DIÁRIO DE UM ADOLESCENTE

Diário de um adolescente.

Não sei que dia é hoje, que horas são, não tem relógio no meu quarto.

Estou cansado de nada ter pra fazer, a não ser que eu seja igual aos outros.

Acordei no meio da noite, todo molhado, tentando entender o que aconteceu. Fui procurar na internet e disseram que pode ser espermatorreia ou polução. Disseram que é fase etática, e que músicas, filmes ou certas cenas de novelas também ocasionam isso.

Meu corpo está mudando drasticamente e eu não estou sabendo lidar muito bem com isso. Há um desequilíbrio em meu interior.

Meus pais são um pouco tímidos, não conseguem conversar comigo sobre certos assuntos. Ultimamente, minha fonte de confissão tem sido o travesseiro ou um espelho, mas eu não estou a fim de ver meu rosto, a não ser depois que escurecer, e fico um bom tempo debaixo da cama.

Na escola, as conversas que eles conversam me deixam desambientado. Um certo pudor e rubor me rodeiam, e confesso-lhe que é muito difícil lidar com isso. Talvez eu vá à igreja hoje à noite, mas as igrejas não abrem todos os dias e tem momento que não dá pra esperar, e além do mais é sempre a mesma ladainha.

Me disseram que há certas substâncias que relaxam e diminuem a tensão desta fase tão conturbada, onde cada um lida de uma forma com ela. Talvez eu experimente qualquer dia desses, mas disseram que pode levar ao vício e à necessidade de outras substâncias.

Dizem que há um bordel na cidade e garotas de programa que podem me ajudar a liberar minhas energias, mas será que só porque meu pênis fica ereto eu devo e posso sair por aí, atendendo a esse impulso de qualquer forma?

Que horas são, afinal de contas?

Existe a hora certa pra tudo ou tudo tem a hora certa?

Será que as meninas sentem o mesmo que eu?

Certo dia desses o jeito de um garoto me chamou a atenção; achei-o bonito. Será que eu gosto de meninos?

Ouço, às vezes, falar de Deus, mas tenho a impressão nítida de que ele está tão longe e não olha pra mim. Procurei Deus na Internet e tinha inúmeros artigos, opiniões, mas nenhum deles me mostrou onde ele está ou se esconde. Talvez eu não o encontrei porque ele está em toda parte, como disse um texto; ele é onipresente.

Meus conflitos, rasuram-me e tenho muita dificuldade de me entender. Sou como um vaso de um oleiro, mas não sei quem é que me molda. Talvez sejam as circunstâncias.

São quantas horas, hein? Alguém pode me responder, por favor?

Quem inventou o tempo?

Quem descobriu a vida?

Quem sou eu?

Quem é você?

Você se conhece?

Você me conhece?

As nuvens correm pelo céu e somem, ou se juntam a outras, perdendo sua identidade. Eu não estou a fim de perder minha identidade, a não ser que isso seja necessário para me fazer feliz, porque o que eu quero é ser feliz, sem mescla, sem medo, sem anseio, sem conturbação.

Talvez eu compre uma moto mês que vem com aquele dinheiro que meu pai me deu. Naquele dia eu não queria dinheiro, eu só queria um pouco de atenção dele e que ele me explicasse certas coisas, como os pelos surgindo em meu corpo, a mudança da voz, a coisas que ouço diariamente alguém dizer por aí, mas meu pai sempre está com pressa dizendo que ele se preocupa muito com meu futuro, e minha mãe está sempre preocupada com festas para as amigas, chás, passeios, viagens, e eu não me vejo participando da vida deles, talvez sejam eles que não participam da minha.

Os rostos que vejo nas ruas tem algo de familiar, mas são estranhos para mim. Tenho centenas de amigos nas redes sociais, mas eles nunca vieram em minha casa,e por mais que eu queira, não me sinto seguro com a presença da tela do computador, cheia de amigos. Tudo parece me conduzir ao total niilismo.

A possibilidade de se ter uma amnésia me agrada, esquecer de tudo, viver apenas o momento, mas ele é tão vazio, às vezes...

Quando eu for um homem de verdade, desses que falam grosso, saem com várias mulheres, dirigem alopradamente, bebem, ganham muito dinheiro, talvez eu seja feliz, mas se eu não quiser ser assim, meu Deus?

A brisa perpassa a cortina de meu quarto e toca meu rosto, suavemente. Por um breve instante senti algo bom em mim, uma certa tranqüilidade. Queria estar assim pra sempre, mas o sempre nem sempre dura para sempre, ele, um dia, tem um fim, e eu não sei qual o fim de tudo,

O fim do mundo,

O fim da estrada,

O fim da jornada,

O fio da meada,

Os fios que seguem juntos se encontram em algum lugar...

Ouço uma música no rádio que fala de Planeta Terra, do sol, de Cristo... São tantas coisas que eu não entendo.

Puxa, vida! Já deve estar na hora de dormir, vou dar boa noite aos meus pais, mas acho que eles já se dormiram, também que diferença faz.

Já são quase..., deixe-me ver, duas da madrugada. Amanhã é um novo dia, com as mesmas dúvidas, as mesmas pessoas, os mesmos pais, o mesmo país, as mesmas pessoas, e quanto a mim, continuo o mesmo, o mesmo bobo de sempre. Não sei nem porque é que escrevo essas coisas, como se alguém um dia fosse ler...