Uma estranha mania de felicidade

O que é felicidade?

Umas das definições é que felicidade é um estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e mental!

Pensemos numa semana, que se repete há décadas, onde uma pessoa se levanta às cinco horas da manhã, corre para o trabalho, depois a noite vai para a faculdade, chegando em casa uma hora da manhã.

Isso mesmo, sai num dia e chega noutro. Dorme menos de quatro horas em sua cama, o resto do sono é compensando com cochilos na mesa do escritório, nos bancos dos coletivos, na carteira da escola, no intervalo.

Como aguenta?

Bom, colocou a vida no piloto automático. Bem posicionado profissionalmente, consegue dar à família conforto. Como será seu estado físico e emocional?

Um dia ele leva um casal de amigos para um churrasco em casa, e, sentado ao lado da piscina, o amigo dá-lhe um tapa na perna e diz: - você é que é um homem de sorte!

Que felicidade! Ele é um homem de sorte...

Eu diria, se sorte realmente existe, ele é um homem que faz sua sorte!

De uma coisa tenho certeza: o tempo cobrará esse esforço que lhe dá sorte!

Uma amiga, que me auxiliou bom tempo na organização do apartamento, por quem eu tinha um carinho enorme, trabalhou até mais e duro que nosso amigo da história anterior, com isso construiu sua casa. Nesse período faleceu o marido. Quando estava pronta a nova moradia, lhe dei como presente as persianas. A vi três ou quatro vezes depois desse evento. Foi internada às pressas e de lá seguiu para a morada eterna!

Não passou um dia sequer de sua existência no seu projeto dos sonhos!

Temos aqui duas pessoas que tinham tempo para alguma reflexão sobre seu estado de satisfação nos fins de semana. Durante a semana, a carga de ocupação do tempo era realmente insana. Pensavam em felicidade a toda hora? Certamente que não.

Em algumas visitas que faço a executivos, muitos resistem em encerrar a conversa, pois aquele se mostra um instante de felicidade.

Shakespeare nos ensina que sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco com o muito que temos.

Sentado no campo, vendo um pássaro saltar nos galhos, podemos nos sentir muito melhor que numa sala com móveis caríssimos, esplendidamente decorada, com uma placa na mesa, “PRESIDENTE”.

Ou, a sensação pode ser inversa: não ter qualquer atração pelo pássaro e pelo campo, onde o carro voltará coberto de poeira, e o escritório irá parecer uma extensão do Paraíso!

O facebook é o muro das lamentações dos novos temos. As carinhas postadas mostram os estados emocionais das pessoas naquele determinado momento: se sentido feliz, cansada, animada, pensativa, e por ai vai. Por quê? Simplesmente, porque lá há incentivo para essa reflexão. A todo o momento, alguém diz como está se sentido.

Como definir a sensação de prazer ao sentir uma gota de chuva, ver o sol da manhã?

Quando disse isso a um grupo de pessoas, algumas saltaram da cadeira e gritaram: gota de chuva, sol da manhã, tá maluco?

Maluco é o fato que a tal da felicidade, incompreendida, incomoda!

Convidar morcego para dar uma volta no parque durante o dia, não funciona. Não faz parte de seu conceito de plenitude. Tudo o que ele quer é passar o dia de cabeça pra baixo...

Quando moleque, nosso estado de plenitude era simplesmente colocar nossas pipas no ponto mais alto do céu. Nada mais! Banal, mas dá uma tese e tanto.

Nesta semana, em pleno domingo, corri tanto que nem comi direito. Tomar sorvete, jogado no sofá, foi a melhor coisa que consegui, assim que cheguei. Tenho certeza que havia um pedaço do Paraíso naquele pote...

Se a vida não é uma fábrica de realização de sonhos, porque temos essa estranha mania de felicidade?

Ivan Postigo
Enviado por Ivan Postigo em 29/09/2014
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