Pontualidade

PONTUALIDADE

Meu dicionário Houaiss eletrônico atesta que pontualidade é a qualidade ou condição de pontual ou, ainda, trata-se do cumprimento de um horário, ou de compromisso. Eu confesso que não sou um cara pontual. Na Caixa fui chefe por quase trinta anos, e a pontualidade nunca foi uma das minhas virtudes nesse mistér. Eu não era desses que preconiza que o chefe deve ser o primeiro chegar e o último a sair.

Tem gente que tem uma certa fixação, quase uma paranoia quanto ao cumprimento rigoroso dos horários, como se isto fosse a condição indispensável para o sucesso de qualquer projeto de vida. Como já afirmei, a pontualidade nunca esteve em minhas maiores preocupações, tanto assim que, no meu casamento cheguei meia hora depois da noiva na igreja.

Mesmo assim, eu detesto esperar, ficar em filas. Não sou pontual mas tenho ojeriza pela impontualidade dos outros. Nos consultórios médicos – ah, como eles gostam de nos fazer esperar – eu não fico mais de vinte minutos. Demorou, eu reclamo do mau atendimento e vou embora. Eu sempre reputei como modelos de pontualidade as cerimônias militares e as celebrações religiosas. Nas atividades militares, depois de aposentado não tenho ido mais há cerca de vinte anos. Nas igrejas a coisa tem altos-e-baixos. Na minha comunidade, por exemplo, o padre não costuma começar na hora, quem sabe para dar uma repontada nos retardatários.

Quando entrei na Caixa, em 1962, meu primeiro chefe era um calhorda torturador, que tinha compulsão em pegar o atraso dos outros. Na hora da entrada ele chegava meia hora mais cedo e colocava o malsinado “livro-ponto” em cima de sua mesa, para apanhar os atrasados. Quem tivesse um minuto de atraso recebia um carimbo vermelho (atrasado) ao lado do nome. Três atrasos no mês resultavam em uma falta. Mas, se a gente trabalhasse meia hora após o expediente, ele nem falava em “hora-extra” nem tampouco em compensação de horário. Por isso que a gurizada sabotava os fechamentos. Acho que esses episódios contribuíram para minha aversão ao cumprimento rigoroso de horários.

Diferente de outros colegas, quando lecionei na universidade nunca dei muita bola aos atrasos dos alunos. Eu também fui aluno e sabia a dificuldade de, depois de um dia de trabalho, ir em casa, tomar banho e jantar – quando era possível – para chegar a tempo na aula. Há um ditado francês que afirma que “a pontualidade é uma virtude sem testemunhas”, uma vez que não há ninguém lá para testemunhar a chegada do pontual. Acho que o indivíduo que exagera nesse quesito, deveria se tratar, assumir um tratamento psicológico, pois sua conduta chega a assumir uma patologia, afinal, o pontual é em geral um compulsivo, um torturador. Pontualidade é virtude, mas exagerar é patológico.

#Antonio-galvao