O que é "Deus"?
Fui criado em um lar cristão, desde recém-nascido. Comecei a ler Filosofia aos 13 anos de idade e comecei a entender como a religião pode funcionar bem quando vista como prática moral. Mas, o que é "Deus"? Dizer que Ele não existe é ignorância, porque até um cético pode estender o conhecimento e sacar uma dúvida. Agora, como entender?
No meu ponto de vista, o entendimento sobre a existência de "Deus" não pode estar no seio de uma única Verdade. "Deus" é complexo! A princípio, provavelmente no Neolítico, os homens não tinham uma noção de civilização, de Estado ou de qualquer outra forma política de se comportar fisicamente e intelectualmente. Séculos foram se passando e tinha de haver uma "Ordem": povos foram se unindo e houve o desenvolvimento de tribos, até formar cidades-estados.
Tudo que um líder tribal queria era uma ordem política que pudesse organizar tudo em termos sociais. Os deuses foram criados! O homem criou os deuses para que pudesse organizar o "ethos". Os gregos antigos souberam organizar esse "ethos" quando souberam que a arte poderia formar os deuses; antes da tragédia grega, os gregos antigos tinham a vida como uma obra de arte, sempre em busca do Belo, do Perfeito.
A arte grega tem origem nesta problemática. O mesmo instinto que cria a arte cria a religião. Os gregos criam a religião, os deuses olímpicos, para tomar a vida desejável. A criação da arte apolínea é expressão de uma necessidade, pois a vida só se torna possível pelas miragens artísticas. Para que o grego, povo exposto ao sofrimento, pudesse viver foi necessário mascarar os terrores e atrocidades da existência com os deuses olímpicos, da alegria e da beleza, filhos do sonho.
A arte Apolínea é um modo de reagir a um saber pessimista do aniquilamento da vida. Os deuses olímpicos não foram criados como uma maneira de escapar do mundo em nome do além-túmulo, nem como forma de ditar um comportamento religioso baseado na ascese, na espiritualidade, no dever. A religião grega é expressão de uma religião de vida, inteiramente imanente, que diviniza (torna belo) o que existe. Para escapar do saber pessimista, o grego cria um mundo de beleza que ao invés de expressar a verdade do mundo, é uma estratégia para que ela não ecloda.
Com a Idade Média, o homem criou outro "Deus", Único, que pudesse ter a responsabilidade de todos os nosso atos e ordenar o nosso destino. Foi aí que o niilismo nasceu, desvalorizando a vida em prol de outra vida que, segundo a concepção cristã, existe depois que morremos - consequentemente, a inteligência e a dialética perderam-se.
A minha interpretação de "Deus" também é subjetiva, justamente por não haver uma única verdade. Para mim, a expressão "Deus" é representação da vida. Nada nasce e se organiza no cosmos sem uma Ordem, uma Força que põe as coisas no lugar.
Tudo que escrevi até aqui foi do ponto de vista SOCIAL. E do ponto de vista PSICOLÓGICO? Como "Deus" pode se "apresentar"? São várias as pessoas que têm suas visões de anjos, demônios, deuses, etc. Carl Jung diz que todas essas manifestações de sonhos e de visões são impulsos psicogenéticos de nosso inconsciente chamado "arquétipo". Os "arquétipos" são responsáveis pela produção das visões imaginárias que nossos ancestrais tiveram e que também em nós nos influencia a ter o mundo e de nós mesmos.
Muitas pessoas sem conhecer a religião judaico-cristã já tiveram suas manifestações arquetípicas (sonhos, visões) como, por exemplo, visões da Cruz, de Maria, de Jesus, do anjo Gabriel dentre outros. Como pode? Não é uma visão dada por "Deus",ao meu ver, mas algo já herdado de nossos ancestrais. Carl Jung escreveu, em seu livro "Psicologia da religião oriental e ocidental", a seguinte coisa: "antes que os homens aprendessem a pensar, os pensamentos lhes vieram à mente".
Carl Sagan, em seu livro "O Mundo Assombrado pelos Demônios", escreveu que uma pessoa pode ter alucinações em condições psicológicas perfeitamente normais, sem que haja uma patologia específica de natureza mental ou cerebral. "Os olhos não veem, ao contrário do cérebro", escreveu.
Os mesmo que criou as artes, criou a Religião: a mente em seu ideal. Platão considerou as expressões artísticas como imitação. Não, porém, imitação da imitação como uma forma de plágio, mas do puro desdobramento da forma potencial numa imitação direta da própria ideai, do inteligível para o sensível; os gregos antigos criaram as artes, a religião e os deuses, considerando o período Helênico.