A PORTA ABERTA
"Aquele que vence a si próprio é o maior dos guerreiros".
A preocupação em vencer o outro e ser melhor que ele é o objetivo de muitos. Deixamos a vaidade nos dominar, o orgulho nos vencer e o egoísmo nos guiar, e devido a isso, perdemos oportunidades divinas de sermos, realmente, pessoas melhores.
Com essa mania de querer ser visto como o melhor, de querer vencer na vida, de dominar, acaba-se criando rivalidades e desafetos diversos. Querer ser o melhor não é errado, mas esse melhor deve ser pautado na superação de nossas paixões inferiores e no aperfeiçoamento de nosso bem moral.
Muitos crianças crescem com essa ideia de “melhora” em suas mentes. São ensinadas a, disfarçadamente, odiar, a se importarem apenas consigo mesmas, e são criadas de uma forma a vencerem no mundo e não a vencerem o mundo.
Vencer no mundo, o qual hoje nos abriga, significa conseguir um ótimo emprego, estabilidade, casa, carro e todos esses valores apregoados hoje em dia. No entanto, devemos avaliar de quais meios estamos no servindo para alcançá-los. Vencer o mundo é não deixar que a concupiscência nos escravize. É deixarmos nossos interesses um pouco de lado, nossos problemas e dificuldades para auxiliarmos nossos irmãos que estejam precisando de uma luz, a qual já conseguimos enxergar. É abrir mão do “ter” para agora “ser”.
Alguns professores, instrutores, técnicos esportivos, diretores de algumas entidades, empresas, membros de alguns segmentos religiosos vivem a disseminar a rivalidade e a competição entre nós. Enquanto isso permanecer, nossas escolas, instituições, as modalidades esportivas, as entidades e seus adeptos e as religiões estarão separadas e disputando o troféu de melhor prêmio, esquecendo-se do melhor proceder. O ter fala mais alto. E assim, aquilo que deveria se tornar bonito e educador, torna-se caótico e perversor.
Ter mais dinheiro, mais conhecimento, mais amigos, mais roupas, mais imóveis.
Ser mais feliz, ser mais útil no meio em que vivo, ser autêntico, ser amigo, ser mais tolerante, ser fiel, ser humano.
É o ter ou o ser, eis a questão?
Um ataque em massa é desferido pelas propagandas, onde se diz, que “nosso estabelecimento de ensino é o melhor”, “Aqui, em nossa escola, o aluno passou em primeiro lugar no vestibular daquela famosa Universidade”, “Temos a melhor roupa, o melhor sapato”, “ nós cobrimos o preço da concorrência.” Cria-se um clima de rivalidade e adversidade, onde a torpeza fala mais alto, e o respeito e o valor pelo consumidor e pelo comerciante que se tornou rival residem nas margens de todo esse alvoroço.
Quando atropelamos direitos e roubamos oportunidades, estamos tomando um caminho cujo destino não é muito promissor.Tomemos o devido cuidado e abandonemos toda essa inútil concepção de disputa e busca desenfreadas por sermos os melhores, e assim descobriremos e desfrutaremos do lado sublime da vida.
Em vez de rivalidade, pensemos em cordialidade, pois talvez, as pessoas vão até um estabelecimento de ensino que se destaca, uma loja que oferece diversas vantagens, mas, na verdade, estão em busca de uma conversa fraterna, estão querendo falar um pouco delas, pois sentem-se sufocadas e deliram por causa de sofrimentos diversos. Ou quem sabe alguém foi embora de suas vidas e elas querem se pronunciar, exporem seus problemas, e buscam no consumismo e na evidência uma forma de compensação. O ouvir ou o falar, em vez de vender ou comprar alguém, ajuda a resgatar esse algo muito importante que esse alguém perdeu, ou que esteja à procura.
O desejo de reencontrar e ter novamente em nossas mãos o que no momento não temos é porque somos seres que não compreendemos a amplitude das Leis Divinas, e temos medo de encontrá-las em nós. Queremos que as pessoas sejam diferentes do que são e que correspondam aos nossos interesses e expectativas. Queremos arrumar um substituto para aqueles que nos deixaram, por algum motivo. Buscamos no outro uma cópia do que tínhamos. Queremos um amigo igual ao que foi embora, uma namorada ou um namorado, um esposo ou esposa, um cachorro ou animal iguais àqueles que tivéramos.
Querer substitutos em nossas vidas é repetir as mesmas cenas, mas
as cenas são outras porque o cenário mudou. Procurar enxergar e aproveitar as qualidades das pessoas que vêm para junto de nós, não para substituir e nos servir, mas para aprender e ensinar algo, é fluidez da alma. Toda criatura é impar.
