Na maioria das vezes, nós não agimos.
Vou explicar melhor, em filosofia da ação, nós temos um termo para dizer que as pessoas "agem de forma consciente". O temo é "agência". Então, quando você faz uma coisa, sabendo bem que está agindo e os motivos que te fazem agir deste, ou daquele modo, nós dizemos que você está em agência.
Em ética, no entanto, de maneira geral (Spinoza acho que não discordaria), nós realmente agimos quando sabemos que estamos fazendo algo. Bergson (apesar de eu não ter lido escritos dele mesmo), creio que faz uma distinção entre "ação e reação".
De maneira geral, nós agimos mesmo por Costume. E nossa mente se acostuma rapidamente com qualquer ato que façamos continuamente. Passamos a realmente acreditar, e melhor, nem sentir que estamos agindo deste ou daquele modo. Por exemplo, mesmo quando falta luz, eu vou lá no interruptor para ascender a lampada e digo "Ah é, faltou luz".
Mas não imagine isso apenas em casos normais como "apertar o interruptor mesmo sabendo que não tem luz". Pensem em coisas grandes. Como reagir sempre de certo modo, diante de alguma situação. Por exemplo, sempre quando estou nervoso acabo coçando muito minha cabeça, como meu pai que puxa os cabelos para trás.
Ou então até reações de aparante "hey não é culpa minha", como de repente ficar de disenteria, só porque amanhã tem uma prova daquelas. A mente e o corpo rapidamente se habituam a qualquer processo repetitivo que tomamos -- mas eu já disse isso não?
Por exemplo, tem pessoas que só se sentem bem num relacionamento, se sofrem com ele. Algumas, só se sentem bem se "mandam" nele, ou outras, que não se sentem bem de jeito nenhum e simplesmente "escapam". Algumas, se sentem melhor sem relacionamento nenhum, e considera que "nunca vai se sentir". Mas até aonde é realmente uma ação consciente, até aonde é uma agência?
Será que não é por simples hábito que se "quer sofrer sem saber", que "quer mandar sabendo que manda", ou que quer "escapar porque, afinal, nunca deu certo, nunca vai dar"? E isso pra qualquer coisa. Largar o fumo, começar a fazer exercício, etc. Eu tenho um problema grave de sempre reagir "raivosamente" quando me constrangem.
Como estar ali cantando e de repente alguém aparece "zombando" da minha cara de bocó. A reação é sempre, "O QUE VOCÊ QUER??? ARRGHH EU SOU UM OGRO!!" Ai o processo mental é o mesmo. Negação, arrependimento, culpa e por fim vou lá pedir desculpas "me desculpeeee", rs.
Quando nós realmente agimos, e não apenas "agirmos conforme nossos (maus) hábitos?". Identificá-los é o começo da saída do processo dele (eu sei que sou um ogro às vezes...). Mas não quer dizer que vai ser moleza deixa de ser um ogro, ou parar de fumar, ou finalmente começar a fazer exercícios. Identificar é o primeiro passo -- indica que somos seres conscientes, ou mais brandamente, "seres capazes de sermos conscientes".
O começo é sempre o primeiro passo. Talvez parar para respirar e simplesmente sorrir, ou se aperceber (outro termo: percepção é um processo empírico; "apercepção" é um processo "hey, eu gosto de laranja porque lembro quando mainha cortava para mim") que "Poxa vida, vou tentar ser diferente desta vez, quem sabe?".
Pois é, quem sabe não dá certo? Depois de identificar um certo processo habitual, simplesmente mudá-lo? Agir de forma diferente da costumeira. Às vezes o melhor é simplesmente sentar, se redescobrir, e tentar.
Abraços!