Cientista Afirma Que O Choque Entre Torcidas Organizadas Pode Fazer Bem
O maior analista sócio-comportamental internacional da atualidade, o famoso Professor Owen Makéndiss Foyhéu, consegue ver com otimismo o fato de que a ONU aceitou examinar o projeto apresentado por ele, que propõe aos governos democráticos a disseminação de pistolas "taser" entre as torcidas organizadas cujos respectivos líderes aceitem assinar um acordo do uso prudente desses simpáticos e divertidos aparelhinhos não-letais.
Aquilo que o Professor chama de "acordo do uso prudente" corresponde à disposição dos interessados em aceitarem fazer um treinamento da técnica Safe Dealing Shock, para no final firmarem compromisso de que irão interromper os disparos das pistolas de choque sempre quando ficar confirmado o desmaio do oponente durante os confrontos.
Para aqueles que apressadamente vierem temer o aumento da incidência de vítimas fatais do uso das armas taser, o Professor vai logo avisando que no seu projeto está incluída a revisão na potência desses brinquedinhos, de modo que o choque liberado corresponda a apenas um terço (1/3) do que hoje produzem tais engenhocas. Trata-se de uma migalha, portanto, um dano mínimo, quando se compara isso com os traumatizantes efeitos das barras de ferro ou dos tradicionais porretes repercutindo sobre a caixa craniana de cada um dos animados adeptos de todas as manchas (principalmente as de sangue).
O torcedor, conforme afirma o Professor, tem todo o direito de dar vazão ao seu imaginário mundo de poder, onde uma simples vitória do seu clube significaria estarem pagas todas as suas contas (de celular, de motel, etc.), razão pela qual um desabafo mais acalorado em cima da outra galera poderia lhe trazer o prazer maior que somente pode ser alcançado em confronto fora do gramado.
A teoria baseia-se num estudo amplo, feito pelo Professor, no qual ficou comprovado que a utilização desse equipamento como acessório para policiamento (nas ruas) acaba dando motivo para altíssimos surtos de sadismo por parte dos agentes da lei – principalmente quando as divertidas armas taser caem nas mãos de guardas municipais preguiçosos e incapazes de se locomover com velocidade ou alérgicos a diálogos com vendedores ambulantes.
O Professor Owen Makéndiss Foyhéu elaborou um extenso relatório, segundo o qual o uso social das pistolinhas de choque (soft shocking guns) ficaria muito adequado em países como o Brasil e o Egito, lugares esses onde há maior incidência de uso da força bruta para convencimento mútuo entre torcedores, na questão de qual seja o time "mais campeão" para tais admiradores animalescamente animados na arte de se castigarem com um pouquinho de excesso.
Uma corrente de psicólogos apresenta um argumento muito insistentemente contrário a essa maneira de lidar com o comportamento destemperado e acacetado das torcidas organizadas. Trata-se do temor de que essas – já calombadas – cabeças, de tais torcedores, acabem por exigir sempre mais, tornando-os então dependentes de sentir aquelas relaxantes ondas de choque a lhe percorrerem o corpo, o que poderia levar os usuários de armas taser a se automedicarem, isto é, a praticarem uma quase eletrocussão fatal causada pela repetição. Haveria ainda o risco de lesão do choque repetido, com o surgimento de espasmos contínuos dos terminais nervosos, especialmente no caso de uso indevido para fins de estímulos sexuais.
Porém, o Professor responde a este último argumento afirmando que seria ótimo que isso acontecesse porque muitos dependentes de drogas ilegais acabariam sentindo menos atração por coisas como cocaína e seus derivados, até mesmo tornando-se menos propensos ao alcoolismo.
A crítica feita pelo Professor ao uso das armas taser para fins de policiamento dos espaços públicos baseia-se em sua acentuada preocupação com a preguiça que toma conta de muitos policiais, quando passam a querer usar esse recurso sem justificativa, abandonando assim as alternativas das tradicionais técnicas, aprendidas em treinamento, para subjugar fisicamente um descontrolado qualquer em seus cotidianos. Há indícios de que os guardas municipais, por exemplo, ansiosos em alcançar o status de uma autoridade policial, assumem ares de provocação com os transeuntes nas ruas de algumas capitais brasileiras. Esses tais sentem aquilo que vulgarmente vem sendo chamado de "tesão por uma taser". Houve já um caso em que a polícia de verdade (aquela que não tem apenas farda, mas também uma honrosa disciplina militar) foi chamada a intervir num caso em que um funcionário de uma prefeitura usou sua prerrogativa de patrulheiro das ruas, estampando atitude intimidadora ao namorado de uma bela jovem que não lhe dava atenção. E neste caso ele acariciava sua arma taser exibindo um semblante de dominador da situação.
Voltando aos integrantes de torcidas organizadas, o Professor afirma:
- Devemos ajudá-los a aproveitar o pouco de recursos cerebrais que ainda lhes resta, ensinando-os a redirecionar suas cabeças traumatizadas para fins menos violentos.
Perguntado se é possível acreditar nas pesquisas mais recentes que apontam uma migração de oito por cento desses brigões a cada ano para o mundo do tráfico de drogas, o Professor afirma que é justamente no meio desses fanáticos que os mais cruéis traficantes costumam buscar seus soldadinhos – pelo simples fato de que um torcedor violento já tem o potencial de fazer muito mal, mesmo antes de usar a cocaína e qualquer dos seus derivados, o que faz com que sejam ainda mais facilmente manipulados após se iniciarem como viciados.
Mas será que as armas taser seriam de fato bem melhor usadas com essa finalidade?
No mínimo, seria chocante.