Não se deprecie, Brasil – parte 2.
 
Essa é a segunda parte do texto iniciado na semana passada. Escreverei agora sobre alguns pontos extracampo relativos a Copa de 2014. Com esse artigo, finalizo uma série de seis aqui publicados, em seqüência, sobre o tema.

Vocês ainda compram revistas em banca? Eu sim. Compro e leio. Sistematicamente. Principalmente essas revistas temáticas e alternativas, tipo a “Leituras da História”, que sempre trazem textos mais específicos sobre a realidade. Na edição número 72 dessa revista, de junho de 2014, há uma matéria muito interessante sobre as copas de 1950 e 2014, com o grande mérito de contextualizar o Brasil em cada um desses anos. Essa perspectiva histórica é um grande serviço para o olhar do presente.

Alguns dados nela inseridos eu já havia trabalhado nos textos anteriores, e o grande ponto por eles expresso é de que o Brasil cresceu, muito. Independente de governos, de ideologias, de partidos políticos, de classes e grupos sociais no poder, nosso país teve um acentuado desenvolvimento que desautoriza a fala dos profetas do apocalipse e dos arautos da desgraça, que tiveram seus púlpitos e palanques anabolizados pelo período da Copa, onde as paixões afloram e a razão costuma soçobrar.

Para contrariedade destes, o Brasil do infortúnio é um ser mitológico, pois o país real é um gigante há muito acordado e que não para de crescer. Em 1950 éramos 52 milhões de brasileiros; em 2014, somos 202 milhões. Esse dado é o fundamental e serve para mensurar os outros indicadores. Como o do PIB per capita: de 920 dólares ao ano em 1950, passou para 11.800 ano em 2014. Mesmo com a população quatro vezes maior, o PIB per capita cresceu onze vezes. Mais: o PIB nacional, de US$ 48 bilhões, foi para US$ 2,083 trilhões. Na Copa de 1950, foram gastos R$ 437 milhões, 410 milhões aplicados na construção do Maracanã; na Copa de 2014, o custo foi de cerca de 28 bilhões de reais.

E, concomitante a esse crescimento econômico, temos os indicadores sociais. Se é verdade que o Brasil ainda tem sérios problemas sociais e que os protestos durante a Copa, logo, tinham sua justa razão de ser, é também fato que muito avançamos nos últimos 64 anos: de 47% de analfabetos, passamos à 8.7%; de 4% de idosos na população acima de 50 anos, agora temos 7.4% na população acima de 65 anos; no consumo anual de sapatos, de 0,7 par/habitante, avançamos para 4,4 pares/habitante; de 252 mil automóveis (1 carro para 206 habitantes), hoje temos uma frota de 45,4 milhões de automóveis (1 carro para 4,4 habitantes). Ainda temos graves desigualdades sociais, fruto de nossa péssima distribuição de renda; todavia, avançamos muito.

A Copa do Mundo do Brasil de 2014, avaliada estritamente enquanto mega-evento esportivo, foi um sucesso. Tal avaliação é proveniente de várias manifestações de turistas e jornalistas estrangeiros nela presentes. Inclusive dos insuspeitos argentinos. O caos que os videntes do fracasso vituperavam que iria ocorrer principalmente na segurança e nos aeroportos configurou-se numa enorme e retumbante “barriga jornalística”, constrangimento só igualado àquele patrocinado por nossa elite social, gritando palavrões contra a presidente nos estádios. Esse, pelo menos, teve o mérito de desconstituir o mito de que “educação vem de berço”: sim, minha gente, quem tem muita grana também é boca $uja e se comporta de forma vulgar em público.

O Brasil é um grande país, não há mais espaço para o tal complexo de vira-latas. O espaço que existe é o da luta por um pais com mais igualdade social. A Copa de 2014 trouxe isso à tona.


Texto publicado na seção de Opinião do jornal Portal de Notícias: 
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