A MÚSICA COMO FORMA DE MANIPULAÇÃO SOCIAL

A MÚSICA COMO FORMA DE MANIPULAÇÃO SOCIAL

Jorge Linhaça

Tenho tentado, em vão, combater a praga da mediocridade musical por anos a fio, mas me parece que a acefalia crônica tomou conta de uma população emburrecida por décadas de descaso com a educação pública e por demais generosa com redes de rádio e televisão que sirvam a interesses de governantes que desejam manter a população à sua mercê.

Não coincidentemente, quando a população de baixa renda, finalmente tem facilitado o seu acesso aos cursos técnicos, faculdades e universidades por uma política educacional (ainda longe do ideal, mas muitos anos luz à frente das anteriores), a mídia , no geral, principalmente a grande mídia, aumentou a exposição de toda a espécie de lixo musical em detrimento da boa música.

É preciso ir além da percepção de que se trata apenas de um mau gosto exacerbado ou de uma necessidade de faturar alto, é preciso perceber que a expansão desse tipo de pseudos-musicalidade atende a interesses de segmentos da sociedade que sentem-se ameaçados pelo modesto avanço na educação superior em Terra Brasilis.

Se não há como evitar que alunos de classes "inferiores" frequentem os bancos da universidade, é preciso deixa-los burros, antes e durante esse acesso, através da música e de suas mensagens subliminares de que drogas, sexo e bebedeiras são sinônimos de felicidade.

Para muitos, interessa a política do pão e circo para manter o "status quo" auferido ao longo de décadas (menos por mérito e mais por herança econômica).

Imagino o que se passa na cabeça de alguns senhores e senhoras quando percebem que seus filhos " de fino trato" dividem os bancos de universidades públicas e privadas com os filhos de motoristas, jardineiros, pedreiros, catadores de material reciclável, etc...Com os quais disputarão , adiante, uma vaga no mercado de trabalho.

A deturpação de tudo que diz respeito à "moral e os bons costumes" é diretamente proporcional aos avanços das classes mais modestas em direção às classes mais privilegiadas.

E , ao contrário do que muitos possam alegar, o contágio não vem de baixo para cima, mas de cima para baixo, pois os menos abastados não tem como impor uma grade de programação às emissoras. O que acontece é que existem os que se aproveitam do apelo popular de determinadas MM ( Músicas Medíocres) para manter as favelas dentro dos homens e evitar que os homens saiam das favelas.

E não vai aqui nenhum demérito a quem more em favelas, no que diz respeito à comotação enquanto habitação, favela aqui se refere à miséria de autoestima, à miséria de educação, de cultura, de conhecimento, de sonhos. Nesse sentido, existem muitos favelados morando em coberturas e dirigindo carrões importados, com suas contas bancárias bem recheadas.

Tirar o homem da favela física é questão muito mais fácil de ser resolvida do que tirá-lo da favela interior que se apossa das almas e mentes humanas. Assim como mantê-los nesse estado de semiconsciência requer um mínimo de esforço e ainda gera lucros para os espertalhões de plantão e para alguns “laranjas” que acreditam que esse tipo de “música” é uma manifestação cultural espontânea e que seja uma “resposta do povo mais pobre” às imposições de uma música de ricos.

Reflitamos por um instante:

O que o Funk, a axé music, o pagode baiano, o arrocha, e o sertanejo universitário acrescentam à cultura? Bebedeira, orgias sexuais, uso de drogas, o sentimento de que tudo é lícito e nada é inconveniente.

Foi-se o tempo em que as músicas e letras traziam uma mensagem positiva sobre o que quer que seja, foi-se o tempo em que a música divulgada na mídia, fazia as pessoas pensarem sobre a sociedade, sobre as condições de vida, ou, ao menos, não incitavam ao que de mais baixo a alma humana possa produzir. A música midiática contemporânea não é uma expressão cultural, pelo contrário, é um desserviço à cultura e à sociedade. É uma ferramenta para involuir o ser humano à condição de bestialidade.

Em um país onde se fecham orquestras sinfônicas e filarmônicas por falta de verbas públicas enquanto governantes, DE TODOS OS PARTIDOS, pagam milhões para “artistas”, abaixo do medíocre, animarem aniversários de cidades, festas de fim de ano, e outras semelhantes, não pode ser levado a sério, por mais que figure entre os emergentes.

Depois, hipocritamente, vejo pessoas reclamando que o Brasil é visto lá fora como destino certo para o turismo sexual e para a pedofilia. De quem é a culpa?

É sua! Sua porque não se manifesta contra essa bandalheira, sua porque aceita tudo que a Globo e outras emissoras impõem como gosto musical, sua porque acredita que beber e transar indiscriminadamente é bonito e faz de você mais homem ou mulher.

É sua porque se cala, porque desistiu de pensar, de analisar os fatos e prefere receber tudo digerido como um filhote de passarinho que aceita goela abaixo o que lhe oferecem.

Será por caso que esse tipo de música “explode” a partir de guetos e favelas para depois se espalhar pela classe média? Será por acaso que os traficantes e o crime organizado financiem esses tipos de bailes e shows?

E você aí babando que nem um tonto, olhando para bundas e coxas, ou barrigas de tanquinho e coreografias do mais baixo nível, sonhando com “poposudas”, “saradões” e “safadões”.