Aborto

Os que se dizem ser pró-vida realmente defendem a vida ou apenas a vida humana? Muitos, guiados pelo pensamento religioso acreditam que no momento da fecundação, o aborto já é considerado um assassinato! Se assassinato for matar qualquer coisa que é viva, então a Igreja está com a razão. Então podemos considerar assassinato matar desde um inseto até um animal grande, como os caçadores de baleias fazem. Mas isso não parece fazer tanto alvoroço quanto matar um feto. Ao que me parece, os pró-vida, na verdade são pró-vida-humana. Mas prosseguindo. Podemos então considerar uma masturbação como assassinato, pois o espermatozoide é um ser vivo (na verdade é uma célula reprodutiva). Da mesma maneira, em uma menstruação, o corpo assassina naturalmente um óvulo. Abortos espontâneos ocorrem sem nenhum problema, é natural do corpo. Tomar um antibiótico é assassinato. Agora, o que diferencia a vida humana do resto dos animais? É a capacidade de raciocinar e criar situações, exprimir nossas ideias. De outra maneira, é a capacidade de pensar de forma lógica. Sendo assim, a criança só seria um ser humano completamente desenvolvido a partir da 22 semana de gestação. Antes disso, a criança possui uma vida, mas não consciência. Ou seja, somos pró-vida ou pró-vida-humana? O aborto, na minha opinião, tem que ser legalizado, embora eu não aprovo a prática. Isso vai evitar que mais pessoas morram por causa de métodos não seguros. Muitas mulheres são internadas por complicações devido a um aborto não seguro. Em 2005, a Organização Mundial da Saúde (OMS) levantou um dado no qual mostra que no mundo todo cerca de 50 milhões de abortos ocorrem todos os anos. De todos os abortos realizados, 18 milhões ocorrem em clínicas clandestinas. Anualmente, cerca de 13% da mortalidade materna é devido a causa de abortos malsucedidos. Mas para a maioria, a mortes dessas mulheres não passam de um castigo divino. É verdade que o feto não é uma extensão do corpo da mulher, mas sim outro ser vivo. É verdade também que os orfanatos estão cheios de crianças esperando para serem adotadas, e uma boa parte dos que lá estão são adolescentes. Mas ninguém parece se importar com isso. O direito do feto dura até ele nascer, pois depois que nasce ninguém se importa de como ele se desenvolverá. Não se importam se ele vai ter boas condições de vida ou não. Se vai passar fome e frio ou se vai morrer antes de completar cinco anos de idade. Na minha opinião, não faz sentido falar de direitos humanos para um feto, que ainda nem tem consciência de que está vivo. Crescemos num mundo onde a mulher é vista como a função de procriar. As religiões dominantes são patriarcais onde as mulheres, muitas vezes, são obrigadas a permanecer em silêncio dentro dos templos (embora as vertentes cristãs estão mudando isso). Aprendemos desde cedo, pelo convívio natural com nossas crenças, de que a mulher foi criada para ser companheira do homem e lhe dar filhos. Portanto, se uma mulher aborta ela está indo contra o plano divino. Mas para a Igreja é mais justo absolver um estuprador e condenar a estuprada que fez o aborto. Ninguém tem o direito de julgar ninguém, e muito menos de perdoar em nome de Deus.