ESPÍRITO DE PARTILHA
Na presente reflexão não pretendo discutir questões jurídicas de “partilha”, mas sugerir a formação de uma consciência de partilha. A muitos, hoje, parece haver pouca comida para tanta gente no planeta terra. Mas, a humanidade, organizada solidariamente, poderia ser saciada, e ainda sobraria comida. Contudo, esta comida não cairá do céu, ela deverá ser distribuída (partilhada) pelos próprios homens e sem desperdício.
Na terra existem alimentos suficientes para todos. Para que estes alimentos cheguem a todos é preciso que os homens se organizem, queiram partilhá-los solidária e fraternalmente. Isto deve ser uma opção da humanidade, e supõe que haja educação para a partilha, superando os egoísmos.
Não se trata apenas da partilha dos bens materiais. A disposição da partilha deve ser em relação a todos os dons que fazem parte da dimensão humana. Como já disse um filósofo: “o maior capital do homem é o próprio homem”. Nada do que é verdadeiramente humano pode permanecer estranho a qualquer pessoa, deixando de ser objeto de partilha. Especialmente a partilha do Saber, do Poder e o do Ter.
A partilha do Saber permite o desenvolvimento pessoal, profissional e espiritual de cada um.
A partilha do Poder se traduz em que cada um possa assumir sua vocação e missão com responsabilidade autônoma, e expressar-se sobre o andamento da comunidade.
A partilha do Ter se manifesta nos trabalhos solidários, e dá valor às realizações coletivas. Deve-se criar um ambiente de autoestima nos diversos setores das comunidades. As vitórias de cada um devem ser prestigiadas como vitórias de todos.
Quando observamos como os homens, na atualidade, partilham o saber, o poder e o ter, constatamos, imediatamente, que o espírito de partilha anda muito fragilizado. Quantos ainda não têm acesso aos conhecimentos científicos? Se os países compartilhassem todos os seus conhecimentos, sem reservas, quantas vidas poderiam ser salvas? Quanta miséria poderia ser eliminada? Quanto sofrimento superado? Em vez disto, muitos conhecimentos apenas servem para partilhar o mal, promovendo guerras e mortes... Somente quando a humanidade se convencer da necessidade da partilha fraterna de todos os seus bens e dons, cada vez mais pessoas terão acesso à educação, saúde, alimentação, habitação, lazer e condições profissionais dignas e justas. E a vida na terra, de fato, estará se humanizando.
Inácio Strieder é professor de filosofia -Recife-PE.