Década de 1900 (Parte 1/12)
Situação Colonial
Quatro séculos como colônia, os três primeiros vinculado a Portugal. Por volta do século XIX criou laços econômicos e financeiros de dependência com a Inglaterra. O poder econômico e o poder político estiveram concentrados de forma quase absoluta aos latifundiários (2% da sociedade dominava o cenário brasileiro). Seus principais portos eram: Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Santos.
O Brasil foi uma colônia oficial, isto é, a conquista e a ocupação do território foram dirigidas oficialmente pelo governo português. Foi a mais rica colônia do mundo no passado e hoje é o país tropical mais desenvolvido.
As atividades econômicas foram predominantemente dirigidas para a exportação desde o início da colonização. No século XIX, a participação da exportação na geração da renda global foi se reduzindo lentamente, mas manteve-se elevada principalmente até 1930. O poder político concentrado nas mãos dos latifundiários controlavam a exportação e importação e o trafico negreiro, estabelecidos nas principais cidades-porto do litoral.
Na Primeira República (1889-1930), houve ampla descentralização administrativa, ficando o poder sob o controle das oligarquias regionais em cada Estado (do açúcar, do café, do gado etc.).
Com a proclamação da República em 15 de novembro de 1889, Deodoro da Fonseca foi escolhido presidente pelo Congresso. Seu sucessor foi Floriano Peixoto. Prudente de Morais foi o primeiro presidente eleito pelo povo com 276.583 votos e governou até 15 de novembro de 1898.
Na década tivemos cinco presidentes todos eleitos pelo voto direto e na plena normalidade democrática,apesar de alguns problemas políticos. Nilo Peçanha que sucedeu Afonso Pena após a sua morte em exercício do cargo, era vice presidente eleito e completou o seu mandato:
· Campos Sales 15/11/1898 a 15/11/1902
· Rodrigues Alves 15/11/1902 a 15/11/1906
· Afonso Pena 15/11/1906 a 14/06/1909
· Nilo Peçanha 14/06/1909 a 15/11/1910
· Hermes da Fonseca 15/11/1910 a 15/11/1914
Em 1900 a população brasileira era de 17.318.556 habitantes e os cinco estados mais populosos, que representavam 60% da população total, eram:
· Minas Gerais 3.594.471 habitantes
· São Paulo 2.282.279 habitantes
· Bahia 2.117.956 habitantes
· Pernambuco 1.178.150 habitantes
· Rio Grande do Sul 1.149.070 habitantes
As cinco cidades mais populosas eram:
· Rio de Janeiro 691.565 habitantes
· São Paulo 239.820 habitantes
· Salvador 205.813 habitantes
· Belém 166.121 habitantes
· Recife 113.106 habitantes
Em 1910 a população brasileira era de 23.414.177 habitantes e estes eram os cinco estados mais populosos. Comparando com o quadro de 1900, Pernambuco e Rio Grande do Sul trocaram de lugar na lista:
· Minas Gerais 4.479.689 habitantes
· São Paulo 3.455.030 habitantes
· Bahia 2.631.989 habitantes
· Rio
Grande do Sul 1.594.439 habitantes
· Pernambuco 1.570.183 habitantes
Na década entraram no Brasil 640.577 imigrantes, sendo as principais origens as seguintes:
· Itália 215.886 pessoas
· Portugal 187.236 pessoas
· Espanha 129.404 pessoas
· Alemanha 17.553 pessoas
· Japão 1.809 pessoas
· Outros 88.689 pessoas
DESENVOLVIMENTO
Pecuária e Agricultura
Na virada do século, a população brasileira era de 17,3 milhões de habitantes, vivendo cerca de 11 milhões no campo, Fora os abonados cafeicultores (que moravam nas grandes cidades em ricas mansões e palacetes) a população rural na maioria das vezes, praticava agricultura de subsistência e criação de gado. O rebanho bovino era estimado em 22,8 milhões de cabeça, produzindo 350.000 toneladas de carne por ano. O consumo de carne bovina per capita era de 20 kg por ano. O preço por arroba de boi era de US$2,75. Cerca de 70% do rebanho estava concentrado em Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Bahia.
Excetuando algumas regiões do Rio Grande do Sul, onde já existia alguma especialização, em todas as outras regiões de maior rebanho, a criação de gado era uma atividade mista. Criavam-se vacas para a produção de leite e os machos eram engordados para a produção de carne. Também era importante a criação de bois carreiros para tração de arados, carros, carroças e das moendas dos engenhos.
Devido ao manejo inadequado, insuficiência de sais minerais, falta de vacinação e infestação de vermes, bernes e carrapatos, o crescimento do rebanho era muito pequeno e mal atingia a taxa de 1% ao ano. A mortalidade de bezerros antes da desmama era preocupante, assim como de animais adultos debilitados pela falta de pastagens e acometidos de doenças inerentes desta situação.
Não havia abatedouros organizados e o abastecimento de carne ainda era feito como nos tempos coloniais. Geralmente nos finais de semana os açougueiros abatiam algumas reses adquiridas de criadores locais e revendia a sua carne para a população, geralmente nos sábados. Havia apenas dois tipos de carne: todos os cortes do traseiro eram chamados de “carne de primeira’ e todos os cortes do dianteiro eram chamados ‘carne de segunda’. Cada fazenda abatia seus garrotes para consumo da casa do fazendeiro e dos agregados. Era hábito comer carne bovina, apenas nos finais de semana.
