centro da cidade, ficando com sequelas físicas até o dia de sua morte no início dos anos 2000. E Gorila era uma espécie de escravo de alguns policiais corruptos, que o obrigavam a roubar e repassar o produto dos furtos para eles. Quando não tinha um apurado muito bom, era forçado a beber óleo queimado, fragilizando por completo a sua saúde, e o levando também a morte.

Ivanildo Coceira se intitulava “Huck”. Um Agente de logística e captação de produtos recicláveis, ou simplesmente: catador de papelão. Sujeito bem religioso que tinha uma coceira interminável, e viva interpretando frases da bíblia ao seu modo. “Em um trecho Jesus disse ao paralítico: A ti te digo: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa.» (Marcos 2:9-10). Essa interpretação do Ivanildo era incrível, ele dizia:” Lerranta, lerranta, lerranta porra sou eu que tô mandano, vai-te embota pra casa”. Era muito engraçado.

Ureinha era um pipoqueiro que andava com sua carroça vendendo a guloseima processada artesanalmente. Era como se fosse as famosas pipocas Carintó, porém, muito mais gostosa, fresquinhas, e servida com sal e manteiga da terra em saquinhos de papel. Percorria todos os bairros da cidade fazendo a alegria da criançada que o chamavam de “Ureinha” pela falta de uma parte do aparelho auditivo.

Poderia passar o dia inteiro listando figuras que estão encravadas no inconsciente coletivo campinense. Mas para finalizar esta lista de ilustres personagens, não poderia deixar de fora A mulher dos ratinhos: Não conheço ninguém que um dia soube o nome desta importante comerciante desses brinquedinhos, que eram confeccionados com apenas quatro materiais: papelão, carretel de linha, borracha de dinheiro e um pedaço de cordão. Essa obra de arte da engenharia é tão simples e engenhosa, que causaria um desconforto até em Leonardo Da Vinci.

Assim se constrói a memória de um lugar que com suas peculiaridades e diferenças, a torna rica culturalmente, preenchendo as lacunas deixadas pelo uso frenético dos aparelhos eletrônicos e meios de comunicação virtual, que apesar de sua importância, e de sua dilata fonte de informações, cria uma cortina de fumaça nas pessoas e coisas mais simples que encontramos no cotidiano de uma cidade.

Maerson Meira. 24/09/2014.

MAERSON MEIRA
Enviado por MAERSON MEIRA em 02/10/2014
Reeditado em 02/10/2014
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