ASSUNTO CHATO (?)

Meu amigo Carlos Reis, uma mulher não precisa ter ódio ao marido para poder se separar dele. Basta recusar ser maltratada. Basta desistir de continuar morando com ele. Basta não querê-lo mais. O amor não é um sentimento ingênuo. O verdadeiro amor não é cego. O verdadeiro amor não é masoquista, nem sádico, nem sadomasoquista. O verdadeiro amor é lúcido; eu disse isso em outro texto há alguns meses. Mulher não foi feita para ser maltratada. Eu condeno as atitudes de homem que maltrata uma mulher. Eu desejo que todos eles sejam punidos. Isso não é ódio, é desejo de justiça (com amor). Mulher foi feita para receber apenas amor, e esse amor é provado em atos e palavras. O amor não é piegas. Se você odiar, em que você vai se diferenciar dos estúpidos? Meu amigo, “conhecimento sem amor”, me disse uma colega escritora no Recanto das Letras, “é desprezível”. Neste caso, ela está certa.

Conto-lhe alguns casos: certa vez, num encontro de jovens, eu venci uma eleição de outro jovem. Ele ficou irritado com a derrota, e lançou as mãos contra a cadeira em que eu me encontrava. Eu, porém, imediatamente, saí daquele encontro de jovens, e não voltei no dia seguinte. Eu não precisei odiá-lo e pagá-lo com a mesma moeda, pois, mesmo antes de ter esta formação filosófica e geral, eu já sabia que não devemos nos igualar aos estúpidos. Eu garanto que nunca odiei aquele jovem, mesmo nunca concordando com a vontade que ele tinha de ser autoritário.

Certa vez, no Seminário, alguém (com uma faca) saiu atrás de mim. Eu, porém, corri (rs). Hoje, aquele jovem é padre e meu amigo. Não vou revelar o nome dele. Seria desumana e reles (vil) a minha atitude. Outra vez, um senhor que eu respeitava como a um pai, a quem eu dirigia admiração, quis usar a imagem física para me intimidar e me agredir. Nunca mais eu admirei aquele senhor; deixei de conversar com ele. Ele agiu como um animal irracional. Eu não o odeio. Eu o amo, desejo o bem para ele. É simples: não preciso odiar para me opor a ninguém.

Com isso, eu quero destacar que não devemos agir nem reagir com ódio. Eu defendo as minhas ideias com inteligência e racionalidade. Estudo diariamente para ser um homem do bem e conquistar a sabedoria. Eu não uso o ódio para defender o que eu penso. Se você odeia e ensina a odiar, você não está agindo bem consigo mesmo, nem com os outros.

Você inseriu a palavra “holística”. É por isso que eu não posso prescindir da psicologia. O ódio é um sentimento ruim para quem o sente. Eu já disse isso várias vezes, em muitos textos. No texto A HISTÓRIA DO AMOR E DO ÓDIO, eu afirmo: “nem tudo joio, nem tudo trigo”. Por isso, eu não sou o trigo, e você não é o joio, ou vice-versa.

Sei que a Filosofia só existe porque ela é questionamento e discussão, diálogo. No entanto, aceitar a continuação desse debate é uma confissão explícita de que o amor pode não ser algo sempre bom. É reconhecer a suposta importância do ódio “em muitas circunstâncias”.

Eu ensino os meus alunos a questionarem, mas não os ensino a questionarem, por exemplo, o valor inviolável da vida humana, a importância de uma mãe, a importância da dignidade, do respeito a cada pessoa. O que devemos e podemos fazer é refletir sobre isso. Do mesmo modo, não posso concordar com a suposta importância do ódio. Há muitos sofismas. Você os conhece muito bem e os usa. Eu, também, os conheço, mas não os uso. Se você quiser, poderemos debater sobre seu sofisma principal. Eu já o detectei.

Há discursos capazes de convencer os não conhecedores dos sofismas ou pessoas ingênuas. Eu sou contra todos os sofismas. Eu tenho a relação de todos eles e seus mecanismos em muitos livros. O problema não está no amor, mas na falsa imagem que muitos têm dele. Certo dia, na Faculdade, eu, como estudante e aluno, debati com o professor de Introdução à Filosofia sobre a eficácia da democracia. Ele defendia que esta não funciona. Eu defendia o contrário. Os outros alunos ficaram apenas assistindo ao debate entre mim e o professor, que durou uns 20 minutos ou mais. Eu dizia que, assim como o amor, a democracia só funciona se as pessoas forem preparadas para viverem democraticamente. Eu dizia: não devemos dizer que o amor não funciona só porque muitas pessoas não sabem amar. Posso até dizer que o amor é uma utopia, mas jamais direi que o ódio possa ser importante em algum momento.

Portanto, não direi mais nada sobre isso. Não dou importância ao ódio. Eu já escrevi muito e fundamentado. Você, porém, por enquanto, não apresentou nenhum dado histórico sobre a eficácia do ódio em algum momento da história humana. Eu conheço a sua capacidade para querer convencer, para tentar induzir ao ponto que você deseja. Nada do que você me disser, porém, me fará dizer mais alguma coisa.

Sinto muito, amigo! Lamento por você! O ódio é um sentimento que deve ser substituído pelo amor. Estamos em lados opostos. Não estamos apenas discordando. Estamos em oposição. Isso já aconteceu com muitos pensadores na história. Não posso mais continuar dialogando sobre este assunto com você. Respeitosamente, eu assevero: analise tudo o que eu disse sobre o amor. Veja se tem fundamento, e analise também tudo o que você disse até agora. Compare! Eu não apenas escrevi muito, mas mostrei o que muitas pessoas e muitos sábios pensam sobre isso. Mostrei dados históricos. Não penso com a cabeça dos outros. Eu analiso e reconheço o que é bom e o que é mau. O que é bom eu abraço e sigo. O que é mau eu rejeito. Se você deseja escrever um livro sobre este assunto, você escreveu muito pouco até agora. Além disso, ainda não escreveu nada substancial.

Eu não acusei ninguém. Se você defende o ódio, você só pode ser apologista do ódio. Parece-me que você não está bem. Os dicionários mostram o que significa a palavra apologista.

Por favor, se você quiser continuar, continue na sua página. Escreva artigos. Escreva ensaios. Escreva crônicas. Escreva o que você quiser.

Encerrado!

Um conselho: use o equilíbrio! Pense um pouco sobre a justa medida que você já mencionou muitas vezes na sua vida, lembrando Aristóteles. Se você deseja me irritar, saiba que você não vai conseguir. Essa é apenas mais uma suposição sobre a sua insistência.

Chega um momento em que toda discussão se torna chata. Sendo assim, nem a falta da discussão, nem o excesso. Isso lembra Aristóteles. Isso é equilíbrio!

Um abraço!

Saúde!

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 08/08/2014
Reeditado em 08/08/2014
Código do texto: T4914450
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