Os Totalitários da Participação Popular

Como não poderia deixar de ser, minhas críticas desagradam ao meio esquerdista. Nada daquilo que me tem sido contraposto impugna, no entanto, a constatação de que, como o Manifesto Comunista de 1848, as atas do Foro de São Paulo e do Forum Social Mundial, assim como o Decreto dos Conselhos Populares, reproduzem o modelo de captura das relações humanas, em todos os níveis, pelo estado.

No Manifesto, Marx e Engels partiam da noção de classe, logicamente opaca para seus próprios autores.

Registro que a análise sine ira do marxismo, calcada na lógica elementar, muitas vezes instiga mugidos de altercação em hordas de ruminantes intelectuais, mas não se deixa abater pela algaravia. Distantes do discernimento, imunizados contra o debate de ideias por um sistema de crenças espesso, por um crosta ideológica, aqueles que entoam loas à salvação proletária, não são capazes sequer de entender que o que se predica de um membro de uma classe não pode ser predicado da classe.

Por exemplo, a classe das mulheres vesgas não é vesga.

A classe das colheres tortas não é torta e a classe dos operários oprimidos não é oprimida.Classes são constructos lógicos e qualquer tipo de realismo metafísico que apliquemos a elas esboroa-se, juntamente com paradoxos, para os quais o genial Marx não atentou, a uma porque não entedia de lógica e, a duas, porque a lógica de sua época ainda não chegara aos níveis de complexidade da nossa. Marx, que se deteve tanto na crítica da economia de seu tempo, faz parte da pré-história em termos de lógica de primeira ordem.

Isto é fato. Somente indivíduos como Paul Singer, Marco Aurélio Garcia, Ideli Salvatti, Leonardo Boff e Tarso Genro insistem em permanecer como herdeiros daquele troço abstruso de Hegel, a dialética, com a qual fazia ginásticas mentais o austero Caio Prado Júnior, um de seus grandes cultuadores brasileiros .

Os irrefreáveis perdigotos que chegaram até mim, certamente não resultaram de minha crítica à metástase comunista per se, mas da salivação de militantes que ainda mantêm sob guarda severa os segredos do enlace, no Partido dos Trabalhadores, entre o cristianismo, o marxismo e a práxis das trutas. Os inconformados com minha análise, que crêem ter sido conceitualmente tudo resolvido pelos autores do Manifesto de 1848 e com a Teologia da Libertação, até agora nada mais fizeram senão espargir maus odores originados de uma dogmática, reconheço, insepulta, mas que sequer eles dominam.

Fossem capazes de pequena dose de autocrítica, dedicar-se-iam mais à exegese de seu próprio cânone, daquele mesmo conjunto de textos da escola marxiana, cujo objetivo era analisar os fundamentos socioeconômicos da sociedade industrial do século XIX e projetar, ao modo historicista, as inevitáveis quedas do capitalismo e ascensão da sociedade sem classes dos produtores livres. Esta base profético-historicista riu. Explico o porquê..

Mesmo assim –e postas de lado Inquietações de dogmáticos - sustento que a análise rápida, não a apressada, das premissas da teoria marxiana revelam que a ciência revolucionária dos comunistas é não apenas falível, como seria de se compreender de uma hipótese de economia política, mas insustentável. O conceito de classe é oco e se depreende - porque jamais foi definido pelo próprio Marx- que o autor de O Capital estava fazendo uso de uma noção vulgar de agregado, ao qual pertenceriam indivíduos portadores de uma propriedade comum.

No caso, dos proletários, aqueles que possuem força de trabalho, são empregados e remunerados; no caso dos burgueses, aqueles que detêm a propriedades dos meios de produção, as fábricas ou a terra.

CONTINUA. . .

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