Em 1906, a Câmara de Deputados autorizou a concessão de uma verba para ressarcir as despesas de importação de animais de raças puras europeias para melhorar o rebanho nacional. Também foi destinada outra verba para combate às epizootias. O decreto nº 6454 no dia 18 de abril de 1907 concedia outras isenções tributárias aos importadores de animais de raça. Pelo mesmo decreto foi instituído na ‘Sociedade Nacional de Agricultura’, um livro de registro genealógico dos animais importados e controlar a sua descendência. No ano de 1909 foram importados, gozando destes benefícios, cerca de 700 animais.
Foi iniciada pelo governo federal, a instalação de fazendas experimentais de criação de gado. A primeira foi a de Ponta Grossa no Paraná, numa área de 5.600 hectares, doadas pelo estado e que fazia parte anteriormente do posto zootécnico estadual. Existia nela 3 garanhões árabes puro sangue, 1 touro e 14 vacas Caracu, 84 éguas de raças diversas, 12 carneiros Southdown, 45 carneiros Oxforddown e 15 carneiros Romney Marsh.
O Brasil dominava o mercado mundial de café. Na safra 1899/1900 foram colhidas 9.561.445 sacas de 60 kg (573.687 toneladas), na safra seguinte 1900/1901 alcançou 11.373.371 sacas (682.398 toneladas) e na de 1901/1902 o recorde de 16.270.678 sacas (976.241 toneladas). Entre 1901 e 1910 foram exportadas 130.599.000 sacas no valor médio de 187 libras esterlinas por saca, média de 13.060.000 sacas por ano.
Em 1906 estourou a primeira crise do café. A safra brasileira de 20 milhões de sacas superava o consumo mundial estimado em 16 milhões de sacas. Os preços despencaram fazendo que os governadores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais se reunissem em Taubaté para buscar uma solução. Foram fixados no convênio assinado os seguintes pontos principais:
· Preço mínimo para a saca de café.
· Realizar um empréstimo no exterior de 15 milhões de libras esterlinas para os três estados adquirissem para retirar do mercado o excesso de café.
· Estabelecer um fundo para a estabilização da taxa cambial para evitar que o mil-réis fosse valorizado.
· Proibir o surgimento de novas lavouras de café.
Em 1909 já surgiram os primeiros efeitos do convênio e os preços internacionais do café começaram a reagir e o taxa cambial era mantida artificialmente baixa pelo governo. O Brasil endividou-se e os banqueiros europeus monopolizaram o comércio do café. Muitos fazendeiros quebraram e venderam suas terras para os bancos e as casas comissárias, que foram os grandes beneficiários da situação, comprando quando o preço estava caindo e vendendo na alta. A dívida externa que entre 1901 e 1906 estava numa média de 340 milhões de dólares, saltou para 444 milhões em 1907, 542 milhões em 1908, 553 milhões em 1909 e 625 milhões em 1910. Em 1900 Machado de Assis lançou o livro ‘Dom Casmurro’ e Joaquim Nabuco sua autobiografia ‘Minha Formação’. E começou a circular a ‘Revista da Semana’
Chiquinha Gonzaga compõe a marchinha carnavalesca ‘Ô Abre Alas’
Em 1901 Afonso Celso publicou o seu livro ‘Por que me Ufano de Meu País’ e Silvio Romero os ‘Ensaios de Sociologia e Literatura’.
O proprietário da Casa Edison do Rio de Janeiro introduziu o disco fonográfico no Brasil, gravando modinhas e lundus. com a voz do desconhecido Eduardo das Neves. Para ouvir o disco os interessados tinham que comprar um gramofone que custava 700 mil réis, o equivalente a dois meses de salário de um comerciário
Em 1902 começou a circular a revista ‘O Malho’ e Euclides da Cunha publicou ‘Os Sertões’.
Em 1903 Sarah Bernhardt em sua terceira visita ao Brasil se apresentou no Teatro Polytheama em São Paulo com grande sucesso.
Em 1904 o prefeito Pereira Passos iniciou a remodelação urbana do Rio de Janeiro, demolindo casebres para abrir novas avenidas no estilo europeu
Em 1905 apareceu o ‘Tico Tico’ a primeira revista em quadrinhos do Brasil e Olavo Bilac publica o seu ‘Tratado de Versificação’.
Em 1906 a atriz de teatro de revista Maria Lino lançou para o carnaval o maxixe ‘Vem Cá, Mulata’ composto por Arquimedes de Oliveira e Bastos Tigre, que causou rebuliço, pois o maxixe era considerado uma dança obscena.
Em 1907, no dia 15 de junho realizou-se em Haia na Holanda a ‘Segunda Conferência Internacional pela Paz’, onde se destacou Rui Barbosa como o Águia de Haia.
Também foi lançada em 1907 a revista ‘Fon-Fon’.
Em 1908 foi lançado o filme de Antonio Leal ‘Os Estranguladores’. Antonio Leal ao lado de Alberto e Paulinho Botelho foi um dos pioneiros do cinema nacional.
Em 1909 foi inaugurado o Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Carlos Chagas descobriu que a doença que ficou conhecida como ‘Mal de Chagas’ era causada por um micróbio transmitido pelo barbeiro, um inseto sugador.
Em 1910 era criado o Serviço de Proteção aos Índios (SPI) sob direção de Candido Rondon.
William Auler produziu o filme ‘Paz e Amor’, dirigido por Alberto Botelho.