Se alguém passou por nossas vidas e deixou marcas ou manchas, saibamos ver nisso ocasião de reflexão e recomeço.
A vida é um processo constante de relacionamento, de trocas de lugares e de experiências. Quando aceitarmos isso, conseguiremos alcançar muito mais rápido nossa estabilidade e aceitaremos melhor os acontecimentos, bastando para tal fim, que tenhamos a convicção de que Deus nos ama.
Posso não ser o que o outro espera de mim, ou não ter o que esperei de alguém, mas posso ajudar a recuperar alguma coisa que alguém perdeu, mesmo que esse alguém seja eu. Preciso apenas transpor a porta ou abri-la, quando alguém bater.
A porta aberta
Foi na Escócia, em Glasgow, que esta história aconteceu. A adolescente tinha problemas em casa, vivendo revoltada com os limites impostos por seus pais. Ela queria a liberdade plena. Seus pais lhe ensinaram a respeito de Deus e de suas leis justas e imutáveis. Um dia ela declarou:
-Não quero seu Deus; desisto, vou embora.
Saiu de casa, alcançou os jardins do mundo e almejou ser uma mulher do mundo. Logo descobriu que não era tão fácil viver sozinha, tendo que arcar com sua própria subsistência. O alimento, as roupas, um lugar para viver... Tudo era extremamente caro. Frágil e só, incapaz de conseguir um trabalho, ela acabou por se prostituir para sobreviver.
Os anos se passaram, seu pai morreu, sua mãe envelheceu, e ela nunca mais tentou qualquer contato com seus familiares. Certo dia, a mãe ouviu falar do paradeiro da filha. Foi até à zona de prostituição da cidade, tentando resgatá-la, mas não a encontrou. No caminho de volta, tomou uma resolução: Parou em cada uma das igrejas, templos e pediu licença para deixar ali uma foto. Era uma foto daquela mãe grisalha e sorridente, com uma mensagem manuscrita que dizia: “EU AINDA AMO VOCÊ. VOLTE PARA CASA.”
Os meses se passaram. Nada aconteceu. Então, um dia, a jovem foi a um local onde se distribuía sopa para os carentes. Sentou-se, enquanto ouvia alguém falar algo sobre aquelas coisas que ela ouvira durante toda sua infância. Em dado momento, seu olhar se voltou para o lado e viu o quadro de avisos. Pareceu reconhecer aquela foto. Seria possível? Não se conteve. Levantou-se e leu a mensagem que dizia “eu ainda amo você. Volte para casa.” Reconheceu sua mãe no retrato. Era bom demais para ser verdade. Ela desejara tantas vezes voltar, mas temia não ser recebida, afinal ela se transformara numa vergonha para os seus pais. Era uma mulher perdida, objeto de tantos homens.
Era noite, mas tocada por aquelas palavras, ela foi caminhando até sua casa.
O dia amanhecia quando ela chegou. O sol se espreguiçava em sua cama de nuvens e seus raios escorriam radiantes, inundando a Terra de pequeninos pontos de luz. Tímida, ela se aproximou de sua casa. Não sabia bem o que fazer. Bateu na porta e esta se abriu sozinha. Ela se assustou. Alguém arrombara a casa, pensou. Preocupada com sua mãe, correu para o quarto e a viu dormindo. Acordou-a, chamando-a:
- Mãe, mãe, sou eu. Voltei para casa!
A mãe mal podia acreditar. Abraçou a filha, em lágrimas.
-Fiquei tão preocupada! A porta estava aberta, pensei que alguém tinha entrado e ferido você, mãe.
Enquanto passava as mãos, docemente, pelos cabelos da filha, a mãe disse:
-Filha querida, desde o dia em que você se foi, a porta nunca mais foi fechada.
A porta Aberta,
De Robert Strand.
E, assim, leitor amigo, termino este capítulo com esta mensagem que emociona e movimenta meu íntimo, deixando-me pensativo sempre que a leio, pois com ela estou aprendendo que perdoar é dar ao outro a oportunidade de se retratar, deixando a porta aberta do coração para recebê-lo.
Quando alguém vai embora de nossas vidas, saibamos compreender suas escolhas, pois talvez tenha sido raptado por uma ilusão qualquer. Deixemos as portas abertas, para que quando voltarem, encontre em nós a compreensão e o perdão, e possam, assim, continuar.
Jesus, nosso irmão maior, está sempre de braços e corações abertos para todos nós. Sigamos esse exemplo de bondade, sem pensar naquele ato que nos desapontou, sem ressentir aquela amargura, para que haja a aproximação de seres que foram criados para aprender e para amar; e para aprenderem a se amar.